quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A missão da lâmpada é iluminar



Leitura Orante
Mc 4,21-25


Jesus dizia-lhes: "Será que a lâmpada vem para ficar debaixo de uma caixa ou debaixo da cama? Pelo contrário, não é ela posta no candelabro? De fato, nada há de escondido que não venha a ser descoberto; e nada acontece em segredo que não venha a se tornar público. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!" Jesus dizia-lhes: "Considerai bem o que ouvis! A medida que usardes para os outros, servirá também para vós, e vos será acrescentado ainda mais. A quem tem, será dado; e a quem não tem, será tirado até o que tem".


Jesus, Luz do mundo, não pode ficar escondido

Nosso texto se apresenta como duas pequenas unidades literárias: vv. 21-23 e 24-25, e se refere à parábola precedente. Em Jo 5,35 nós lemos: "João foi a lâmpada que se acende e brilha". A luz é símbolo tanto do profeta como de sua palavra luminosa. Jesus é a "luz dos homens" (Jo 1,15ss), a "luz do mundo" (Jo 8,12), assim como os discípulos (Mt 5,14-16). A luz simboliza a pessoa e a sua doutrina. Se admitirmos que Jesus faz referência a si mesmo, podemos compreender que o que ele é não pode ficar escondido, mas se revela nos seus gestos e palavras. Em tudo o que Jesus faz se manifesta o Reino de Deus. A segunda unidade começa com um alerta: os ouvintes devem prestar bem atenção ao que ouvem. É um convite a uma compreensão profunda (das parábolas) para não fazer um juízo equivocado. O que é dado por Deus é para produzir frutos.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A parábola da semente



Leitura Orante
Mc 4,1-20


Jesus entrou num barco e sentou-se, enquanto a multidão ficava em terra, à beira-mar. Ele se pôs a ensinar-lhes muitas coisas em parábolas. Dizia-lhes: "Escutai! O semeador saiu a semear. Ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e os passarinhos vieram e comeram. Outra parte caiu em terreno cheio de pedras, [...] brotou logo [...], mas quando o sol saiu, a semente se queimou e secou, porque não tinha raízes. Outra parte caiu no meio dos espinhos; estes cresceram e a sufocaram, e por isso não deu fruto. E outras sementes caíram em terra boa; brotaram, cresceram e deram frutos: trinta, sessenta e até cem por um". [...]. Quando ficaram a sós, os que estavam com ele junto com os Doze faziam perguntas sobre as parábolas. Ele dizia-lhes: [...] O semeador semeia a palavra. Os da beira do caminho são os que a ouvem, mas logo vem Satanás e arranca a palavra semeada neles. Os do terreno cheio de pedras são os que, ao ouvirem a palavra, a recebem com alegria, mas chegando tribulação ou perseguição, desistem logo. Outros ainda, semeados entre os espinhos: são os que ouvem a palavra, mas quando surgem as preocupações do mundo, a palavra é sufocada e fica sem fruto. E os que foram semeados em terra boa são os que ouvem a palavra e a acolhem, e produzem frutos: trinta, sessenta e cem por um".

Deus faz distinção de pessoas?

O texto pode ser dividido, fundamentalmente, em duas partes, a parábola (vv. 1-9) e a explicação da parábola (vv. 10-20). Parece-nos razoável pensar, ainda que não tenhamos acesso ao contexto originário, que a parábola tenha sido contada para responder a uma dificuldade: Deus faz distinção de pessoas? Por que a Palavra de Deus produz frutos em uns e em outros não? Pela parábola, Deus concede sua Palavra a todos indistintamente. A profundidade da acolhida é que permitirá à Palavra de Deus produzir em nós os seus frutos. A explicação é posterior à parábola e dispensa comentários.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Como ser da família de Deus



Leitura Orante
Mc 3,31-35


Nisso chegaram a mãe e os irmãos de Jesus. Ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo. Ao seu redor estava sentada muita gente. Disseram-lhe: "Tua mãe e teus irmãos e irmãs estão lá fora e te procuram". Ele respondeu: "Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?" E passando o olhar sobre os que estavam sentados ao seu redor, disse: "Eis minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe".

A comunidade de Jesus

Marcos não tem nenhuma mariologia desenvolvida, o que virá nos escritos posteriores da tradição cristã. Maria e os parentes de Jesus vão buscá-lo, pois eles também pensavam que Jesus estivesse fora de si: "E voltou para casa. E, de novo, a multidão se apinhou, a ponto de não poderem se alimentar. Quando os seus tomaram conhecimento disso, saíram para detê-lo, pois diziam: está fora de si" (Mc 3,20-21). Efetivamente, os que estão "do lado de fora" (Mc 3,31) não podem compreender a missão e a identidade de Jesus. Tudo parece loucura. Os que ele reúne, os "que estão ao redor dele" (3,34), são os que compreendem, e para eles as palavras e os gestos de Jesus não só têm sentido, mas dão sentido à vida. A comunidade dos discípulos é caracterizada não mais pela descendência do sangue, mas pela adesão à pessoa de Jesus Cristo, e pelo dinamismo da busca e realização da vontade de Deus.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Jesus fala em parábolas



Leitura Orante
Mc 3,22-30


Os escribas vindos de Jerusalém diziam que ele estava possuído por Beelzebu e expulsava os demônios pelo poder do chefe dos demônios. Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas: "Como pode Satanás expulsar Satanás? Se um reino se divide internamente, ele não consegue manter-se. Se uma família se divide internamente, ela não consegue manter-se. Assim também, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, ele não consegue manter-se, mas se acaba. Além disso, ninguém pode entrar na casa de um homem forte para saquear seus bens, sem antes amarrá-lo; só depois poderá saquear a sua casa. Em verdade, vos digo: tudo será perdoado às pessoas, tanto os pecados como as blasfêmias que tiverem proferido. Aquele, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado; será réu de um 'pecado eterno'". Isso, porque diziam: "Ele tem um espírito impuro".

Jesus age com o poder do Espírito Santo

Para os contemporâneos de Jesus, era desconcertante o que ele ensinava e fazia. Esse desconcerto faz o narrador dizer que os escribas pensavam que ele estava possuído por Beelzebu e que a ação pela qual Jesus libertava as pessoas de seus males era do demônio (v. 22). O ouvinte ou o leitor do evangelho sabe, nós o sabemos, que Jesus é revestido e conduzido pelo Espírito (Mc 1,9-13). Ademais, ninguém podia fazer o que ele fazia, se Deus não estivesse com ele (cf. Jo 9,33). Portanto, a percepção dos escribas é equivocada e, ela sim, é portadora do mal. A blasfêmia contra o Espírito Santo consiste em sustentar que Jesus, que expulsa os demônios pela força do Espírito Santo, tem um espírito impuro; nisto, precisamente, está a maledicência. Olhando de outro ponto de vista, o texto é um convite ao ouvinte e ao leitor a reconhecer em tudo o que Jesus faz a presença do Espírito Santo.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

"Ide e anunciai a Boa-Nova a toda criatura!"



Leitura Orante
Mc 16,15-18


E disse-lhes: "Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. Eis os sinais que acompanharão aqueles que crerem: expulsarão demônios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes e beberem veneno mortal, não lhes fará mal algum; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, estes ficarão curados".

Paulo, apóstolo dos gentios


"Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura" (v. 15). São Paulo é considerado o Apóstolo dos Gentios. Com ele o evangelho ultrapassou as fronteiras da terra de Israel para ganhar o mundo. De perseguidor da Igreja, tornou-se discípulo de Jesus Cristo.
O acontecido com Paulo no caminho de Damasco provocou uma transformação radical em sua vida: "Sou agradecido para com aquele que me deu força, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me julgou fiel, tomado-me para o seu serviço, a mim que, outrora, era blasfemo, perseguidor e insolente. Mas obtive misericórdia porque agi por ignorância, na incredulidade." (1Tm 1,12-13). Paulo não interpreta o acontecido no caminho de Damasco com o termo conversão, mas diz ter sido uma "revelação". Na carta aos Gálatas, ele descreve a mudança radical da sua vida desta maneira: "Eu não recebi o evangelho de ninguém, e ninguém me ensinou, mas foi uma revelação de Jesus Cristo" (Gl 1,12). A Luz que o cegou para, depois, fazê-lo ver com clareza, ele a relaciona com o Deus único revelado a Israel (cf. 1Tm 6,16).

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Muita gente procura Jesus


Leitura Orante
Mc 3,7-12

Jesus, então, com seus discípulos, retirou-se em direção ao lago, e uma grande multidão da Galileia o seguia. Também veio a ele muita gente da Judeia e de Jerusalém, da Idumeia e de além do Jordão, e até da região de Tiro e Sidônia, porque ouviram dizer quanta coisa ele fazia. Ele disse aos discípulos que providenciassem um barquinho para ele, a fim de que a multidão não o apertasse. Pois, como tivesse curado a muitos, aqueles que tinham doenças se atiravam sobre ele para tocá-lo. E os espíritos impuros, ao vê-lo, caíam a seus pés, gritando: "Tu és o Filho de Deus". Mas ele os repreendeu, proibindo que manifestassem quem ele era.

Perspectiva universal da missão de Jesus


Trata-se de um sumário que, ao mesmo tempo, sintetiza e amplia a atividade de Jesus. Jerusalém não é o centro das atenções, mas a Galileia e, mais especificamente, a região do Lago de Genesaré. De todas as partes as pessoas acorrem a Jesus: da Judeia e de Jerusalém, da Idumeia e de além do Jordão, e até de Tiro e Sidônia (v. 8), além de uma grande multidão da Galileia (v. 7). Há, aqui, uma perspectiva universal da missão de Jesus: não somente os judeus, mas também os pagãos são atraídos pela fama de Jesus. Mas o que atraía essa numerosa multidão? O nosso texto genericamente responde: "quanta coisa ele fazia" (v. 8). Nessa expressão deve-se compreender o conjunto dos gestos e do ensinamento de Jesus. O sumário é, ainda, a ocasião de apresentar a agitação dos "espíritos imundos" que reconhecem o poder divino de Jesus pelo qual são e serão vencidos: "ele os repreendeu" (v. 12). Aparece ainda o tema marcano do segredo messiânico (v. 12: "proibindo que manifestassem quem ele era"), que já comentamos antes.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O bem ou o mal no sábado?


Leitura Orante
Mc 3,1-6


Outra vez, Jesus entrou na sinagoga, e lá estava um homem com a mão seca. Eles observavam se o curaria num dia de sábado, a fim de acusá-lo. Jesus disse ao homem da mão seca: "Levanta-te! Vem para o meio!" E perguntou-lhes: "Em dia de sábado, o que é permitido: fazer o bem ou fazer o mal, salvar uma vida ou matar?" Eles ficaram calados. Passando sobre eles um olhar irado, e entristecido pela dureza de seus corações, disse ao homem: "Estende a mão!" Ele estendeu a mão, que ficou curada. Saindo daí, imediatamente os fariseus, com os herodianos, tomaram a decisão de eliminar Jesus.

Importa fazer o bem, salvar a vida

É a última perícope das "controvérsias galileanas". Permanece o sábado como unidade de tempo, que continua a ser objeto importante de desacordo e distância entre Jesus e seus opositores. Parece que o "eles" do versículo 2 sejam os fariseus e os herodianos (cf. v. 6). Para eles fazer o bem no dia de sábado é não fazer; para Jesus, ao contrário, fazer o bem é agir em favor do outro, libertá-lo de suas amarras, e não fazer nada é fazer o mal, pois não existe alternativa neutra: "Em dia de sábado, o que é permitido: fazer o bem ou fazer o mal, salvar uma vida ou matar?" Talvez a indiferença dos que o acusavam ("ficaram calados") é que tenha levado o narrador a concluir que a causa da distorção na interpretação da lei do descanso sabático seja a "dureza de coração" (v. 5). Aparece, aqui, no final das controvérsias galileanas o desejo de matar Jesus. Desde o início do evangelho de Marcos, o ouvinte ou leitor do evangelho sabe que a interpretação e a consequente prática da lei foi um dos motivos da condenação e morte de Jesus. O outro motivo será a "inveja" (Mc 15,10). A antecipação do motivo da condenação e morte de Jesus, no início do evangelho, fez com que muitos comentaristas considerassem o evangelho de Marcos um grande relato da paixão.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Tudo é de Deus


Leitura Orante
Mc 2,23-28


Certo sábado, Jesus estava passando pelas plantações de trigo, e os discípulos começaram a abrir caminho, arrancando espigas. Os fariseus disseram então a Jesus: "Olha! Por que eles fazem no dia de sábado o que não é permitido?" Ele respondeu: "Nunca lestes o que fez Davi quando passou necessidade e teve fome, e seus companheiros também? Ele entrou na casa de Deus, no tempo em que Abiatar era sumo sacerdote, comeu os pães da oferenda, que só os sacerdotes podem comer, e ainda os deu aos seus companheiros!" E acrescentou: "O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado. Deste modo, o Filho do Homem é Senhor também do sábado".

O sábado é dom de Deus

Uma vez mais, o sábado, e mais propriamente o descanso sabático, está no centro da controvérsia. "Por que eles (os discípulos) fazem no dia de sábado o que não é permitido?" (v. 24). Mas o que é permitido? Fazer o bem ou o mal, salvar uma vida ou perdê-la? (cf. Mc 3,4). A cena se passa numa plantação de trigo. Segundo os fariseus, era proibido arrancar as espigas de trigo no dia de sábado. Ora, a Torá autoriza a colheita de espigas, contanto que não se utilize uma foice: "Se entras nos trigais do teu próximo, poderás arrancar espigas com as mãos, mas não farás passar a foice na messe do teu próximo" (Dt 23,26). Jesus responde à objeção recorrendo ao exemplo de Davi (1Sm 21,1-10). A fome e a necessidade de manterem em boas condições a vida justificam a atitude de Davi. Trata-se de um exemplo de peso que justifica e ilustra a defesa de Jesus a seus discípulos. Os versículos 27 e 28, que concluem a controvérsia, lembram que o sábado é dom de Deus (Ex 16,29), tempo de recordar a escravidão e a libertação do Egito (cf. Dt 5,15). Por isso, o sábado é para o "Filho do Homem" tempo privilegiado de manifestação de seu poder salvador, poder de dar a vida, de fazer viver.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Anúncio de tempos novos


 Leitura Orante
Mc 2,18-22

Os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando. Vieram então perguntar a Jesus: "Por que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus discípulos não jejuam?" Jesus respondeu: "Acaso os convidados do casamento podem jejuar enquanto o noivo está com eles? Enquanto o noivo está com eles, os convidados não podem jejuar. Dias virão em que o noivo lhes será tirado. Então, naquele dia jejuarão. Ninguém costura remendo de pano novo em roupa velha; senão, o remendo novo repuxa o pano velho, e o rasgão fica maior ainda. Ninguém põe vinho novo em odres velhos, senão, o vinho arrebenta os odres, e perdem-se o vinho e os odres. Mas, vinho novo em odres novos!"

Reintrepretação da prática do jejum

O tema da controvérsia é o jejum. Os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando e os discípulos de Jesus, não. No evangelho segundo Marcos, nós não temos nenhuma notícia sobre a prática do jejum dos fariseus e dos discípulos de João. Lucas é quem nos informa que os fariseus jejuavam duas vezes por semana (Lc 18,12). O livro do Levítico prescreve o jejum para "o dia do perdão" (Lv 16,29-30). É bastante provável que se trate, aqui, de uma prática ascética individual, atestada na Escritura (2Sm 12,21; 1Rs 21,27 etc.), e que se visava estender a todas as pessoas. Seja como for, o nosso texto dá ao jejum um caráter cristológico: é em relação a Cristo, o esposo, que o jejum deve ou não ser praticado. Há, aqui, uma antecipação da paixão e morte de Jesus: "Dias virão em que o noivo lhes será tirado" (v. 20). As duas parábolas (vv. 21.22) de caráter sapiencial apontam para a incompatibilidade entre o novo trazido por Jesus e a rigidez e estreiteza de visão representada, sobretudo, pelos fariseus. O jejum não é abolido, mas reinterpretado, o que implica uma nova prática.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Jesus curou e perdoou



Leitura Orante
Mc 2,1-12


Jesus passou por Cafarnaum, e espalhou-se a notícia de que ele estava em casa. Ajuntou-se tanta gente que não havia mais lugar. Jesus dirigia-lhes a palavra. Trouxeram-lhe um paralítico, carregado por quatro homens. Como não conseguiam apresentá-lo a ele, por causa da multidão, abriram o teto e, pelo buraco, desceram a maca do o paralítico. Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: "Filho, os teus pecados são perdoados". Alguns escribas pensavam: "Como pode ele falar deste modo? Está blasfemando. Só Deus pode perdoar pecados!"Jesus disse-lhes: "Por que pensais assim? Que é mais fácil, dizer ao paralítico: 'Os teus pecados são perdoados', ou: 'Levanta-te, pega a tua maca e anda'? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem poder para perdoar pecados - disse ao paralítico: levanta-te, pega a tua maca e vai para casa!" O paralítico se levantou e saiu carregando a maca. Todos ficaram admirados e louvavam a Deus dizendo: "Nunca vimos coisa igual!"

Dificuldades da missão

Com o texto de hoje tem início o que chamamos, no evangelho de Marcos, as "controvérsias galileanas" (Mc 2,1-3,6), que devem ser compreendidas como disputas, dificuldades e oposições com as quais Jesus se deparou na realização de sua missão. Em geral, as dificuldades provinham da interpretação e da consequente prática da Lei. Quem pode perdoar os pecados, a não ser Deus? Os escribas têm razão, pois "só Deus pode perdoar pecados". Jesus, no entanto, não disse outra coisa ao afirmar ao paralítico "os teus pecados são perdoados". O passivo divino revela que o sujeito da ação de perdoar é Deus. Mas como parte da aliança nova, em que a lei será posta no fundo do ser e escrita no coração (cf. Jr 31,33), está o perdão de toda culpa (Jr 31,34). Jesus sente-se investido desse poder. A fé dos quatro homens que carregavam o paralítico provoca a reação de Jesus. Eles parecem representar os discípulos, cuja missão é conduzir as pessoas ao Senhor e suplicar por elas. Deus é bom para com todos.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Jesus "encheu-se de compaixão"


Leitura Orante
Mc 1,40-45


Um leproso aproximou-se de Jesus e, de joelhos, suplicava-lhe: "Se queres, tens o poder de purificar-me!" Jesus encheu-se de compaixão, e estendendo a mão sobre ele, o tocou, dizendo: "Eu quero, fica purificado". Imediatamente a lepra desapareceu, e ele ficou purificado. Jesus, com severidade, despediu-o e recomendou-lhe: "Não contes nada a ninguém! Mas vai mostrar-te ao sacerdote e apresenta, por tua purificação, a oferenda prescrita por Moisés. Isso lhes servirá de testemunho". Ele, porém, assim que partiu, começou a proclamar e a divulgar muito este acontecimento, de modo que Jesus já não podia entrar, publicamente, na cidade. Ele ficava fora, em lugares desertos, mas de toda parte vinham a ele.

O segredo messiânico

No último dia 11, já apontamos a gravidade religiosa da lepra e como ela era tratada pelo sistema judaico de pureza.
Se no texto paralelo ao de hoje, a saber, Lc 5,12-16, é o narrador quem diz da recomendação de Jesus de que o homem purificado não dissesse nada a ninguém, em Marcos é o próprio Jesus quem toma a palavra: "Não contes nada a ninguém.". Com isso estamos diante de uma das características do segundo evangelho: o "segredo messiânico". Esse recurso teológico-literário tem uma dupla finalidade: a) permitir que o ouvinte ou leitor do evangelho responda, ele mesmo, à pergunta central do evangelho segundo Marcos: "quem é Jesus?"; resposta que só pode ser dada ao fim da narração evangélica; b) não identificar Jesus com qualquer corrente messiânica do seu tempo, mas manter o ouvinte aberto à novidade de Jesus Cristo. Não obstante a recomendação, a fama de Jesus se espalha. Ele não é o promotor de sua fama, ao contrário, "ficava fora, em lugares desertos, mas de toda parte vinham a ele".

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Proclamação da Boa-Nova



Mc 1,29-39
Logo que saíram da sinagoga, foram com Tiago e João para a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama, com febre, e logo falaram dela a Jesus. Ele aproximou-se e, tomando-a pela mão, levantou-a; a febre a deixou, e ela se pôs a servi-los. Ao anoitecer, depois do pôr do sol, levavam a Jesus todos os doentes e os que tinham demônios. A cidade inteira se ajuntou à porta da casa. Ele curou muitos que sofriam de diversas enfermidades; expulsou também muitos demônios, e não lhes permitia falar, porque sabiam quem ele era. De madrugada, quando ainda estava bem escuro, Jesus se levantou e saiu rumo a um lugar deserto. Lá, ele orava. Simão e os que estavam com ele se puseram a procurá-lo. E quando o encontraram, disseram-lhe: "Todos te procuram". Jesus respondeu: "Vamos a outros lugares, nas aldeias da redondeza, a fim de que, lá também, eu proclame a Boa-Nova. Pois foi para isso que eu saí". E foi proclamando nas sinagogas por toda a Galileia, e expulsava os demônios.

Toda a vida humana é lugar da atuação do Senhor


Nosso texto deve ser dividido em duas partes: cura da sogra de Pedro (vv. 29-31) e sumário (vv. 32-39).
Do lugar público (sinagoga), Jesus se desloca para a casa de Simão e André, acompanhado dos outros dois discípulos, Tiago e João. Os discípulos são testemunhas oculares de tudo o que Jesus fez e ensinou. Todo âmbito da vida humana é lugar da atuação do Senhor: o público (sinagoga de Cafarnaum) e o privado (casa de Simão Pedro). Falaram a ele do mal da sogra de Pedro: a febre. Informado, ele toma a iniciativa de curá-la. A cura se dá pelo gesto simbólico de tomar pela mão, que pode ser compreendido como gesto de transmissão de força e como gesto pelo qual se desperta alguém do sono, que, em várias passagens da Sagrada Escritura, é símbolo da morte. O gesto de Jesus tira a sogra de Pedro da sua situação de enfermidade e a põe em pé, em condições de servir e celebrar o descanso sabático.
O sumário, por sua vez, tem por finalidade ampliar hiperbolicamente a atividade e o sucesso da atuação de Jesus sobre o mal.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Um ensinamento com autoridade






Leitura Orante
Mc 1,21b-28



No sábado, Jesus foi à sinagoga e pôs-se a ensinar. Todos ficaram admirados com seu ensinamento, pois ele os ensinava como quem tem autoridade, não como os escribas. Entre eles na sinagoga estava um homem com um espírito impuro; ele gritava: "Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: o Santo de Deus!" Jesus o repreendeu: "Cala-te, sai dele!" O espírito impuro sacudiu o homem com violência, deu um forte grito e saiu. Todos ficaram admirados e perguntavam uns aos outros: "Que é isto? Um ensinamento novo, e com autoridade: ele dá ordens até aos espíritos impuros, e eles lhe obedecem!" E sua fama se espalhou rapidamente por toda a região da Galileia.

Um sopro de vida nova

Um dos traços característicos do Jesus apresentado por Marcos é que ele ensina. O seu ensinamento é novo e feito com autoridade. Como nós teremos a oportunidade de ver, o seu ensinamento é novo porque ele representa uma nova interpretação da Lei que liberta o ser humano para a vida, e na qual é desvelado o rosto misericordioso de Deus. A autoridade do seu ensinamento, grosso modo, é a sua coerência interna, e porque ele comunica um "sopro" de vida. Jesus é apresentado como um judeu piedoso. O sábado, dia de repouso para celebrar a obra de Deus na criação e na libertação do seu povo da escravidão do Egito, é o dia em que se manifesta o poder do Senhor sobre o mal. Esta é a finalidade do nosso relato: apresentar Jesus como vitorioso sobre o mal. Se o mal procura se esconder na sombra, a presença daquele que é a "Luz do mundo", o "Santo de Deus", desvela, para destruí-lo, o mal presente no ser humano e que o desfigura.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013




Convertei-vos e crede na Boa-Nova


Mc 1,14-20


Depois que João foi preso, Jesus veio para a Galileia, proclamando a Boa-Nova de Deus: "Completou-se o tempo, e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede na Boa-Nova". Caminhando à beira do mar da Galileia, Jesus viu Simão e o irmão deste, André, lançando as redes ao mar, pois eram pescadores. Então lhes: "Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens". E eles, imediatamente, deixaram as redes e o seguiram. Prosseguindo um pouco adiante, viu também Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão, João, consertando as redes no barco. Imediatamente, Jesus os chamou. E eles, deixando o pai Zebedeu no barco com os empregados, puseram-se a seguir Jesus.

Conversão é fé no Evangelho

No início do ministério público de Jesus, segundo Marcos, há um apelo: "convertei-vos e crede na Boa-Nova (o evangelho)". A conversão é necessária para acolher e reconhecer o Reino de Deus que, em Jesus, se fez próximo de nossa humanidade. A conversão não se confunde com um sentimento; ela é fé no evangelho, confiança na Boa-Nova que Jesus anuncia por gestos e palavras; confiança na própria pessoa de Jesus, que é a Boa-Notícia de Deus para todos.
O relato do chamado dos quatro primeiros discípulos apresenta a participação destes na missão de Jesus. Se o chamado, iniciativa de Jesus, é feito no presente, "segui-me", a missão é dita para o futuro: "... farei de vós pescadores de homens". Entre um e outro há o discipulado, tempo do aprendizado, da escuta, do exercício da liberdade interior, pois é preciso desapego para seguir o Senhor; é preciso deixar os laços afetivos e com as demais coisas ("deixaram as redes e o seguiram"; "deixando o pai Zebedeu no barco com os empregados, puseram-se a seguir Jesus").

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Os olhos de todos estavam fixos em Jesus



Leitura Orante
Lc 4,14-22a


Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua fama se espalhou por toda a região. Ele ensinava nas sinagogas deles, e todos o elogiavam. Foi então a Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, no dia de sábado, foi à sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, encontrou o lugar onde está escrito: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu, para anunciar a Boa-Nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano aceito da parte do Senhor". Depois, fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Os olhos de todos, na sinagoga, estavam fixos nele. Então, começou a dizer-lhes: "Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir". Todos testemunhavam a favor dele, maravilhados com as palavras cheias de graça que saíam de sua boca.

Quem é Jesus?

O episódio de hoje se situa na primeira parte do evangelho de Lucas, chamada ministério de Jesus na Galileia. A leitura na sinagoga de Nazaré de trechos do livro do profeta Isaías serve como critério para responder, ao longo de toda a seção, à pergunta: "Quem é Jesus?". Diante de tantos detalhes apresentados pelo narrador, a omissão de que Jesus fez a leitura chama a atenção. Parece que Marcos queria fazer o ouvinte ou o leitor do evangelho compreender que, mais do que a leitura, o importante é a interpretação de Jesus: "Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir" (v. 21). Nele, Deus cumpriu sua promessa.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Vendo-os com dificuldade foi até eles



Leitura Orante
Mc 6,45-52


Logo em seguida, Jesus mandou que os discípulos entrassem no barco e fossem na frente para Betsaida, na outra margem, enquanto ele mesmo despediria a multidão. Depois de os despedir, subiu à montanha para orar. Já era noite, o barco estava no meio do mar e Jesus, sozinho, em terra. Vendo-os com dificuldade no remar, porque o vento era contrário, nas últimas horas da noite, foi até eles, andando sobre as águas; e queria passar adiante. Quando os discípulos o viram andar sobre o mar, acharam que fosse um fantasma e começaram a gritar. Todos o tinham visto e ficaram apavorados. Mas ele logo falou: "Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!" Ele subiu no barco, juntando-se a eles, e o vento cessou. Mas os discípulos ficaram ainda mais espantados. De fato, não tinham compreendido nada a respeito dos pães. O coração deles continuava endurecido.

A presença de Jesus tudo acalma

O evangelho de hoje está estruturalmente ligado ao de ontem: a razão do medo dos discípulos é que "não tinham compreendido nada a respeito dos pães". No universo simbólico, o mar evoca o mal e a morte. É a partir do lugar da sua oração que Jesus vê a dificuldade dos discípulos em fazer a travessia. O Senhor não é indiferente ao sofrimento dos discípulos, como não é indiferente ao nosso sofrimento: no tempo oportuno "foi até eles, andando sobre as águas" (v. 48). Entre outros, a expressão "andar sobre as águas" evoca o Sl 89(88),10; é ocasião, para o autor do evangelho, de afirmar a divindade de Jesus e sua vitória sobre o mal e a morte. O medo distorce o olhar e impede o reconhecimento do Ressuscitado. Sua presença tudo acalma. A "esclerocardia" (dureza de coração) impede de tirar para a vida as consequências da entrega de Jesus Cristo.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Procissão do Fogaréu - Cidade de Goiás


Jesus encheu-se de compaixão



Leitura Orante
Mc 6, 34-44

Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas. Já estava ficando tarde, quando os discípulos se aproximaram de Jesus e disseram: "Este lugar é deserto e já é tarde. Despede-os, para que possam ir aos sítios e povoados vizinhos e comprar algo para comer". Mas ele respondeu: "Vós mesmos, dai-lhes de comer!" Os discípulos perguntaram: "Queres que gastemos duzentos denários para comprar pão e dar de comer a toda essa gente?" Jesus perguntou: "Quantos pães tendes? Ide ver". Eles foram ver e disseram: "Cinco pães e dois peixes". Então, Jesus mandou que todos se sentassem, na relva verde, em grupos para a refeição. Todos se sentaram, em grupos de cem e de cinquenta. Em seguida, Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e ia dando-os aos discípulos, para que os distribuíssem. Dividiu, também, entre todos, os dois peixes. Todos comeram e ficaram saciados, e ainda encheram doze cestos de pedaços dos pães e dos peixes. Os que comeram dos pães foram cinco mil homens.

Mensagem de vida e misericórdia

O contexto imediato do texto é a volta dos Doze da missão para a qual foram enviados (Mc 6,7-12.30-33). Nós não temos mais acesso ao fato, propriamente dito, mas à mensagem gerada por uma recordação. Interpretar, sem mais, o episódio como "milagre" seria perder a oportunidade de conhecer e compreender o próprio relato e o que ele visa. A multidão que Jesus vê desperta nele compaixão, sentimento divino que provoca "êxtase" - movimento de saída de si para socorrer o outro em sua necessidade. A razão da compaixão: "... porque eram como ovelhas que não têm pastor". Há, aqui, uma primeira evocação do Salmo 23(22): "O Senhor é o meu pastor.". Jesus não somente orienta ensinando, mas sustenta alimentando: "Vós mesmos, dai-lhes de comer!". A ordem de se assentarem na relva verde é outra evocação do Sl 23(22): "Em verdes pastagens me faz repousar". O texto tem clara intenção de apresentar Jesus como o Pastor de Israel, Pastor segundo o coração de Deus, compassivo e misericordioso, cuja palavra e vida são o verdadeiro sustento do povo que ele reúne.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Anúncio da Boa-Nova do Reino


Leitura Orante
Mt 4,12-17.23-25


Quando soube que João tinha sido preso, Jesus retirou-se para a Galileia. Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, [...] para cumprir-se o que foi dito pelo profeta Isaías: "[...] O povo que estava nas trevas viu uma grande luz, para os habitantes da região sombria da morte uma luz surgiu". A partir de então, Jesus começou a anunciar: "Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo". Jesus percorria toda a Galileia, [...] anunciando a Boa-Nova do Reino e curando [...]. Sua fama também se espalhou por toda a Síria. Levaram-lhe todos os doentes, sofrendo de diversas enfermidades e tormentos: possessos, epiléticos e paralíticos. E ele os curava. Grandes multidões o acompanhavam, vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e da região do outro lado do Jordão.

Convertei-vos e crede no Evangelho


Depois da notícia da prisão de João Batista, o texto apresenta um sumário da atividade de Jesus, que foi morar em Cafarnaum, às margens do mar da Galileia. É como se, teologicamente falando, entrássemos numa nova fase da história. O apelo inicial da pregação de Jesus é a conversão. Se tomarmos Marcos como modelo, a conversão é crer no evangelho: "Convertei-vos e crede no evangelho" (Mc 1,15). "Crer no evangelho" pode ter, aqui, um duplo significado: é confiança na pessoa de Jesus que é, ele mesmo, a boa notícia de Deus para a humanidade e, ainda, fé na palavra que ele anuncia. Sem essa adesão não é possível a transformação da pessoa a partir do coração nem de
sua dimensão ética. O nosso texto ressalta, ainda, dois aspectos fundamentais do ministério de Jesus: Ele ensina e proclama a Boa-Nova e ele cura. O v. 25apresenta numa frase o sucesso inicial do ministério de Jesus.