quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Um milagre?


Leitura Orante
Lc 11,29-32


Quando a multidão se ajuntou em volta de Jesus, ele começou a falar e disse o seguinte:
- Como as pessoas de hoje são más! Pedem um milagre como sinal de aprovação de Deus, mas nenhum sinal lhes será dado, a não ser o milagre de Jonas. Assim como o profeta Jonas foi um sinal para os moradores da cidade de Nínive, assim também o Filho do Homem será um sinal para a gente de hoje. No Dia do Juízo a rainha de Sabá vai se levantar e acusar vocês, pois ela veio de muito longe para ouvir os sábios ensinamentos de Salomão. E eu afirmo que o que está aqui é mais importante do que Salomão. No Dia do Juízo o povo de Nínive vai se levantar e acusar vocês porque, quando ouviram a mensagem de Jonas, eles se arrependeram dos seus pecados. E eu afirmo que o que está aqui é mais importante do que Jonas.

Jesus próprio é o sinal

Dirigindo-se às multidões, Jesus menciona a "geração perversa" que "busca um sinal". Refere-se àqueles que, em nome da tradição de Israel e da Lei, o rejeitavam. Em resposta, Jesus declara que basta o sinal de Jonas, que com sua pregação converteu os habitantes de Nínive, e o sinal da rainha do Sul, que, conforme o Primeiro Livro dos Reis (10,1-13), reconheceu a sabedoria de Salomão. Jesus conclui afirmando que ele próprio é o sinal, superando todos outros do Primeiro Testamento. Toda a vida de Jesus, dedicada à libertação e à restauração da vida entre os empobrecidos e excluídos, é a revelação do Pai. Estes atos de amor são sinais da presença de Deus. Com um olhar de fé, podemos reconhecer os sinais de Deus em todo relacionamento em que a vida é respeitada, dignificada e promovida, em qualquer povo ou nação. Assim os discípulos que vivem o amor, abrindo os seus corações para acolher os irmãos, permanecem em Deus e são, também, sinais para o mundo.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Rezem: "Pai..."


Leitura Orante
Mt 6,7-15


- Nas suas orações, não fiquem repetindo o que vocês já disseram, como fazem os pagãos. Eles pensam que Deus os ouvirá porque fazem orações compridas. Não sejam como eles, pois, antes de vocês pedirem, o Pai de vocês já sabe o que vocês precisam. Portanto, orem assim:
"Pai nosso, que estás no céu, que todos reconheçam que o teu nome é santo.
Venha o teu Reino.
Que a tua vontade seja feita aqui na terra como é feita no céu!
Dá-nos hoje o alimento que precisamos.
Perdoa as nossas ofensas como também nós perdoamos as pessoas que nos ofenderam.
E não deixes que sejamos tentados, mas livra-nos do mal.
[Pois teu é o Reino, o poder e a glória, para sempre. Amém!]"
- Porque, se vocês perdoarem as pessoas que ofenderem vocês, o Pai de vocês, que está no céu, também perdoará vocês. Mas, se não perdoarem essas pessoas, o Pai de vocês também não perdoará as ofensas de vocês. 

Jesus ensina como rezar ao Pai

A conversão a Deus se fortalece pela oração. Por ela entramos em relação pessoal e amorosa com Deus. Oração e ação andam sempre juntas. Pela oração nos identificamos com o projeto do Pai e encontramos a força para realizá-lo.
Jesus nos ensinou a oração por excelência: o Pai-Nosso. É uma oração essencialmente comunitária. A primeira parte da oração tem como centro o desejo da realização do projeto do Pai (teu nome, teu reino, tua vontade). Na segunda parte o centro é a comunidade (pão nosso, nossas dívidas, não nos deixeis), que adere concretamente a este projeto.
Na oração do Pai-Nosso encontramos o projeto da mudança. A sociedade de mercado esvazia-se pela prática dos discípulos de Jesus em partilhar o pão de cada dia com os excluídos, em perdoar e aceitar a reconciliação, sem se deixar seduzir pela ideologia e pelas intimidações oriundas desta mesma sociedade. É a chegada do Reino do Pai. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Venham, abençoados do Pai!

Leitura Orante
Mt 25,31-46


Jesus terminou, dizendo:
- Quando o Filho do Homem vier como Rei, com todos os anjos, ele se sentará no seu trono real. Todos os povos da terra se reunirão diante dele, e ele separará as pessoas umas das outras, assim como o pastor separa as ovelhas das cabras. Ele porá os bons à sua direita e os outros, à esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: "Venham, vocês que são abençoados pelo meu Pai! Venham e recebam o Reino que o meu Pai preparou para vocês desde a criação do mundo. Pois eu estava com fome, e vocês me deram comida; estava com sede, e me deram água. Era estrangeiro, e me receberam na sua casa. Estava sem roupa, e me vestiram; estava doente, e cuidaram de mim. Estava na cadeia, e foram me visitar."
- Então os bons perguntarão: "Senhor, quando foi que o vimos com fome e lhe demos comida ou com sede e lhe demos água? Quando foi que vimos o senhor como estrangeiro e o recebemos na nossa casa ou sem roupa e o vestimos? Quando foi que vimos o senhor doente ou na cadeia e fomos visitá-lo?"
- Aí o Rei responderá: "Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quando vocês fizeram isso ao mais humilde dos meus irmãos, foi a mim que fizeram."
- Depois ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: "Afastem-se de mim, vocês que estão debaixo da maldição de Deus! Vão para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos! Pois eu estava com fome, e vocês não me deram comida; estava com sede, e não me deram água. Era estrangeiro, e não me receberam na sua casa; estava sem roupa, e não me vestiram. Estava doente e na cadeia, e vocês não cuidaram de mim."
- Então eles perguntarão: "Senhor, quando foi que vimos o senhor com fome, ou com sede, ou como estrangeiro, ou sem roupa, ou doente, ou na cadeia e não o ajudamos?"
- O Rei responderá: "Eu afirmo a vocês que isto é verdade: todas as vezes que vocês deixaram de ajudar uma destas pessoas mais humildes, foi a mim que deixaram de ajudar."
E Jesus terminou assim:
- Portanto, estes irão para o castigo eterno, mas os bons irão para a vida eterna. 


Somos chamados a converter-nos

Mateus usa o gênero literário apocalíptico, a vinda gloriosa do Filho do Homem, com um julgamento terrível, ao estilo do livro de Daniel (Dn 7,13; 12,2). Com esta roupagem literária, ele fala da realidade a ser vivida atualmente. Jesus, presente nos pequenos e excluídos, os famintos, os sedentos, os forasteiros, os nus, os doentes, os presos, espera nossa solidariedade. Somos chamados a converter-nos à simplicidade e à confiança na vida, abandonando o medo adulto do fracasso, do desprestígio e da pobreza. Somos chamados à fraternidade, à partilha e à comunhão com os irmãozinhos empobrecidos e carentes. 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Clima de festa


Leitura Orante
Mt 9,14-15


Então os discípulos de João Batista chegaram perto de Jesus e perguntaram:
- Por que é que nós e os fariseus jejuamos muitas vezes, mas os discípulos do senhor não jejuam?
Jesus respondeu:
- Vocês acham que os convidados de um casamento podem estar tristes enquanto o noivo está com eles? Claro que não! Mas chegará o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; então sim eles vão jejuar! 

O verdadeiro significado do jejum

O jejum era uma prática religiosa comum, dentro do judaísmo. Os fariseus, com muita piedade, jejuavam duas vezes por semana, afirmando-se assim como justos e intercessores pelo povo junto a Javé. A frase final, alusiva ao retorno ao jejum quando "o noivo lhes será tirado", parece ter uma origem tardia, assumida pelo próprio evangelista. De fato, os discípulos judeo-cristãos, como já havia acontecido com os discípulos de João, depois da morte de Jesus também retomaram práticas de observância dos fariseus. Eles continuaram a frequentar as sinagogas até serem expulsos delas por volta do ano 90 (Concílio de Jâmnia). A narrativa sucede à cena da participação de Jesus na refeição com o publicano Levi e seus amigos e companheiros. Jesus estava solidário com os excluídos do judaísmo, considerados "pecadores" por não serem observantes dos preceitos legais religiosos. Para Jesus, o fundamental é a sua comunhão com todas as pessoas, indiscriminadamente, em vez de fechar-se em observâncias particularistas e excludentes. Os que optam pelas rigorosas observâncias religiosas se revestem de "eleitos" e se autoexcluem do convívio do dia a dia do povo comum, dos "pecadores". Hoje, o jejum verdadeiro significa abster-se do consumo e da posse de bens supérfluos a fim de partilhar seus recursos com os mais pobres e necessitados. 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Se alguém quer seguir Jesus...


Leitura Orante
Lc 9,22-25


E continuou:
- O Filho do Homem terá de sofrer muito. Ele será rejeitado pelos líderes judeus, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da Lei. Será morto e, no terceiro dia, será ressuscitado.
Depois disse a todos:
- Se alguém quer ser meu seguidor, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto cada dia para morrer como eu vou morrer e me acompanhe. Pois quem põe os seus próprios interesses em primeiro lugar nunca terá a vida verdadeira; mas quem esquece a si mesmo por minha causa terá a vida verdadeira. O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira e ser destruído?

Jesus identifica-se com o "Filho do Homem"

O centro do evangelho de Lucas, bem como o de Marcos, é marcado pela revelação da identidade de Jesus. Jesus rejeita ser identificado com um messias ("cristo") restaurador do reinado de Davi. É chegado o momento de deixar isto claro. A partir da interrogação sobre quem ele é, Jesus identifica-se com o "Filho do Homem". O termo original hebraico (Ezequiel e Daniel) e, depois, grego (tradução dos LXX) significa "o humano", a condição humana.
Enquanto "humano", Jesus está exposto ao sofrimento e à morte. Há uma referência à "necessidade" deste sofrimento e morte. O termo "necessidade" não indica um determinismo cego, mas as implicações inevitáveis decorrentes do compromisso libertador assumido por Jesus. Quem assume o anúncio e a luta libertadora despertará, necessariamente, a ira dos poderes constituídos, que procurarão destruí-lo. Porém, Jesus revela que ao "humano" foi dada, por Deus, a vida eterna. Quem quiser unir-se ao destino de Jesus, renuncie ao sucesso e à glória do status social e econômico. E não fuja das adversidades e dos sofrimentos que os poderes político e religioso lhe imporão.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Vida por causa do Evangelho


Leitura Orante
Mc 8,34-9,1


Aí Jesus chamou a multidão e os discípulos e disse:
- Se alguém quer ser meu seguidor, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhe. Pois quem põe os seus próprios interesses em primeiro lugar nunca terá a vida verdadeira; mas quem esquece a si mesmo por minha causa e por causa do evangelho terá a vida verdadeira. O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira? Pois não há nada que poderá pagar para ter de volta essa vida. Portanto, se nesta época de incredulidade e maldade alguém tiver vergonha de mim e dos meus ensinamentos, então o Filho do Homem, quando vier na glória do seu Pai com os santos anjos, também terá vergonha dessa pessoa.
E Jesus terminou, dizendo:
- Eu afirmo a vocês que isto é verdade: estão aqui algumas pessoas que não morrerão antes de verem o Reino de Deus chegar com poder. 

Ser para o outro é viver o amor

Os discípulos de Jesus inclinavam-se a vê-lo como o messias nacionalista, poderoso e restaurador de Israel. Esta era a visão "desta geração adúltera e pecadora". Em oposição a ela, Jesus apresenta sua missão, a ser seguida pelos discípulos, como serviço (perder a vida) e não como poder (salvar a vida). Achar sua vida, segundo os critérios da sociedade subjugada à ideologia do poder, é inserir-se no sistema, adquirir status, riqueza e prestígio, ganhar o mundo. Perder sua vida é ser para o outro, não de uma maneira de convívio entre privilegiados, mas principalmente estar a serviço aos mais necessitados e excluídos. O ser para o outro é viver o amor, é encontrar sua vida inserida na eternidade, participando da vida divina. Não se envergonhar de ser seguidor de Jesus é romper com os valores da sociedade de consumo e de privilégios, e, solidários com aqueles que têm a vida ameaçada, vencer a morte. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Quem sou eu para vocês?


Leitura Orante
Mc 8,27-33

Depois Jesus e os seus discípulos foram para os povoados que ficam perto de Cesaréia de Filipe. No caminho, ele lhes perguntou: 
- Quem o povo diz que eu sou? 
Os discípulos responderam: 
- Alguns dizem que o senhor é João Batista; outros, que é Elias; e outros, que é um dos profetas. 
- E vocês? Quem vocês dizem que eu sou? - perguntou Jesus. 
- O senhor é o Messias! - respondeu Pedro. 
Então Jesus proibiu os discípulos de contarem isso a qualquer pessoa. 
Jesus começou a ensinar os discípulos, dizendo: 
- O Filho do Homem terá de sofrer muito. Ele será rejeitado pelos líderes judeus, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da Lei. Será morto e, três dias depois, ressuscitará. 
Jesus dizia isso com toda a clareza. Então Pedro o levou para um lado e começou a repreendê-lo. Jesus virou-se, olhou para os discípulos e repreendeu Pedro, dizendo: 
- Saia da minha frente, Satanás! Você está pensando como um ser humano pensa e não como Deus pensa. 


Jesus é o Cristo

Com a decisão de ir para Jerusalém, Jesus, no caminho, pergunta aos discípulos: "Quem dizem as pessoas que eu sou?". Respondendo, os discípulos mencionam a opinião do povo: Jesus seria um profeta como João Batista, Elias, ou algum outro da tradição. Pedro, por sua vez, responde dando a sua interpretação: Jesus é o Cristo (ou messias). Porém, o messias do judaísmo seria um líder empenhado na conquista do poder. Jesus, percebendo que eles não o compreendem bem, pede-lhes silêncio sobre isto. Falando dos sofrimentos que poderia enfrentar em Jerusalém, onde ia fazer seu anúncio libertador aos peregrinos que para lá acorriam, Pedro se escandaliza, pois tal coisa não corresponde ao messias esperado. Jesus o repreende severamente. Pedro ainda tem em mente as coisas dos homens, e não as coisas de Deus. 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O fermento dos fariseus e de Herodes


Leitura Orante
Mc 8,14-21

Os discípulos haviam esquecido de levar pão e só tinham um pão no barco. Jesus chamou a atenção deles, dizendo: 
- Fiquem alertas e tomem cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes! 
Aí os discípulos começaram a dizer uns aos outros: 
- Ele está dizendo isso porque não temos pão. 
Jesus ouviu o que eles estavam dizendo e perguntou: 
- Por que vocês estão discutindo por não terem pão? Vocês não sabem e não entendem o que eu disse? Por que são tão duros para entender as coisas? Vocês têm olhos e não enxergam? Têm ouvidos e não escutam? Não lembram dos cinco pães que eu parti para cinco mil pessoas? Quantos cestos cheios de pedaços vocês recolheram? 
Eles responderam: 
- Doze. 
Jesus perguntou outra vez: 
- E, quando eu parti os sete pães para quatro mil pessoas, quantos cestos cheios de pedaços vocês recolheram? 
Eles responderam: 
- Sete. 
Então Jesus perguntou: 
- Será que vocês ainda não entendem? 

Jesus é o único pão

Após a narrativa da segunda partilha do pão com as multidões, Marcos apresenta a advertência de Jesus aos discípulos sobre o "fermento" dos fariseus e o "fermento" de Herodes. Os discípulos só tinham "um pão" consigo e pensavam que Jesus se referia ao fato de não terem mais pães. Os discípulos não entendem, e a reprimenda de Jesus a eles é contundente: "... não entendeis?.... vosso coração continua endurecido?... não enxergais... não ouvis?...". O simbolismo das palavras e da narrativa pode ser percebido. Uma parábola de Jesus já havia esclarecido que o Reino é como o fermento que leveda a massa. O fermento dos fariseus, e o de Herodes, é a doutrina da sinagoga e do Templo, bem como do império romano, que Jesus descarta por conduzirem à morte. Jesus é o único pão, com o fermento do Reino. É o pão da vida a ser partilhado entre todos.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Gente de coração duro!


Leitura Orante
Mc 8,11-13


Alguns fariseus chegaram e começaram a falar com Jesus. Eles queriam conseguir alguma prova contra ele e por isso pediram que ele fizesse um milagre para mostrar que o seu poder vinha mesmo de Deus. Jesus deu um grande suspiro e disse:
- Por que as pessoas de hoje pedem um milagre? Eu afirmo a vocês que isto é verdade: nenhum milagre será feito para estas pessoas.
Então Jesus foi embora. Ele subiu no barco e voltou para o lado leste do lago. 
 
Os sinais de Jesus, sinais do Reino

Na Galileia, onde Jesus viveu, predominava a presença de gentios. Os rabinos do judaísmo localizavam-se em algumas cidades maiores, onde construíam sinagogas. Enquanto a cúpula religiosa, formada por uma elite sacerdotal, estava sediada em Jerusalém, onde se localizava o Templo, na periférica Galileia os rabinos fariseus eram as autoridades locais. O anúncio de Jesus contradiz a doutrina destes chefes religiosos, os quais procuram eliminar Jesus. Constantemente acusavam Jesus de desrespeitar o sábado, bem como o acusaram de blasfemador, quando ele perdoou o pecado de um paralítico. Agora, para pôr Jesus à prova, querem simplesmente um sinal vindo do céu. Jesus dá um suspiro profundo de mágoa e nega qualquer sinal. O judaísmo ("esta geração") está fechado ao seu anúncio da universalidade e da misericórdia do Reino. Marcos, com esta sua narrativa dirigida às comunidades, procura demover das comunidades a expectativa da manifestação de sinais extraordinários de Jesus. Os sinais de Jesus, que são os sinais do Reino, não são os atos de poder, na realização de coisas surpreendentes e espantosas, mas sim são os atos em vista da libertação dos oprimidos e da promoção da vida. O grande sinal é o testemunho de amor, que conquista as pessoas, as faz mudar de vida e comportamento, aderindo ao projeto vivificante de Deus, transformando o mundo. 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Jesus em Caná


Leitura Orante
Jo 2,1-11


Dois dias depois, houve um casamento no povoado de Caná, na região da Galiléia, e a mãe de Jesus estava ali. Jesus e os seus discípulos também tinham sido convidados para o casamento. Quando acabou o vinho, a mãe de Jesus lhe disse:
- O vinho acabou.
Jesus respondeu:
- Não é preciso que a senhora diga o que eu devo fazer. Ainda não chegou a minha hora.
Então ela disse aos empregados:
- Façam o que ele mandar.
Ali perto estavam seis potes de pedra; em cada um cabiam entre oitenta e cento e vinte litros de água. Os judeus usavam a água que guardavam nesses potes nas suas cerimônias de purificação. Jesus disse aos empregados:
- Encham de água estes potes.
E eles os encheram até a boca. Em seguida Jesus mandou:
- Agora tirem um pouco da água destes potes e levem ao dirigente da festa.
E eles levaram. Então o dirigente da festa provou a água, e a água tinha virado vinho. Ele não sabia de onde tinha vindo aquele vinho, mas os empregados sabiam. Por isso ele chamou o noivo e disse:
- Todos costumam servir primeiro o vinho bom e, depois que os convidados já beberam muito, servem o vinho comum. Mas você guardou até agora o melhor vinho.
Jesus fez esse seu primeiro milagre em Caná da Galiléia. Assim ele revelou a sua natureza divina, e os seus discípulos creram nele. 

Jesus e Maria são solidários ao povo

O evangelista João, nesta sua narrativa expressiva e simbólica, põe em evidência os cuidados de Jesus e sua mãe em todas as necessidades, com um amor atento, inclusive em um clima festivo. O conteúdo teológico é a superação da observância da Lei (Torá) pela prática do amor solidário e libertador, na qual se manifesta a glória de Deus.
A primeira pessoa que aparece na narrativa, que abre o ciclo do ministério de Jesus, é a sua mãe. Maria, que representa as novas comunidades, exorta a todos: "Fazei tudo o que ele vos disser!". 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A cananeia

Leitura Orante
Mc 7,24-30

Jesus saiu dali e foi para a região que fica perto da cidade de Tiro. Ele entrou numa casa e não queria que soubessem que estava ali, mas não pôde se esconder. Certa mulher, que tinha uma filha que estava dominada por um espírito mau, ouviu falar a respeito de Jesus. Ela veio e se ajoelhou aos pés dele. Era estrangeira, de nacionalidade siro-fenícia, e pediu que Jesus expulsasse da sua filha o demônio. Mas Jesus lhe disse: 
- Deixe que os filhos comam primeiro. Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo para os cachorros. 
- Mas, senhor, - respondeu a mulher - até mesmo os cachorrinhos que ficam debaixo da mesa comem as migalhas de pão que as crianças deixam cair. 
Jesus disse: 
- Por causa dessa resposta você pode voltar para casa; o demônio já saiu da sua filha. 
Quando a mulher voltou para casa, encontrou a criança deitada na cama; de fato, o demônio tinha saído dela. 


Jesus entra na casa

Tiro é uma região de gentios. Jesus entra na casa de um deles. Os judeus eram proibidos a isto por ela ser considerada impura. Uma mulher gentia vem e atira-se a seus pés. O espírito impuro de sua filha indica estar excluída pelo espírito discriminatório judaico. Ela pede a intervenção de Jesus. Em diálogo, fala-se de pão, filhos e cachorrinhos. Os filhos são os judeus. Os cachorrinhos são os gentios. O pão é o alimento que sustenta a vida. Neste diálogo discriminatório pode-se até ver uma interpretação tradicional das comunidades sob a influência das pretensões judaicas. A fala insistente e ousada da mulher é o centro da narrativa. A ela curva-se Jesus. Ela tem direito ao pão. A seguir Marcos narra a partilha dos pães, também em território gentio. Fica bem caracterizada a missão de Jesus entre os gentios. 


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Jesus fala sobre a impureza



Leitura Orante
Mc 7,14-23


Jesus chamou outra vez a multidão e disse:
- Escutem todos o que eu vou dizer e entendam! Tudo o que vem de fora e entra numa pessoa não faz com que ela fique impura, mas o que sai de dentro, isto é, do coração da pessoa, é que faz com que ela fique impura. [Se vocês têm ouvidos para ouvir, então ouçam.]
Quando Jesus se afastou da multidão e entrou em casa, os seus discípulos lhe perguntaram o que queria dizer essa comparação. Então ele disse:
- Vocês são como os outros; não entendem nada! Aquilo que entra pela boca da pessoa não pode fazê-la ficar impura, porque não vai para o coração, mas para o estômago, e depois sai do corpo.
Com isso Jesus quis dizer que todos os tipos de alimento podem ser comidos.
Ele continuou:
- O que sai da pessoa é o que a faz ficar impura. Porque é de dentro, do coração, que vêm os maus pensamentos, a imoralidade sexual, os roubos, os crimes de morte, os adultérios, a avareza, as maldades, as mentiras, as imoralidades, a inveja, a calúnia, o orgulho e o falar e agir sem pensar nas conseqüências. Tudo isso vem de dentro e faz com que as pessoas fiquem impuras.

A bondade fundamental da criação

Os escribas e fariseus vindos de Jerusalém haviam entrado em conflito com Jesus porque seus discípulos comiam com mãos impuras, isto é, não praticavam as abluções rituais. Então Jesus dirige-se à multidão e aos discípulos explicando: não é o que está fora que torna a pessoa impura, mas sim o que sai da pessoa. O choque se dá no dualismo "sagrado" e "profano", criado pelas religiões e muito presente na tradição do judaísmo. O mundo não se divide em duas zonas: uma, sagrada, onde se encontra tudo que goza do favor de Deus; e outra, profana, da qual Deus está ausente. Jesus vem afirmar a bondade fundamental da criação e o amor universal de Deus. Não é o espaço exterior que define a presença de Deus, mas sim nossas ações. Onde há o amor, Deus aí está.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Jesus cura em Genesaré


Leitura Orante
Mc 6,53-56


53Jesus e os discípulos atravessaram o lago e chegaram à região de Genesaré, onde amarraram o barco na praia. 54Quando desceram do barco, o povo logo reconheceu Jesus. 55Então, eles saíram correndo por toda aquela região, começaram a trazer os doentes em camas e os levavam para o lugar onde sabiam que Jesus estava. 56Em todos os lugares aonde ele ia, isto é, nos povoados, nas cidades e nas fazendas, punham os doentes nas praças e pediam a Jesus que os deixasse pelo menos tocar na barra da sua roupa. E todos os que tocavam nela ficavam curados.

Jesus entre o povo

Após a partilha dos pães, Jesus envia os discípulos para Betsaida. Devido ao "vento contrário", ou ao temor dos discípulos, a barca aportou em Genesaré. É uma região plana, ao sul de Cafarnaum, onde a influência do judaísmo é insignificante. Temos um novo sumário de Marcos. Jesus percorre toda a região: povoados, cidades e áreas rurais.
Durante a travessia do mar os discípulos não reconheceram Jesus ao se aproximar deles. Agora, os moradores reconhecem Jesus e vêm a ele. Trazem a Jesus apenas doentes, não havendo casos de possessos por espíritos impuros, isto é, os submissos à ideologia do poder religioso de Israel. Os que tocavam Jesus ficavam libertos de seus males. A continuidade da partilha do pão é a partilha da vida. O acento da narrativa é o toque em Jesus, o que lembra o gesto da hemorroíssa. O "toque" significa a comunicação viva com o homem Jesus presente entre o povo. Após a materialidade do pão partilhado, Marcos apresenta-nos a materialidade e a importância da presença física, concreta, amorosa, de Jesus entre o povo. Hoje é a presença de Jesus no próximo, nos pobres, nos excluídos, nos famintos, nos nus, nos doentes, nos presos.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A morte de João Batista


Leitura Orante
Mc 6,14-29

O rei Herodes ouviu falar de tudo isso porque a fama de Jesus se havia espalhado por toda parte. Alguns diziam: 
- Esse homem é João Batista, que foi ressuscitado! Por isso esse homem tem poder para fazer milagres. 
Outros diziam que ele era Elias. Mas alguns afirmavam: 
- Ele é profeta, como um daqueles profetas antigos. 
Quando Herodes ouviu isso, disse: 
- Ele é João Batista! Eu mandei cortar a cabeça dele, e agora ele foi ressuscitado! 
Pois tinha sido Herodes mesmo quem havia mandado prender João, amarrar as suas mãos e jogá-lo na cadeia. Ele havia feito isso por causa de Herodias, com quem havia casado, embora ela fosse esposa do seu irmão Filipe. Por isso João tinha dito muitas vezes a Herodes: "Pela nossa Lei você é proibido de casar com a esposa do seu irmão!" 
Herodias estava furiosa com João e queria matá-lo. Mas não podia porque Herodes tinha medo dele, pois sabia que ele era um homem bom e dedicado a Deus. Por isso Herodes protegia João. E, quando o ouvia falar, ficava sem saber o que fazer, mas mesmo assim gostava de escutá-lo. 
Porém no dia do aniversário de Herodes apareceu a ocasião que Herodias estava esperando. Nesse dia Herodes deu um banquete para as pessoas importantes do seu governo: altos funcionários, chefes militares e autoridades da Galiléia. Durante o banquete a filha de Herodias entrou no salão e dançou. Herodes e os seus convidados gostaram muito da dança. Então o rei disse à moça: 
- Peça o que quiser, e eu lhe darei. 
E jurou: 
- Prometo que darei o que você pedir, mesmo que seja a metade do meu reino! 
Ela foi perguntar à sua mãe o que devia pedir. E a mãe respondeu: 
- Peça a cabeça de João Batista. 
No mesmo instante a moça voltou depressa aonde estava o rei e pediu: 
- Quero a cabeça de João Batista num prato, agora mesmo! 
Herodes ficou muito triste, mas, por causa do juramento que havia feito na frente dos convidados, não pôde deixar de atender o pedido da moça. Mandou imediatamente um soldado da guarda trazer a cabeça de João. O soldado foi à cadeia, cortou a cabeça de João, pôs num prato e deu à moça. E ela a entregou à sua mãe. Quando os discípulos de João souberam disso, vieram, levaram o corpo dele e o sepultaram. 

As consequências da profecia

Nesta narrativa de Marcos podemos ver a importância de João Batista na tradição das primeiras comunidades. Percebe-se uma ironia sobre o ridículo das motivações de Herodes e os grupos de poder que o cercam. 
Em forte contraste, um banquete de aniversário para comemorar a vida termina com a morte: uma cabeça degolada servida em um prato. Marcos faz também um contraste entre este banquete de Herodes com os poderosos e a partilha do pão de Jesus com o povo, que vem narrada a seguir. Pode-se ver aqui, também, uma prefiguração do julgamento e da execução de Jesus. 
O poder resiste e mata aqueles que se levantam, comunicando liberdade e vida.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Jesus é apresentado no Templo

Leitura Orante
Lc 2,22-40


Chegou o dia de Maria e José cumprirem a cerimônia da purificação, conforme manda a Lei de Moisés. Então eles levaram a criança para Jerusalém a fim de apresentá-la ao Senhor. Pois está escrito na Lei do Senhor: "Todo primeiro filho será separado e dedicado ao Senhor." Eles foram lá também para oferecer em sacrifício duas rolinhas ou dois pombinhos, como a Lei do Senhor manda.
Em Jerusalém morava um homem chamado Simeão. Ele era bom e piedoso e esperava a salvação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele, e o próprio Espírito lhe tinha prometido que, antes de morrer, ele iria ver o Messias enviado pelo Senhor. Guiado pelo Espírito, Simeão foi ao Templo. Quando os pais levaram o menino Jesus ao Templo para fazer o que a Lei manda, Simeão pegou o menino no colo e louvou a Deus. Ele disse:
- Agora, Senhor, cumpriste a promessa que fizeste e já podes deixar este teu servo partir em paz.
Pois eu já vi com os meus próprios olhos a tua salvação, que preparaste na presença de todos os povos: uma luz para mostrar o teu caminho a todos os que não são judeus e para dar glória ao teu povo de Israel.
O pai e a mãe do menino ficaram admirados com o que Simeão disse a respeito dele. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus:
- Este menino foi escolhido por Deus tanto para a destruição como para a salvação de muita gente em Israel. Ele vai ser um sinal de Deus; muitas pessoas falarão contra ele, e assim os pensamentos secretos delas serão conhecidos. E a tristeza, como uma espada afiada, cortará o seu coração, Maria.
Havia ali também uma profetisa chamada Ana, que era viúva e muito idosa. Ela era filha de Fanuel, da tribo de Aser. Sete anos depois que ela havia casado, o seu marido morreu. Agora ela estava com oitenta e quatro anos de idade. Nunca saía do pátio do Templo e adorava a Deus dia e noite, jejuando e fazendo orações. Naquele momento ela chegou e começou a louvar a Deus e a falar a respeito do menino para todos os que esperavam a libertação de Jerusalém.
Quando terminaram de fazer tudo o que a Lei do Senhor manda, José e Maria voltaram para a Galiléia, para a casa deles na cidade de Nazaré.
O menino crescia e ficava forte; tinha muita sabedoria e era abençoado por Deus.

Llibertar os pequenos e humildes

Conforme a Lei, a consagração dos primogênitos era feita no ato da circuncisão, no sexto dia do nascimento (Ex 22,28s; Lv 12,3). A purificação da mãe era feita trinta e três dias depois da circuncisão (Lv 12,4.6s). Notam-se em Lucas pequenas falhas de conhecimento dos costumes judaicos.
No Templo de Jerusalém, por ocasião da purificação de Maria, o justo Simeão profetiza sobre o menino Jesus, que será sinal de contradição. Uma das características marcantes de Jesus em seu ministério foi o conflito com as tradições da Lei e com os chefes religiosos. O empenho em libertar os pequenos e humildes oprimidos sob o jugo da Lei levou Jesus à morte de cruz, momento culminante em que uma espada traspassa a alma de sua mãe.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Jesus em Nazaré

Leitura orante
Mc 6,1-6

Jesus voltou com os seus discípulos para a cidade de Nazaré, onde ele tinha morado. No sábado começou a ensinar na sinagoga. Muitos que o estavam escutando ficaram admirados e perguntaram: 
- De onde é que este homem consegue tudo isso? De onde vem a sabedoria dele? Como é que faz esses milagres? Por acaso ele não é o carpinteiro, filho de Maria? Não é irmão de Tiago, José, Judas e Simão? As suas irmãs não moram aqui? 
Por isso ficaram desiludidos com ele. Mas Jesus disse: 
- Um profeta é respeitado em toda parte, menos na sua terra, entre os seus parentes e na sua própria casa. 
Ele não pôde fazer milagres em Nazaré, a não ser curar alguns doentes, pondo as mãos sobre eles. E ficou admirado com a falta de fé que havia ali.

Jesus presente entre os pobres e pequeninos

No evangelho de Marcos, esta narrativa é a última em que Jesus, na sua própria terra, aparece no espaço simbólico da sinagoga, no sábado. Os que ouviam Jesus "maravilhavam-se" com o que ele dizia, mas o rejeitaram. E Jesus "espantava-se" com a incredulidade deles. "Não é ele o carpinteiro?...", diziam, com desprezo. Mateus, posteriormente, para evitar a incidência do avilte a Jesus, escreverá: "... o filho do carpinteiro?". Lucas o omitirá e dirá simplesmente: "... o filho de José?". O conteúdo teológico principal deste episódio é o rompimento de Jesus com as estruturas sociorreligiosas e de parentesco, características do judaísmo. Faltava-lhes a fé. Ele deixa de frequentar as sinagogas e passa a percorrer os povoados da região. A sociedade estruturada em torno do mercado e do lucro é carente da fé e da sensibilidade que permitem perceber e acolher Jesus presente entre os pobres e pequeninos.