segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Nota de Aviso:

Bom dia a todos que diariamente frequentam nosso blog!

Gostaria de avisar que a partir desta data de hoje (02/09/2013), me ausentarei temporariamente, ficando assim impossibilitado de fazer as atualizações diárias do blog da Paróquia.
Se você se sente capaz de assumir as atualizações e as responsabilidades do blog da paróquia, entre em contato comigo através do celular 9291-0356, e lhe passarei as condições de prosseguir com este projeto.

Desde já agradeço.

Sérgio Elias
Criador/Administrador 
 do http://paroquiasaofranciscoanicuns.blogspot.com

Jesus em Nazaré: “Não é ele o filho de José?”


Lc 4,16-30
Foi então a Nazaré, [...] à sinagoga e levantou-se para fazer a leitura [...] do profeta Isaías. [...]“O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu, para anunciar a Boa-Nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano aceito da parte do Senhor”. [...]. Então, começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir.” [...] E perguntavam: “Não é este o filho de José”? Ele, porém, dizia: “Sem dúvida, me citareis o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo’. Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, faze também aqui, na tua terra!” E acrescentou: “Em verdade, vos digo que nenhum profeta é aceito na sua própria terra. [...] havia muitas viúvas em Israel. No entanto, a nenhuma delas foi enviado o profeta Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia. E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel, mas nenhum deles foi curado, senão Naamã, o sírio”. Ao ouvirem estas palavras, na sinagoga, todos ficaram furiosos. Levantaram-se e o expulsaram da cidade. Levaram-no para o alto do morro [...] com a intenção de empurrá-lo para o precipício. Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho.

Discurso de Jesus na Sinagoga de Nazaré

Trata-se do discurso programático de Jesus na sinagoga de Nazaré. É um episódio que se encontra prefigurado no oráculo de Simeão: “Eis que este menino foi colocado para a queda e o surgimento de muitos em Israel, e como sinal de contradição” (Lc 2,34).
É a antecipação, através do esquema “aceitação–rejeição”, dos relatos referentes ao ministério público de Jesus. Em relação a Marcos e Mateus, Lucas antecipa o episódio. Essa antecipação tem um caráter programático evidente: o ensinamento de Jesus significa o cumprimento da Escritura.
Para maiores esclarecimentos, remetemos o leitor ao dia 3 de fevereiro.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A parábola das dez virgens

Mt 25,1-13
"O Reino dos Céus pode ser comparado a dez moças que, levando suas lamparinas, saíram para formarem o séquito do noivo. Cinco delas eram descuidadas e cinco eram previdentes. As descuidadas pegaram suas lâmpadas, mas não levaram óleo consigo. As previdentes levaram jarros com óleo junto com as lâmpadas. Como o noivo demorasse, todas acabaram cochilando e dormindo. No meio da noite, ouviu-se um alvoroço: ‘O noivo está chegando. Ide acolhê-lo!’ Então todas se levantaram e prepararam as lâmpadas. As descuidadas disseram às previdentes: ‘Dai-nos um pouco de óleo, porque nossas lâmpadas estão se apagando’. As previdentes responderam: ‘De modo algum, pois o óleo pode ser insuficiente para nós e para vós. É melhor irdes comprar dos vendedores’. Enquanto elas foram comprar óleo, o noivo chegou, e as que estavam preparadas entraram com ele para a festa do casamento. E a porta se fechou. Por fim, chegaram as outras e disseram: ‘Senhor! Senhor! Abre-nos a porta!’ Ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: não vos conheço!’ Portanto, vigiai, pois não sabeis o dia, nem a hora.”

Estar vigilante
O texto apresenta um grupo de dez virgens, cinco das quais eram previdentes e as outra cinco, imprevidentes.
As previdentes são caracterizadas pelo fato de levarem “jarros de óleo” para alimentar as lâmpadas; as imprevidentes levaram as lâmpadas, mas não o suprimento de óleo. Com o atraso do noivo, acabaram, todas elas, dormindo. Ao grito que anunciava a chegada do noivo, todas despertaram e prepararam as lâmpadas. As imprevidentes se deram conta, então, de que o óleo não seria suficiente. Ter que providenciar o óleo à chegada do noivo fez com que as imprevidentes perdessem a oportunidade de entrar para a festa de casamento.
Depois de tudo isso, qual é a mensagem para os discípulos? O que é preciso fazer? As virgens previdentes desejavam fortemente participar das bodas; por isso, não mediram esforços nem imaginação para que tal acontecesse. Elas preveniram e previram o que poderia acontecer. Daí que, desde o início, elas participaram das bodas. As imprevidentes se deixaram levar por outras preocupações e se contentaram com o mínimo necessário: uma lâmpada e um pouco de óleo – não puderam, por culpa delas mesmas, entrar na festa.
Carlos Alberto Contieri, sj

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Martírio de João Batista -

Mc 6,17-29
De fato, Herodes tinha mandado prender João e acorrentá-lo na prisão, por causa de Herodíades, mulher de seu irmão Filipe, com a qual ele se tinha casado. Pois João vivia dizendo a Herodes: “Não te é permitido ter a mulher do teu irmão”. Por isso, Herodíades lhe tinha ódio e queria matá-lo, mas não conseguia, pois Herodes temia João, sabendo que era um homem justo e santo, e até lhe dava proteção. Ele gostava muito de ouvi-lo, mas ficava desconcertado. Finalmente, chegou o dia oportuno. Por ocasião de seu aniversário, Herodes ofereceu uma festa para os proeminentes da corte, os chefes militares e os grandes da Galileia. A filha de Herodíades entrou e dançou, agradando a Herodes e a seus convidados. O rei, então, disse à moça: “Pede-me o que quiseres, e eu te darei”. E fez até um juramento: “Eu te darei qualquer coisa que me pedires, ainda que seja a metade do meu reino”. Ela saiu e perguntou à mãe: “Que devo pedir?” A mãe respondeu: “A cabeça de João Batista”. Voltando depressa para junto do rei, a moça pediu: “Quero que me dês agora, num prato, a cabeça de João Batista”. O rei ficou muito triste, mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis faltar com a palavra. Imediatamente, mandou um carrasco cortar e trazer a cabeça de João. O carrasco foi e, lá na prisão, cortou-lhe a cabeça, trouxe-a num prato e deu à moça. E ela a entregou à sua mãe. Quando os discípulos de João ficaram sabendo, vieram e pegaram o corpo dele e o puseram numa sepultura.

A tentação de calar a voz que denuncia o mal.
João Batista é o mártir da moral. Ele foi posto na prisão por ter denunciado uma união ilegal entre Herodes e Herodíades, mulher de Filipe, irmão do Tetrarca. A palavra movida só pela emoção e ilusão é portadora da morte: “(Herodes) prometeu, com juramento, dar a ela (filha de Herodíades) tudo o que pedisse”. É a vida de João que Herodíades reivindica. Busca eliminar a “voz” que denuncia o seu mal. É provável que o sofrimento e a morte de João Batista prefigurem a paixão e morte de Jesus Cristo. Ambos tidos como profetas (13,57; 14,5), conhecerão a sorte dos profetas: “Jerusalém, Jerusalém que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados…” (Mt 14,1-12;Lc 13,34-35).

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Ai de vós...hipócritas!


Mt 23,23-26
“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho, e deixais de lado os ensinamentos mais importantes da Lei, como o direito, a misericórdia e a fidelidade. Isto é que deveríeis praticar, sem contudo deixar aquilo. Guias cegos! Filtrais o mosquito, mas engolis o camelo. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Limpais o copo e o prato por fora, mas por dentro estais cheios de roubo e cobiça. Fariseu cego! Limpa primeiro o copo por dentro, que também por fora ficará limpo.”

A lei visa proteger a vida e a liberdade Povo de Deus.

O objeto da crítica de Jesus aos escribas e fariseus é a hipocrisia deles.
Hipócrita é a palavra para dizer do ator de teatro que representa uma peça. A hipocrisia dos escribas e fariseus consiste, no que se refere à Lei de Moisés, na dissociação entre dizer e fazer (v. 23).
A Lei é expressão do amor de Deus por seu povo e visa proteger a vida e a liberdade dos membros do Povo de Deus. É inadmissível um modo de praticar a Lei que prescinda da misericórdia e do amor – é distanciar-se do espírito da Lei (cf. vv. 23-24). A prática obsessiva da Lei de Deus cega e fecha o coração para a necessidade dos outros. Nós sabemos, pelas controvérsias galileanas de Marcos (2,1-3,6), com suas paralelas em Mateus, o quanto a misericórdia esteve ausente dos adversários de Jesus: “No dia de sábado, é permitido fazer o bem ou o mal, salvar uma vida ou perdê-la?” (Mc 3,4). O amor, a fidelidade, a misericórdia precedem e têm precedência sobre tudo.
O interior, a “pureza de coração” (cf. Mt 5,8; Mc 7,20-23), é mais importante que o exterior, a aparência (vv. 25-26). O que importa é uma verdadeira purificação interior, uma verdadeira e profunda conversão.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Jesus condena a hipocrisia

Mt 23,13-22
“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Fechais aos outros o Reino dos Céus, mas vós mesmos não entrais, nem deixais entrar aqueles que o desejam. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Percorreis o mar e a terra para converter alguém, e quando o conseguis, o tornais merecedor do inferno, duas vezes mais do que vós. Ai de vós, guias cegos! Dizeis: ‘Se alguém jura pelo Santuário, não vale; mas se alguém jura pelo ouro do Santuário, então vale!’ Insensatos e cegos! Que é mais importante, o ouro ou o Santuário que santifica o ouro? Dizeis também: ‘Se alguém jura pelo altar, não vale; mas, se alguém jura pela oferenda que está sobre o altar, então vale!’ Cegos! Que é mais importante: a oferenda ou o altar que santifica a oferenda? De fato, quem jura pelo altar jura por ele e por tudo o que está sobre ele. E quem jura pelo Santuário jura por ele e por Deus, que habita no Santuário. E quem jura pelo céu jura pelo trono de Deus e por aquele que nele está sentado.”

O caminho que conduz a Deus é Jesus.
O capítulo 23 de Mateus é uma forte crítica aos escribas e fariseus que, ao longo do evangelho, foram, e continuaram a sê-lo, os adversários mais importantes de Jesus. O objeto da crítica é a hipocrisia deles. As lamentações de Jesus contra eles se repetem como um refrão ao longo do capítulo. “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas!” (vv. 13.15.16.23.27.29). Eles têm autoridade para interpretar e ensinar a Lei de Moisés (v. 2), mas são hipócritas: dizem aos outros o que tem de ser feito, mas eles mesmos não o fazem (v. 3) – nisto consiste a hipocrisia deles.
Eles são como “porteiros”: põem tantas proibições no que diz respeito às práticas religiosas que ocultam aos outros a ação de Deus na história. Nisto eles desestimulam os outros a entrar no Reino dos céus. Mas eles mesmos não entram por causa de sua hipocrisia (cf. v. 13). A campanha proselitista que eles promovem não visa à conversão dos pagãos ao Deus único e verdadeiro, mas às suas próprias concepções; por isso fazem dos prosélitos merecedores do inferno. São “guias cegos”, pois desviam o povo do verdadeiro caminho que conduz a Deus. O caminho que conduz a Deus é Jesus.
Jesus repudia todo tipo de juramento (cf. Mt 5,33-37). Dizer que são guias cegos significa também afirmar que a prática que eles propõem não vem da iluminação da Palavra de Deus.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O tesouro escondido


Mt 13,44-46
“O Reino dos Céus é como um tesouro escondido num campo. Alguém o encontra, deixa-o lá bem escondido e, cheio de alegria, vai vender todos os seus bens e compra aquele campo. O Reino dos Céus é também como um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, ele vai, vende todos os bens e compra aquela pérola.”

O valor do Reino dos céus.

Falar de tesouro e de pérolas preciosas é falar de valores, ou melhor, do valor do Reino dos céus.
Três verbos caracterizam as duas parábolas: “encontrar” (v. 44), “procurar” (v. 45) e “encontrar” (v. 46). As duas parábolas têm em comum esta expressão: “... vende tudo o que possui e compra…”. A diferença entre as duas é a seguinte: na primeira parábola o homem encontra o tesouro, sem buscá-lo; na segunda, ele procura a pérola preciosa. Estas duas parábolas são inseparáveis e complementares. Por isso, há de se supor que o comerciante que compra a pérola experimenta a mesma “alegria” que o homem que compra o campo por causa do tesouro.
A conclusão que se pode tirar destas parábolas é relativamente simples: o Reino dos céus é comparável a bens que ultrapassam em valor o que se pode imaginar. A quem o encontra é exigido o engajamento de toda a vida para adquiri-lo. Possuí-lo é uma grande alegria.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Os trabalhadores da vinha

Mt 20,1-16a

“O Reino dos Céus é como o proprietário que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. Combinou com os trabalhadores a diária e os mandou para a vinha. Em plena manhã, saiu de novo, viu outros que estavam na praça, desocupados, e lhes disse: ‘Ide também vós para a minha vinha! Eu pagarei o que for justo’. E eles foram. Ao meio-dia e em plena tarde, ele saiu novamente e fez a mesma coisa. Saindo outra vez pelo fim da tarde, encontrou outros que estavam na praça e lhes disse: ‘Por que estais aí o dia inteiro desocupados?’ Eles responderam: ‘Porque ninguém nos contratou’. Ele lhes disse: ‘Ide vós também para a minha vinha’. Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao administrador: ‘Chama os trabalhadores e faze o pagamento, começando pelos últimos até os primeiros!’ Vieram os que tinham sido contratados no final da tarde, cada qual recebendo a diária. Em seguida vieram os que foram contratados primeiro, pensando que iam receber mais. Porém, cada um deles recebeu apenas a diária. Ao receberem o pagamento, começaram a murmurar contra o proprietário: ‘Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o peso do dia e o calor ardente’. Ele respondeu a um deles: ‘Companheiro, não estou sendo injusto contigo. Não combinamos a diária? Toma o que é teu e vai! Eu quero dar a este último o mesmo que dei a ti. Acaso não tenho o direito de fazer o que quero com o que me pertence? Ou estás com inveja porque estou sendo bom?’ Assim, os últimos serão os primeiros.”

A justiça de Deus é amar sem distinção e sem medida.

A parábola, em primeiro lugar, revela algo de Deus: Deus é bom. A expressão dessa bondade é que ele chama a todos para a sua vinha. O amor ou bondade de Deus não são calculados. Em todo tempo, o Senhor toma a iniciativa de chamar a todos para o seu Reino. O amor não se compra, ele é oferecido. A justiça de Deus é amar sem distinção e sem medida.
De algum modo, e em relação aos outros, todos somos operários da undécima hora. O modo de agir de Deus faz balançar nossa escala de valores: “Eu quero dar a este último o mesmo que dei a ti. Acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence” (v. 15).
Aos olhos de Deus, o importante é ouvir o convite e aceitar os trabalhos na vinha. Este é o verdadeiro e justo salário.O amor de Deus toca as pessoas; ele não faz diferenças. O essencial é acolhê-lo.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A Deus, tudo!

Mt 19,16-22
Alguém se aproximou de Jesus e disse: “Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?” Ele respondeu: “Por que me perguntas sobre o que é bom? Um só é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos”. – “Quais?”, perguntou ele. Jesus respondeu: “Não cometerás homicídio, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, honra pai e mãe, ama teu próximo como a ti mesmo”. O jovem disse-lhe: “Já observo tudo isso. Que me falta ainda?” Jesus respondeu: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”. Quando ouviu esta palavra, o jovem foi embora cheio de tristeza, pois possuía muitos bens.

Deus na origem de toda bondade

“... que devo fazer de bom para ter a vida eterna?”. O homem relaciona vida eterna com fazer algo. É fazendo algo de bom que se alcança a vida eterna – é esta concepção que subjaz à pergunta daquele anônimo. Em primeiro lugar, a vida eterna é um dom de Deus. Jesus, por sua vez, vai ultrapassar a pergunta dele, afirmando que o essencial é buscar quem é o único bom.
Deus é a fonte de toda bondade, a fonte da vida. Se algo de bom pode ser feito, é porque Deus está na origem de todo bem. A vida eterna é dom e, como tal, precisa ser recebida. Não é merecimento pelo cumprimento irrepreensível da Lei, ainda que o cumprimento da Lei seja vida (ver: Dt 30,15-16). Só o cumprimento dos mandamentos não é suficiente; então, o que falta, ainda?
Para ser perfeito, isto é, para amar como se é amado por Deus, é preciso desapego, pois a vida eterna não se compra. O seguimento de Jesus é o caminho da vida eterna: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). “... jovem foi embora cheio de tristeza, pois possuía muitos bens” (v. 22).
A tristeza mostra que o jovem reconhece o seu apego. Mas será capaz de optar pela “perfeição”? Ele aceitou e fez o recomendado por Jesus? Nós não o sabemos! Mas cabe a nós respondermos, diante de Deus, estas mesmas questões, pois elas nos dizem respeito. A vida cristã autêntica depende da resposta a estas perguntas.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Tu e ele a sós! -

Mt 18,15-20
“Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, tu e ele a sós! Se ele te ouvir, terás ganho o teu irmão. Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, de modo que toda questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. Se ele não vos der ouvido, dize-o à igreja. Se nem mesmo à igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um publicano. Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. Eu vos digo mais isto: se dois de vós estiverem de acordo, na terra, sobre qualquer coisa que quiserem pedir, meu Pai que está nos céus o concederá. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles.”

Deus não desiste de nós, apesar de nós
No episódio ficou claro que a comunidade cristã deve ser caracterizada pelo serviço generoso, pelo acolhimento e pelo interesse pelo outro, a tal ponto de não medir esforços para recuperá-lo caso ele se distancie da comunidade.
A comunidade cristã é chamada a ser a comunidade dos reconciliados, em que o perdão deve ser oferecido e aceito. O próprio Cristo, cabeça da Igreja, nos reconciliou com o Pai.
A perícope de hoje é a consequência prática exigida pelo desejo expresso do Pai: “O Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum desses pequenos” (v. 14). Nesse sentido, a atitude exigida de cada membro do povo que Cristo reúne é a iniciativa na reconciliação: “Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, tu e ele a sós!” (v. 15). É simplesmente, em primeiro lugar, ter presente que a Igreja é uma comunidade de irmãos (“Se teu irmão”). Tendo sido ofendido pelo pecado do irmão, a questão, aqui, é tomar a iniciativa de ajudá-lo no seu processo de conversão, de agir com misericórdia para com ele. É um empenho que exige não medir esforços para que ele se converta e viva.
Por que o Senhor vai atrás da ovelha que se perdeu até encontrá-la, os membros da Igreja devem proceder do mesmo modo, pois a Igreja é sinal de Cristo no mundo, e não se pode proceder de outra maneira, porque Deus não desiste de nós, apesar de nós. O único limite para o perdão e a reconciliação é o fechamento do outro. O amor fraterno deverá sempre ser constituído e exigirá sempre o empenho de cada um e de todos os membros da comunidade.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O mais importante

Mt 18,1-5.10.12-14


Os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Quem é o maior no Reino dos céus?” Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles e disse: “Em verdade vos digo, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Quem se faz pequeno como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus. E quem acolher em meu nome uma criança como esta, estará acolhendo a mim mesmo. Cuidado! Não desprezeis um só destes pequenos! Eu vos digo que os seus anjos, no céu, contemplam sem cessar a face do meu Pai que está nos céus. Que vos parece? Se alguém tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixará as noventa e nove nos morros, para ir à procura daquela que se perdeu? E se ele a encontrar, em verdade vos digo, terá mais alegria por esta do que pelas noventa e nove que não se extraviaram. Do mesmo modo, o Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum desses pequenos”.

O maior é o menor
O capítulo 18 do evangelho segundo Mateus é denominado “discurso eclesial” ou discurso sobre a Igreja. Trata-se de instrução para a vida comunitária.
“Quem é o maior no Reino dos céus?” (v. 1). O maior é o menor. Por isso, Jesus afirma que é preciso converter-se. É preciso mudar de mentalidade porque o maior no Reino dos céus é o que serve a todos: “Quem quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos” (Mc 9,35). A “criança” é símbolo do próprio Cristo, que se fez servo de todos e que “sendo de condição divina não se apegou ao ser igual a Deus, mas se despojou, tomando a forma de escravo” (Fl 2,6-7a).
Os versículos 12-14 identificam os “pequenos com as ovelhas”. Os “pequenos” são também os membros do povo de Deus. Da comunidade é exigido empenho para que os seus membros não se dispersem. Se acontecer, a comunidade deve fazer todo esforço possível para recuperá-los (vv. 10-14; ver Ez 34,11-16).
Carlos Alberto Contieri, sj

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Jesus fala de sua morte e ressurreição

Mt 17,22-27
Quando estava reunido com os discípulos na Galileia, Jesus lhes disse: “O Filho do Homem vai ser entregue às mãos dos homens, e eles o matarão, mas no terceiro dia ressuscitará”. E os discípulos ficaram extremamente tristes. Quando chegaram a Cafarnaum, os que cobravam o imposto do templo aproximaram-se de Pedro e perguntaram: “O vosso mestre não paga o imposto do templo?” Pedro respondeu: “Paga, sim!” Ao entrar em casa, Jesus adiantou-se e perguntou: “Simão, que te parece: os reis da terra cobram impostos ou tributos de quem, do próprio povo ou dos estranhos?” Ele respondeu: “Dos estranhos!” – “Logo o próprio povo está isento”, retrucou Jesus, “mas, para não escandalizar essa gente, vai até o lago, lança o anzol e abre a boca do primeiro peixe que pescares. Ali encontrarás uma moeda valendo duas vezes o imposto; pega-a e entrega a eles por mim e por ti”.

Jesus é maior que o Templo
Ante o segundo anúncio da paixão-morte-ressurreição (o primeiro: 16,21-23), “os discípulos ficaram extremamente tristes” (v. 23). Nós já observamos que os anúncios da paixão do Senhor são acompanhados da incompreensão dos discípulos. Aqui se diz da “forte tristeza”. De que tristeza se trata? Tristeza da incompreensão. Talvez se fixem somente nas palavras paixão-morte e se esquecem de que a ressurreição passa pela paixão e morte do Senhor.
O episódio do imposto devido ao Templo é próprio do primeiro evangelho. A obrigação de pagar um imposto para o Templo se encontra em Neemias 10,33ss: “Impusemo-nos como obrigação: dar uma terça parte de um ciclo por ano para o culto do Templo de nosso Deus…” (ver também Ex 30,13). No entanto, a questão legal, aqui, é menos importante. Jesus amplia a questão do v. 24, perguntando a Simão: “os reis da terra cobram impostos ou tributos de quem, do próprio povo ou dos estranhos?” (v. 25). Ao que Pedro respondeu: “Dos estranhos!” (v. 26). Jesus ultrapassa, assim, um primeiro nível de sentido: os filhos, aqui, são filhos do Rei, isto é, os que reconhecem em Jesus o Filho bem amado do Pai. Desse modo, os discípulos estariam liberados do imposto. E Jesus? Ora, Jesus não é só maior que o Templo, mas onde aprouve a Deus habitar com a plenitude de sua graça.
A moeda na boca do peixe é um modo de sugerir a Simão pagar o imposto com o fruto do seu trabalho, isto é, a pesca.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Renunciar a si mesmo é optar por viver a vida de Deus

Mt 16,24-28

Jesus disse aos discípulos: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará. De fato, que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida? Ou que poderá alguém dar em troca da própria vida? Pois o Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta. Em verdade, vos digo: alguns dos que estão aqui não provarão a morte sem antes terem visto o Filho do Homem vindo com o seu Reino”.

Deus é surpreendente.
Na perícope precedente (Mt 16,13-23), depois que Jesus anuncia sua paixão, morte e ressurreição, Pedro tenta dissuadir Jesus de prosseguir o seu caminho: “Então Pedro o chamou de lado e começou a censurá-lo: ‘Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!’” (v. 22). Um Messias passar pela morte? Impensável! Mas Deus é surpreendente. É preciso confiança para poder compreender seu caminho. Não é que Pedro estivesse preocupado com o destino de Jesus. O anúncio da paixão é frustrante para Pedro; o Messias que está diante dele não é o que ele esperava ter encontrado. É que ele não pensa as coisas de Deus, mas as dos homens.
Há uma condição imposta pelo Senhor para ser seu discípulo: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (v. 24). Renunciar a si mesmo não é negar a própria história, mas viver a sua existência nesse dinamismo de entrega a Deus e ao próximo. Renunciar a si mesmo é optar por fazer o outro viver; é lutar contra o instinto de preservação da própria vida. Renunciar a si mesmo é optar por viver a vida de Deus, sem perder o que lhe é próprio; é viver o caminho de Jesus como algo grandioso; é renunciar a todo tipo de egoísmo.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Afirmação de Pedro

Mt 16,13-23


Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e ali perguntou aos discípulos: “Quem dizem as pessoas ser o Filho do Homem?” Eles responderam: “Alguns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros ainda, Jeremias ou algum dos profetas”. “E vós”, retomou Jesus, “quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Jesus então declarou: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do Inferno não poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. Em seguida, recomendou aos discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo. A partir de então, Jesus começou a mostrar aos discípulos que era necessário ele ir a Jerusalém, sofrer muito da parte dos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar. Então Pedro o chamou de lado e começou a censurá-lo: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!” Jesus, porém, voltou-se para Pedro e disse: “Vai para trás de mim, satanás! Tu estás sendo para mim uma pedra de tropeço, pois não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens!”

A identidade de Jesus
As multidões acorrem a Jesus de todas as partes; Jesus, por sua vez, acolhe a todos, ensina, instrui (Mt 5–7; 10; 13) e cura a todos (12,15).
Causa admiração e resistência. No entanto, muitos não chegam a compreender e reconhecer sua identidade profunda (cf. Mt 13,55-58) e querem matá-lo (cf. Mt 12,14). A razão da resistência e rejeição ao evangelho tem nome: incredulidade (13,58).
A dupla pergunta posta por Jesus aos os seus discípulos (16,13-15) revela a consciência que Jesus tem dessa incompreensão que atinge, inclusive, os discípulos.
O evangelho segundo João no-lo apresenta sem rodeios: “Vós me procurais não porque vistes sinais, mas porque comestes e ficastes saciados” (Jo 6,26).
A confissão de fé de Pedro ante a revelação de Deus – fé sobre a qual a Igreja está fundada (vv. 16-18) – precisará passar pelo crivo da paixão, morte e ressurreição do Senhor para poder ser vivida, ou melhor, se tornar um modo de viver (cf. v. 21). O Messias que Jesus é não é exatamente o que Pedro pensa ter encontrado (cf. vv. 22-23). Será necessário um longo caminho para que ele e todos os discípulos cheguem a uma conversão profunda, que atinja e ilumine a sua própria visão do Messias prometido por Deus.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Jesus, Moisés e Elias -

Lc 9,28b-36

Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para orar. Enquanto orava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou branca e brilhante. Dois homens conversavam com ele: eram Moisés e Elias. Apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a saída deste mundo que Jesus iria consumar em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam com muito sono. Quando acordaram, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele. E enquanto esses homens iam se afastando, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Nem sabia o que estava dizendo. Estava ainda falando, quando desceu uma nuvem que os cobriu com sua sombra. Ao entrarem na nuvem, os discípulos ficaram cheios de temor. E da nuvem saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-o!” Enquanto a voz ressoava, Jesus ficou sozinho. Os discípulos ficaram calados e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.

Manter a face voltada para o Pai
O que faz com que o rosto de Jesus seja transfigurado, na sua oração, é que ele mantém a face voltada para o Pai. É a comunhão com o Pai que transfigura e revela o mistério do Filho. A sugestão de Pedro cai no vazio, pois é Deus quem os envolve na nuvem, isto é, os faz participar da intimidade divina. O medo que eles sentem corresponde à entrada na presença de Deus; eles sabem que ver Deus é morrer (Jz 6,23; 13,22; Ex 33,20). Na verdade, diz o evangelista, “[Pedro] nem sabia o que estava dizendo” (v. 33). O que Pedro não compreende é que a verdadeira tenda, o lugar da presença de Deus, é Jesus. A voz que sai da nuvem e interpreta o acontecimento retoma a voz por ocasião do batismo (3,22; Is 42,1); à diferença que, dessa vez, a declaração do Pai se abre aos discípulos: Jesus é um profeta poderoso em gestos e palavras – trata-se de escutá-lo.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

O discípulo serve -

 Mt 20,20-28
A mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, aproximou-se de Jesus e prostrou-se para lhe fazer um pedido. Ele perguntou: “Que queres?” Ela respondeu: “Manda que estes meus dois filhos se sentem, no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda”. Jesus disse: “Não sabeis o que estais pedindo. Podeis beber o cálice que eu vou beber?” Eles responderam: “Podemos”. “Sim”, declarou Jesus, “do meu cálice bebereis, mas o sentar-se à minha direita e à minha esquerda não depende de mim. É para aqueles a quem meu Pai o preparou”. Quando os outros dez ouviram isso, ficaram zangados com os dois irmãos. Jesus, porém, chamou-os e disse: “Sabeis que os chefes das nações as dominam e os grandes fazem sentir seu poder. Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós, seja vosso escravo. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos”.

O resto pertence a Deus
A intervenção da mãe dos filhos de Zebedeu se dá depois do terceiro anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus (Mt 20,17-19).
Cada um dos anúncios da paixão provoca nos discípulos uma reação que revela sua incompreensão acerca do mistério de Cristo e da condição do discípulo. A mãe dos filhos de Zebedeu postula um lugar de privilégio para os seus dois filhos. Essa não deve ser a súplica do discípulo, pois o seu caminho deve se identificar com o caminho do mestre, pois “o discípulo não é mais que o Mestre; ao discípulo basta ser como o Mestre” (Mt 10,24-25). A identificação do discípulo com seu Mestre supõe participação efetiva na paixão e morte de Jesus: “Podeis beber o cálice que eu vou beber?” (v. 22). É esta decisão que importa: “Podemos”. O resto pertence a Deus. Aos discípulos compete, fundados no exemplo de Jesus, construir uma comunidade caracterizada pelo serviço generoso e gratuito.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

O semeador -

Mt 13,1-9

Jesus saiu de casa e sentou-se à beira-mar. Uma grande multidão ajuntou-se em seu redor. Por isso, ele entrou num barco e sentou-se ali, enquanto a multidão ficava de pé, na praia. Ele falou-lhes muitas coisas em parábolas, dizendo: “O semeador saiu para semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e os pássaros vieram e as comeram. Outras caíram em terreno cheio de pedras, onde não havia muita terra. Logo brotaram, porque a terra não era profunda. Mas, quando o sol saiu, ficaram queimadas e, como não tinham raiz, secaram. Outras caíram no meio dos espinhos, que cresceram sufocando as sementes. Outras caíram em terra boa e produziram fruto: uma cem, outra sessenta, outra trinta. Quem tem ouvidos, ouça!”

Deus confia na humanidade
A parábola do semeador, para transmitir sua mensagem, descreve uma atividade muito comum em Israel: a semeadura. O agricultor semeia para poder colher (ver: Is 55,10-11), e da sua colheita depende a sua vida e a de toda a sua família. Qualquer agricultor, depois de semear, fica preocupado com o crescimento da semente, e se a produção corresponderá ao esforço empreendido. A parábola mostra que o insucesso da semeadura é uma realidade para quem planta.
Não obstante, a esperança move sempre o agricultor: ele sabe, quando semeia, que há um terreno produtivo, uma terra boa, que não lhe decepcionará. O agricultor confia na sua terra, na sua semente. Se não houvesse essa confiança, ele iria para um outro lugar. O sentido para o ouvinte e para o leitor é este: se Deus envia o semeador para semear a boa semente é porque ele confia na terra e na humanidade: “Deus amou tanto o mundo que enviou o seu Filho único…” (Jo 3,16).
Deus semeia e sabe que a terra, não obstante tantas dificuldades, produzirá fruto. A parábola nos ensina, em primeiro lugar, algo sobre Deus: Deus confia na humanidade, e é esta fé de Deus em nós que alimenta nossa esperança e move nosso empenho em receber generosamente sua Palavra. Outro aspecto importante: o crescimento da semente depende de um processo, de tempo, para produzir seus frutos.

terça-feira, 23 de julho de 2013

A mãe e os irmãos de Jesus

Mt 12,46-50
 
Enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. Alguém lhe disse: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem falar contigo”. Ele respondeu àquele que lhe falou: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” E, estendendo a mão para os discípulos, acrescentou: “Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.

É preciso se aproximar e se deixar envolver por Jesus
O texto nos lembra o final do longo discurso sobre a montanha (5,7): “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor!, Senhor!’, entrará no Reino dos Céus, mas o que fez a vontade do meu Pai que está nos Céus” (7,21).
Num texto próprio a Marcos, ele nos dá a razão pela qual a parentela de Jesus vai ter com ele. O contexto é a multidão que incessantemente acorre a Jesus a ponto de não poderem, ele e seus discípulos, alimentar-se. A sua família toma a decisão de ir buscá-lo para levá-lo para casa, pois pensavam que ele estivesse “fora de si” (Mc 3,20-21). Observamos que o termo irmão, na linguagem bíblica, abrange os parentes. Ao chegar os familiares acompanhados da mãe de Jesus, eles são anunciados.
Por duas vezes se diz que estão “do lado de fora” (vv. 46.47). Esta sutil observação parece-nos importante: distante de Jesus, sem ouvir sua palavra, seus ensinamentos, sem contemplar o que ele faz em favor da multidão, sem se deixar tocar por ele, tudo parece loucura. É preciso se aproximar, entrar no “círculo” de Jesus, se aproximar e se deixar envolver por sua palavra, para poder fazer a experiência de que “o que é loucura no mundo, Deus escolheu para confundir o que é forte” (1Cor 1,27).
A família que Jesus reúne ultrapassa os laços de sangue, pois é “todo aquele que faz a vontade do Pai que está nos céus” (v. 59).

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Mulher, por que choras? -

Jo 20,1-2.11-18

No primeiro dia da semana, quando ainda estava escuro, Maria Madalena foi ao túmulo e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. Ela saiu correndo e foi se encontrar com Simão Pedro e com o outro discípulo, aquele que Jesus mais amava. Disse-lhes: “Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram”. Maria tinha ficado perto do túmulo, do lado de fora, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se para olhar dentro do túmulo. Ela enxergou dois anjos, vestidos de branco, sentados onde tinha sido posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Os anjos perguntaram: “Mulher, por que choras?” Ela respondeu: “Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram”. Dizendo isto, Maria virou-se para trás e enxergou Jesus em pé, mas ela não sabia que era Jesus. Jesus perguntou-lhe: “Mulher, por que choras? Quem procuras?” Pensando que fosse o jardineiro, ela disse: “Senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o colocaste, e eu irei buscá-lo”. Então, Jesus falou: “Maria!” Ela voltou-se e exclamou, em hebraico: “Rabûni!” (que quer dizer: Mestre). Jesus disse: “Não me segures, pois ainda não subi para junto do Pai. Mas vai dizer aos meus irmãos: subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”. Então, Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: “Eu vi o Senhor”, e contou o que ele lhe tinha dito.

O salto próprio da fé
O primeiro dia da semana é o tempo privilegiado do encontro com o Ressuscitado. Maria Madalena desconcertada e embebida na tristeza, vai ao túmulo, ainda de madrugada, quando é difícil ver com clareza. Só a aparência (a pedra retirada da entrada do sepulcro e o sepulcro vazio) não é suficiente para a fé.
É necessário um olhar mais límpido e profundo. Efetivamente, há uma tristeza que imobiliza e impede o salto próprio da fé. As lágrimas da desolação distorcem o olhar. Por isso, os mensageiros de Deus dirão a Maria Madalena: “... por que choras? Quem procuras?” (v. 15). Esta palavra é extensiva a todo leitor do evangelho, a toda a Igreja. O encontro com o Senhor da vida enxuga nossas lágrimas; é ele quem nos liberta da realidade da morte. Sua presença e sua palavra suscitam em Maria e em nós a exclamação do reconhecimento e da fé: “Rabûni!” (v. 16). Maria Madalena, testemunha do Ressuscitado, pode compreender agora que o corpo do Senhor não foi roubado, mas transfigurado. Esse encontro fará dela arauto de uma boa notícia: “Eu vi o Senhor!” (v. 18).
Carlos Alberto Contieri, sj

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Jesus e o sábado

Mt 12,1-8
Naquele tempo, num dia de sábado, Jesus passou pelas plantações de trigo. Seus discípulos estavam com fome e começaram a arrancar espigas para comer. Vendo isso, os fariseus disseram-lhe: “Olha, os teus discípulos fazem o que não é permitido fazer em dia de sábado!” Jesus respondeu: “Nunca lestes o que fez Davi, quando ele teve fome e seus companheiros também? Ele entrou na casa de Deus e todos comeram os pães da oferenda, que nem a ele, nem aos seus companheiros era permitido comer, mas unicamente aos sacerdotes? Ou nunca lestes na Lei, que em dia de sábado, no templo, os sacerdotes violam o sábado e não são culpados? Ora, eu vos digo: aqui está quem é maior do que o templo. Se tivésseis chegado a compreender o que significa, ‘Misericórdia eu quero, não sacrifícios’, não condenaríeis inocentes. De fato, o Filho do Homem é Senhor do sábado”.

O sábado é dom de Deus
Com poucas variantes, este relato se encontra também nos outros dois sinóticos (Mc 2,23-28; Lc 6,1-5). Trata-se de uma controvérsia acerca do descanso sabático: “… os teus discípulos fazem o que não é permitido fazer em dia de sábado!” (v. 2). Os fariseus são, aqui, os adversários.
Mas o que é permitido fazer em dia de sábado? A cena se passa numa plantação de trigo. Segundo podemos compreender da objeção dos fariseus, em dia de sábado era proibido arrancar as espigas. Jesus responde recorrendo, em primeiro lugar, à história de Davi (1Sm 21,1-10). A fome e a necessidade de manterem em boas condições a vida justificam a atitude de Davi.
Este fato da história de Davi é um exemplo que justifica e ilustra a defesa que Jesus faz de seus discípulos. Jesus interpreta corretamente à Torá, pois ela é dada ao povo de Deus para proteger o dom da vida e da liberdade. O sábado é dom de Deus (cf. Ex 16,29) para recordar a escravidão do Egito e a libertação do povo por Deus (cf. Dt 5,15). Exatamente por isso, no sábado é permitido fazer o bem e salvar uma vida.
Jesus é mais que o Templo, pois nele Deus habita plenamente. Citando Os 6,6, Jesus põe a misericórdia, que supera todo sacrifício, como princípio da ação (ver: Is 58,3-8). O sábado é tempo privilegiado de manifestação do poder salvador do Filho do Homem, poder de dar vida, de fazer viver.
Carlos Alberto Contieri, sj

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Um convite de Jesus

Mt 11,28-30


“Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e sede discípulos meus, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.”

A sabedoria de Deus
“Vinde a mim todos os que desejais, fartai-vos de meus frutos” (Eclo 24,19-21).
Jesus é o Sábio, mais propriamente, a “sabedoria de Deus”, que atrai todos a si para instruí-los na Lei de Deus: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso” (v. 28).
O “jugo” (ou fardo) era uma peça de madeira que se punha sobre o pescoço do animal para equilibrar o peso.
Na tradição bíblica, entre outros significados, ele se refere à Lei (ver: Jr 2,20; 5,5). Ao criticar os escribas e fariseus, Jesus diz que eles: “... amarram pesados fardos sobre os membros dos homens, mas eles mesmo nem com um dedo se dispõem a movê-los” (23,4). Há um modo de interpretar e pôr em prática a Lei que abate, que tira a alegria, expurga a vida. A Lei de Deus é para a vida e a liberdade: “... se ouves os mandamentos do Senhor teu Deus, andando em seus caminhos e observando os seus preceitos, seus estatutos e as suas normas, viverás e te multiplicarás” (Dt 30,16).
“Tomai sobre vós o meu jugo… Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve (vv. 29.30).
A Lei do Senhor é a Lei do amor: “... Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). O amor faz viver, está na origem da vida. O amor é a expressão máxima da vida cristã: “... Ninguém teve mais amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).
O Senhor entregou a sua vida por nós!

terça-feira, 16 de julho de 2013

Quem é da família de Jesus?

Mt 12,46-50
Enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. Alguém lhe disse: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem falar contigo”. Ele respondeu àquele que lhe falou: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” E, estendendo a mão para os discípulos, acrescentou: “Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.

Sem se deixar tocar por ele, tudo parece loucura.
O texto nos lembra do final do longo discurso sobre a montanha (5,7): “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor!, Senhor!’, entrará no Reino dos Céus, mas o que fez a vontade do meu Pai que está nos Céus” (7,21).
Num texto próprio a Marcos, ele nos dá a razão pela qual a parentela de Jesus vai ter com ele. O contexto é a multidão que incessantemente acorre a Jesus a ponto de não poderem, ele e seus discípulos, alimentar-se. A sua família toma a decisão de ir buscá-lo para levá-lo para casa, pois pensavam que ele estivesse “fora de si” (Mc 3,20-21). Observamos que o termo “irmão”, na linguagem bíblica, abrange os parentes. Ao chegar os familiares acompanhados da mãe de Jesus, eles são anunciados.
Por duas vezes se diz que estão “do lado de fora” (vv. 46.47). Esta sutil observação parece-nos importante: distante de Jesus, sem ouvir sua palavra, seus ensinamentos, sem contemplar o que ele faz em favor da multidão, sem se deixar tocar por ele, tudo parece loucura. É preciso se aproximar, entrar no “círculo” de Jesus, se aproximar e se deixar envolver por sua palavra, para poder fazer a experiência de que “o que é loucura no mundo, Deus escolheu para confundir o que é forte” (1Cor 1,27).
A família que Jesus reúne ultrapassa os laços de sangue, pois é “todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus” (v. 59).

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Festa em Honra a São Francisco de Assis

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A vida eterna acima de qualquer interesse -

Mt 10,34–11,1
 
“Não penseis que vim trazer paz à terra! Não vim trazer paz, mas sim, a espada. De fato, eu vim pôr oposição entre o filho e seu pai, a filha e sua mãe, a nora e sua sogra; e os inimigos serão os próprios familiares. Quem ama pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. E quem ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem buscar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará. Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Quem receber um profeta por ele ser profeta, terá uma recompensa de profeta. Quem receber um justo por ele ser justo, terá uma recompensa de justo. E quem der, ainda que seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequenos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não ficará sem receber sua recompensa.” Quando Jesus terminou estas instruções aos doze discípulos, partiu dali, a fim de ensinar e proclamar nas cidades da região.

 Nenhum laço afetivo pode ser obstáculo para o seguimento de Jesus Cristo.
A lealdade a Jesus e a decisão de segui-lo estão acima de qualquer lealdade e de qualquer outra decisão. Jesus é “o fazedor de paz” (Mt 5,9); ele não promove a guerra nem sequer a discórdia. A sua mensagem é que suscita a hostilidade daqueles que a rejeitam. Os discípulos devem comunicar a paz por onde andarem, mesmo sendo enviados “como ovelhas para o meio dos lobos” (v. 16). Por vezes os inimigos serão os próprios familiares (v. 36). Nenhum laço afetivo deve preceder ao amor por Jesus, pois este é o fundamento e a inspiração de todo amor plenamente humano. Nenhum laço afetivo pode ser obstáculo para o seguimento de Jesus Cristo.
A vida do discípulo, a exemplo da do Mestre, não está na defesa de seus próprios interesses e privilégios, mas na entrega generosa de toda a vida ao Senhor: “… e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará” (v. 39). A identificação do discípulo com o Mestre deve ser tal, que acolher o discípulo é acolher o próprio Senhor. O discípulo é representante de Cristo e portador de sua mensagem, assim como Cristo o é do Pai: “… não venho por mim mesmo, foi o Pai que me enviou” (Jo 8,41).
Carlos Alberto Contieri,sj

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A missão dos doze apóstolos

Mt 10,7-15

“No vosso caminho, proclamai: ‘O Reino dos Céus está próximo’. Curai doentes, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expulsai demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar! Não leveis ouro, nem prata, nem dinheiro à cintura; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem bastão, pois o trabalhador tem direito a seu sustento. Em qualquer cidade ou povoado em que entrardes, procurai saber quem ali é digno e permanecei com ele até a vossa partida. Ao entrardes na casa, saudai-a: se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; se ela não for digna, volte para vós a vossa paz. Se alguém não vos receber, nem escutar vossas palavras, saí daquela casa ou daquela cidade e sacudi a poeira dos vossos pés. Em verdade, vos digo: no dia do juízo, a terra de Sodoma e Gomorra receberá uma sentença menos dura do que aquela cidade.”

A missão cristã não é feita só de acolhimento e sucesso.
Aos Doze são dadas as orientações de como realizar a missão e qual deve ser a atitude deles. O anúncio da proximidade do Reino deve ser acompanhado da ação que liberta as pessoas do mal que desfigura o ser humano e as faz experimentar estar distante de Deus. O que é dado gratuitamente por Deus e deve ser oferecido como dom às pessoas, é o Espírito Santo. A vida dos apóstolos está nas mãos de Deus, e a sua segurança não está nos bens deste mundo, mas em Deus somente.
O despojamento é exigido, pois é necessário liberdade para ir aonde se é enviado pelo Senhor, confiar na providência de Deus e viver cada dia sem se preocupar com o amanhã, “pois o trabalhador tem direito ao seu sustento”. O discípulo não é mais que o Mestre que o enviou, por isso Jesus previne os apóstolos da possibilidade de rejeição da mensagem cristã.
O juízo acerca da rejeição da missão cristã cabe somente a Deus. Em todo caso, a missão cristã não é feita só de acolhimento e sucesso, mas também de rejeição e fracasso. Em todas estas situações é preciso manter viva a confiança no Senhor que envia seus discípulos e está presente “todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28,20).
O conteúdo da proclamação dos apóstolos é a proximidade do “Reino dos Céus” (v. 7). O que é celeste, o reinado de Deus, é sentido na pessoa de Jesus Cristo e deve ser prolongado historicamente na missão da Igreja.
Carlos Alberto Contieri, sj

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Os doze apóstolos

Mt 10,1-7

Chamando os doze discípulos, Jesus deu-lhes poder para expulsar os espíritos impuros e curar todo tipo de doença e de enfermidade. Estes são os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão, chamado Pedro, e depois André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor de Jesus. Jesus enviou esses doze, com as seguintes recomendações: “Não deveis ir aos territórios dos pagãos, nem entrar nas cidades dos samaritanos! Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel! No vosso caminho, proclamai: ‘O Reino dos Céus está próximo’”.

A compaixão de Jesus pela multidão
O capítulo 10 de Mateus é o segundo grande discurso do evangelho, chamado “discurso missionário”.
O envio dos Doze está em relação com a compaixão de Jesus pela multidão que está como ovelha sem pastor (9,36): cansada, abatida, desprotegida, sem rumo, sem voz que a oriente. Para a missão, Jesus concede aos apóstolos, cuja lista Mateus apresenta (vv. 24), “poder para expulsar os espíritos impuros e curar todo tipo de doença e de enfermidade” (v. 1). Esta observação do autor nos permite concluir que a missão dos Doze é a participação na missão do próprio Jesus (ver, p. ex., 9,35). O poder concedido é o poder de Jesus, o Espírito Santo, “força do Alto” (cf. At 1,8).
Os destinatários primeiros da ação missionária são as “ovelhas perdidas da casa de Israel” (v. 6). No final do episódio de Zaqueu, Jesus faz a seguinte declaração: “O Filho de Homem veio buscar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10; Mt 9,13). O objeto da proclamação é a proximidade do Reino de Deus (v. 6). O reinado de Deus se faz presente na pessoa de Jesus, por suas palavras e seus gestos.
Carlos Alberto Contieri, sj

terça-feira, 9 de julho de 2013

A cura de um mudo

Mt 9,32-38

Enquanto os cegos estavam saindo, as pessoas trouxeram a Jesus um possesso mudo. Expulso o demônio, o mudo começou a falar. As multidões ficaram admiradas e diziam: “Nunca se viu coisa igual em Israel”. Os fariseus, porém, diziam: “É pelo chefe dos demônios que ele expulsa os demônios”. Jesus começou a percorrer todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, proclamando a Boa-Nova do Reino e curando todo tipo de doença e de enfermidade. Ao ver as multidões, Jesus encheu-se de compaixão por elas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse aos discípulos: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita!”

“Nunca se viu coisa igual em Israel”
O nosso texto começa evocando o episódio da cena de dois cegos. Agora, é a vez de um mudo. A mudez era, segundo a mentalidade da época, atribuída a um demônio. O mal, é verdade, impede de falar bem, distorce as palavras, impede de proclamar as maravilhas de Deus. Mateus não descreve como se deu a cura; limita-se a observar que “expulso o demônio, o mudo começou a falar”. Tendo presente Isaías 35,5-6, a cena de um mudo é um sinal dos tempos messiânicos.
O contraste entre a reação da multidão (v. 33: “Nunca se viu coisa igual em Israel”) e dos fariseus (v. 34) é visado pelo evangelista. Enquanto a multidão reconhece a novidade, já os fariseus, ícones da resistência a Jesus, proclamam, pela estreiteza de visão, que em Jesus não há nada de novo, ao contrário, ele é instrumento de Satanás.
Os vv. 35-37 preparam o relato do envio dos Doze e o discurso missionário (Mt 10).
O v. 35 é um sumário, um resumo, da atividade de Jesus. Por onde passa, o Senhor vai libertando o ser humano de seus males para que possa viver. A sua própria vida é proclamação e testemunho da proximidade do Reino de Deus. Esta Boa-Notícia se realiza pela palavra e pela ação de Jesus em favor das pessoas. É a compaixão que leva Jesus a ir ao encontro das pessoas e a se deixar encontrar por elas. É com este mesmo sentimento que os Doze deverão realizar a missão que receberão do Senhor.
Necessitarão de mais trabalhadores para socorrer a todos, por isso, é preciso suplicar Àquele que conhece os corações para que conceda a ajuda adequada.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Jesus cura uma mulher e uma menina

Mt 9,18-26

Enquanto Jesus estava falando, um chefe aproximou-se, prostrou-se diante dele e disse: “Minha filha faleceu agora mesmo; mas vem impor a mão sobre ela, e viverá”. Jesus levantou-se e o acompanhou, junto com os discípulos. Nisto, uma mulher que havia doze anos sofria de hemorragias veio por trás dele e tocou na franja de seu manto. Ela pensava consigo: “Se eu conseguir ao menos tocar no seu manto, ficarei curada”. Jesus voltou-se e, ao vê-la, disse: “Coragem, filha! A tua fé te salvou”. E a mulher ficou curada a partir daquele instante. Chegando à casa do chefe, Jesus viu os tocadores de flauta e a multidão agitada, e disse: “Retirai-vos! A menina não morreu; ela dorme”. Mas eles zombavam dele. Afastada a multidão, ele entrou, pegou a menina pela mão, e ela se levantou. E a notícia disso espalhou-se por toda aquela região.

Jesus, o Senhor da vida
Entre a súplica de um chefe por sua filha já morta e a chegada na casa deste notário, há o episódio da mulher que sofria de um fluxo de sangue. Nos dois episódios, Jesus irrompe como o Senhor da vida.
No horizonte simbólico antigo, perder sangue significa perder a vida. A hemorragia torna a própria pessoa e quem a toca impura. A fé da mulher está em que ela rompe a barreira da Lei de pureza para tocar na franja da veste de Jesus.
A “franja” era para ajudar a lembrar e a cumprir os mandamentos do Senhor (cf. Nm 15,37-41). Mas a razão dos mandamentos é fazer viver, preservar o dom da vida, não permitir cair na escravidão (cf. Nm 15,41). Tocando Jesus, ao invés de torná-lo impuro, ela é purificada e, pela fé, é salva e recebe o dom da vida.
Jesus chega, então, à casa do chefe. Para os cristãos, os ritos de lamentação fúnebre perderam sentido (ver: 1Ts 4,13-14), já que a morte era comparada ao sono, algo transitório, na espera do despertar da Ressurreição. Aqui é Jesus quem tem a iniciativa de tocar a menina, pegando-a pela mão, como que para despertá-la do sono. É o Senhor da vida que desperta para a feliz ressurreição.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Mateus acolhe e é acolhido

Mt 9,9-13
 
Ao passar, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: “Segue-me!” Ele se levantou e seguiu-o. Depois, enquanto estava à mesa na casa de Mateus, vieram muitos publicanos e pecadores e sentaram-se à mesa, junto com Jesus e seus discípulos. Alguns fariseus viram isso e disseram aos discípulos: “Por que vosso mestre come com os publicanos e pecadores?” Tendo ouvido a pergunta, Jesus disse: “Não são as pessoas com saúde que precisam de médico, mas as doentes. Ide, pois, aprender o que significa: ‘Misericórdia eu quero, não sacrifícios’. De fato, não é a justos que vim chamar, mas a pecadores”.

A misericórdia precede e ultrapassa o sacrifício.
Ninguém está excluído do seguimento de Jesus Cristo. O seu chamado exigente é para todos. Mateus, que Jesus chama ao seu seguimento, é coletor de impostos, isto é, pecador público (ver: Lc 19,7). O relato de Mateus omite que a refeição tenha sido na casa de Levi, ao contrário de Marcos e Lucas, que o dizem explicitamente (Mc 2,15; Lc 5,29). Em Marcos e Lucas, a refeição oferecida por Levi tem um tom de despedida de sua vida anterior. Aqui em Mateus, a impressão é que Jesus acolhe na sua própria casa os coletores de impostos e pecadores (cf. v. 10). O autor do quarto evangelho fará o Senhor dizer: “Na casa de meu Pai tem muitas moradas” (Jo 14,2). A pergunta dos fariseus é dirigida aos discípulos de Jesus (cf. v. 11), mas é Jesus quem toma a iniciativa de respondê-la (cf. v. 12-13), pois é a ocasião de explicitar sua missão: “De fato, não é a justos que vim chamar, mas a pecadores” (v. 13). A citação de Os 6,6 (“é misericórdia que eu quero, e não sacrifício”), e repetida em Mt 12,7, deve funcionar como princípio de ação. A misericórdia precede e ultrapassa o sacrifício.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Jesus cura um paralítico

Mt 9,1-8
 
Entrando num barco, Jesus passou para a outra margem do lago e foi para a sua cidade. Apresentaram-lhe, então, um paralítico, deitado numa maca. Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: “Coragem, filho, teus pecados estão perdoados!” Então alguns escribas pensaram: “Esse homem está blasfemando”. Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: “Por que tendes esses maus pensamentos em vossos corações? Que é mais fácil, dizer: ‘Os teus pecados são perdoados’, ou: ‘Levanta-te e anda’? Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar pecados – disse então ao paralítico –, levanta-te, pega a tua maca e vai para casa”. O paralítico levantou-se e foi para casa. Vendo isso, a multidão ficou cheia de temor e glorificou a Deus por ter dado tal poder aos seres humanos.

“Coragem, filho, os teus pecados estão perdoados!”

O mal não só desfigura o ser humano, mas faz com que ele sinta Deus distante. Este mesmo relato encontra-se em Marcos e Lucas, com traços típicos de cada um dos evangelistas (Mc 2,1-12; Lc 5,17-26). A paralisia é uma doença incurável; é como se a pessoa fosse um “morto vivo”, como dizemos coloquialmente. O ponto de partida tem de ser a fé capaz de reconhecer que para Deus nada é impossível. É esta fé, da qual Jesus se admira, que impulsiona aqueles anônimos a levarem o paralítico diante de Jesus. Na antiguidade bíblica, a enfermidade está ligada ao pecado. Por esta razão, a cura é precedida pela palavra que liberta: “Coragem, filho, os teus pecados estão perdoados!” (v. 2). Em Marcos 2,7, é sugerido que só Deus pode perdoar pecados. Por isso, os letrados dizem que ele blasfema. Mas a blasfêmia não está no perdão oferecido; o mal está no pensamento dos opositores de Jesus, que se recusam a reconhecer que ele é o Filho do Homem e tem o poder de perdoar os pecados. A Igreja, povo que o Senhor reúne, é o lugar do perdão e da reconciliação. A comunidade cristã é a comunidade dos reconciliados.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Jesus e Tomé

Jo 20,24-29
Tomé, chamado Gêmeo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaram-lhe: “Nós vimos o Senhor!” Mas Tomé disse: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no seu lado, não acreditarei”. Oito dias depois, os discípulos encontravam-se reunidos na casa, e Tomé estava com eles. Estando as portas fechadas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”. Depois disse a Tomé: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!” Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!” Jesus lhe disse: “Creste por que me viste? Bem-aventurados os que não viram, e creram!”

Para crer não é necessário ver
Habitualmente, Tomé é taxado unicamente como o homem da dúvida ou da falta de fé. Ele, gêmeo da comunidade cristã, é igualmente o homem da fé: “Meu Senhor e meu Deus!” (v. 28). Com a sua profissão de fé praticamente termina o evangelho segundo João. O episódio de Tomé ilustra como a comunidade cristã chega à fé em Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos. Tomé não acolheu o testemunho dos discípulos que disseram: “Nós vimos o Senhor” (v. 25). Nisto, exatamente, consistirá a repreensão do Senhor a ele: “Creste por que me viste? Bem-aventurados os que não viram, e creram!” (v. 29). A fé é fundamentalmente testemunho aceito e transmitido. Ninguém tem acesso imediato ao fato do Cristo Ressuscitado. Nosso acesso se dá através da transmissão daqueles que foram testemunhas oculares do acontecido com Jesus (cf. Lc 1,1-4). Através do testemunho deles, nós podemos experimentar os efeitos da ressurreição do Senhor em nós.
Carlos Alberto Contieri, sj

terça-feira, 2 de julho de 2013

Jesus acalma a tempestade

Mt 8,23-27

 
Então Jesus entrou no barco, e seus discípulos o seguiram. Nisso, veio uma grande tempestade sobre o mar, a ponto de o barco ser coberto pelas ondas. Jesus, porém, dormia. Eles foram acordá-lo. “Senhor”, diziam, “salva-nos, estamos perecendo!” – “Por que tanto medo, homens de pouca fé?”, respondeu ele. Então, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar, e fez-se uma grande calmaria. As pessoas ficaram admiradas e diziam: “Quem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?”


“Por que tanto medo, homens de pouca fé?”

Jesus entra no barco seguido por seus discípulos para fazer uma travessia à outra margem do Lago (cf. v. 18). A travessia é feita de surpresa, pois ela pode ser dificultada pelos ventos que levantam as ondas, as quais ameaçam o barco e seus ocupantes (v. 24). No universo simbólico da tradição bíblica, o mar evoca o mal e a morte. Enquanto Jesus dorme (ver: Jn 1,4-6), os discípulos se apavoram: “Senhor, salva-nos, estamos perecendo!” (v. 25). A menção de que Jesus dormia pode aludir à sua morte. Ao discípulo é exigida confiança, não importa em que situação: “Por que tanto medo, homens de pouca fé?” (v. 26). O medo é contrário à fé. E o discípulo só será plenamente livre quando superar, pela fé, o medo da morte. Jesus repreende o mar como se estivesse expulsando um demônio (cf. Mc 1,21-28). Sua palavra é eficaz como é eficaz a Palavra de Deus, que domina sobre as ondas do mar (Sl 68[67],2; Sl 89[88],10). O Senhor acordado do seu sono domina o mal, vence a morte; sua presença dá segurança, pois a sua vitória permite continuar a travessia, a peregrinação pela história. Mas “quem é este que até os ventos e o mar obedecem?” (v. 27). Cabe a cada um que se encontra diante do Senhor responder.
Carlos Alberto Contieri, sj

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Algumas pessoas que queriam seguir Jesus

Mt 8,18-22
Vendo uma grande multidão ao seu redor, Jesus deu ordem de passar para a outra margem do lago. Nisso, um escriba aproximou-se e disse: “Mestre, eu te seguirei aonde fores”. Jesus lhe respondeu: “As raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”. Um outro dos discípulos disse a Jesus: “Senhor, permite-me que primeiro eu vá enterrar meu pai”. Mas Jesus lhe respondeu: “Segue-me, e deixa que os mortos enterrem os seus mortos”.

A liberdade diante do seguimento de Jesus
O relato de vocação do evangelho de hoje se encontra, também no evangelho de Lucas, porém, com diferenças importantes (9,57-62). Em Lucas há três anônimos que recorrem a Jesus: o primeiro e o terceiro tomam a iniciativa (vv. 57.61), enquanto o segundo é chamado por Jesus (v. 59). Em Mateus, um escriba toma a iniciativa (v. 19), e também um entre os discípulos, que põe uma condição ao chamado de Jesus (v. 21). Ao escriba disposto a seguir Jesus, ele alerta que a vocação do discípulo é itinerante e exige desapego: “As raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (v. 20). Ao outro, que não sabemos se a iniciativa foi dele ou de Jesus, o Senhor adverte que não há nada que possa anteceder ou retardar o seguimento. Se ninguém é excluído do seguimento de Cristo, é verdade, igualmente, que ninguém pode pôr condições para segui-lo.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Jesus cura um leproso

Mt 8,1- 4
Quando Jesus desceu da montanha, grandes multidões o seguiram. Nisso, um leproso se aproximou e caiu de joelhos diante dele, dizendo: “Senhor, se queres, tens o poder de purificar-me”. Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero, fica purificado”. No mesmo instante, o homem ficou purificado da lepra. Então Jesus lhe disse: “Olha, não contes nada a ninguém! Mas vai mostrar-te ao sacerdote e apresenta a oferenda prescrita por Moisés; isso lhes servirá de testemunho”.

Jesus arranca do ser humano tudo o que o desfigura

Jesus é o Senhor que purifica e faz viver. É conhecida a condição do leproso e sua discriminação, inclusive religiosa. O Levítico o descreve com detalhes: “O leproso portador desta enfermidade trará suas vestes rasgadas e seus cabelos sem pentear; cobrirá o bigode e clamará: Impuro! Impuro! (…); morará à parte: sua habitação será fora do acampamento” (Lv 13,45-46). A lepra era tida como castigo de Deus e só Deus podia libertar a pessoa de tal enfermidade (cf. Nm 12,9-13). A súplica do leproso é uma verdadeira profissão de fé: “... se queres, tens o poder de purificar-me” (v. 2). A disposição de Jesus revela o próprio desejo de Deus: arrancar do ser humano tudo o que o desfigura e lhe tira a vida, tudo o que impede uma verdadeira relação fraterna. A ação de Jesus, que reintegra a pessoa no seio da comunidade e na comunhão com Deus, elimina o equívoco de que Deus esteja na origem de nossos males. Os condicionamentos histórico-culturais podem deformar a imagem de Deus, e impedir nós todos de entrarmos no coração de Deus, acesso que se tornou possível para nós em Jesus Cristo, “a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15).
Carlos Alberto Contieri, sj

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Quem entra no Reino do Céu.

Mt 7,21-29
“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor! Senhor!’, entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus. Naquele dia, muitos vão me dizer: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos muitos milagres?’ Então, eu lhes declararei: ‘Jamais vos conheci. Afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade’. “Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática é como um homem sensato, que construiu sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos deram contra a casa, mas a casa não desabou, porque estava construída sobre a rocha. Por outro lado, quem ouve estas minhas palavras e não as põe em prática é como um homem sem juízo, que construiu sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos sopraram e deram contra a casa, e ela desabou, e grande foi a sua ruína!” Quando ele terminou estas palavras, as multidões ficaram admiradas com seu ensinamento. De fato, ele as ensinava como quem tem autoridade, não como os escribas.

Ouvir e praticar a Palavra do Senhor
Nossa perícope é a conclusão do discurso denominado ‘Sermão da Montanha’ (Mt 5–7). Não são as muitas palavras ou o louvor estéril que caracteriza o discípulo, mas o seu engajamento afetivo e efetivo em realizar a vontade de Deus: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor! Senhor!’, entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus” (v. 21). Trata-se de ouvir e pôr em prática a palavra do Senhor, pois, de alguma maneira, nesta palavra de vida está a vontade de Deus para cada um. É esse dinamismo de escuta e prática da palavra do Senhor que dá solidez à Igreja, comunidade dos discípulos, casa “construída sobre a rocha” (v. 24) da fé.
Carlos Alberto Contieri, sj

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Os falsos profetas



Mt 7,15-20
 
“Cuidado com os falsos profetas: eles vêm até vós vestidos de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes. Pelos seus frutos os conhecereis. Acaso se colhem uvas de espinheiros, ou figos de urtigas? Assim, toda árvore boa produz frutos bons, e toda árvore má produz frutos maus. Uma árvore boa não pode dar frutos maus, nem uma árvore má dar frutos bons. Toda árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.”

Pelos seus frutos os conhecereis
Os discípulos são postos de sobreaviso contra os falsos profetas. O Deuteronômio dá o critério para reconhecer o falso profeta: “Se o profeta fala em nome do Senhor, mas a sua palavra não se cumpre, não se realiza, trata-se, então, de uma palavra que o Senhor não disse…” (18,22; ver também: 13,2-6). Certamente, no início da Igreja, como em nossos dias, havia vozes que confundiam os discípulos e induziam a uma falsa doutrina e criavam divisões no seio da comunidade: “Houve, contudo, falsos profetas no seio do povo, como haverá entre vós falsos mestres… Por avareza, procurarão, com discursos fingidos, fazer de vós objeto de negócios…” (2Pd 2,1-3). É preciso prudência e discernimento para não se deixar levar pela aparência ou o palavrório: “... pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7,20). O autor da carta de Tiago exprime esta mesma ideia da seguinte maneira: “Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo bom comportamento suas obras repassadas de docilidade e sabedoria” (Tg 3,13).
Carlos Alberto Contieri, sj

terça-feira, 25 de junho de 2013

O caminho que leva à vida

Mt 7,6.12-14
“Não deis aos cães o que é santo, nem jogueis vossas pérolas diante dos porcos. Pois estes, ao pisoteá-las, se voltariam contra vós e vos estraçalhariam. Tudo, portanto, quanto desejais que os outros vos façam, fazei-o, vós também, a eles. Isto é a Lei e os Profetas. Entrai pela porta estreita! Pois larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram! Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram!”

O amor ao próximo que, unido ao amor de Deus, e precedido por ele, é a plenitude de toda a Escritura.

À primeira vista, as palavras de Jesus parecem enigmáticas. Os cães são para o Salmo 22 símbolo dos inimigos do justo (Sl 22[21],17); os porcos, símbolo dos pagãos; assim eram chamados os romanos. Trata-se de não profanar o que é santo e agir com discernimento e prudência. Por causa de sua fé é que os cristãos foram perseguidos.
A regra de ouro (v. 12) é conhecida tanto no universo bíblico como extrabíblico. Trata-se de uma regra de solidariedade (ver: Eclo 31,15). A regra de ouro pode ser considerada uma variante do amor ao próximo que, unido ao amor de Deus, e precedido por ele, é a plenitude de toda a Escritura.
Os versículos 13 e 14 utilizam a imagem tradicional dos dois caminhos (ver, por exemplo: Pr 4,10-19). “Entrai pela porta estreita…” (v. 13). De que porta se trata? É a própria mensagem de Jesus que deve ser posta em prática pelos discípulos. Jesus mesmo, toda a sua existência, é o caminho: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6); ele é igualmente a porta: “Eu sou a porta das ovelhas […] quem entra por mim será salvo” (Jo 10,7.9).

segunda-feira, 24 de junho de 2013

O nascimento de João Batista

Lc 1,57- 66.80
Quando se completou o tempo da gravidez, Isabel deu à luz um filho. Os vizinhos e os parentes ouviram quanta misericórdia o Senhor lhe tinha demonstrado, e alegravam-se com ela. No oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. A mãe, porém, disse: “Não. Ele vai se chamar João”. Disseram-lhe: “Ninguém entre os teus parentes é chamado com este nome!” Por meio de sinais, então, perguntaram ao pai como ele queria que o menino se chamasse. Zacarias pediu uma tabuinha e escreveu: “João é o seu nome!” E todos ficaram admirados. No mesmo instante, sua boca se abriu, a língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus. Todos os vizinhos se encheram de temor, e a notícia se espalhou por toda a região montanhosa da Judeia. Todos os que ouviram a notícia ficavam pensando: “Que vai ser este menino?” De fato, a mão do Senhor estava com ele. O menino crescia e seu espírito se fortalecia. Ele vivia nos desertos, até o dia de se apresentar publicamente diante de Israel.

Deus cumpre o que promete
Os vizinhos se alegram com o nascimento de João (v. 58), precursor do Messias. Esta alegria já havia sido prometida quando do anúncio do anjo a Zacarias, no Templo: “… muitos se alegrarão com o seu nascimento” (Lc 1,14). Deus cumpre o que promete. O acordo entre Isabel e Zacarias sobre o nome do menino (vv. 60.63) mostra que o nome de João (= Deus concedeu a sua graça) é de origem divina (cf. 1,13). Recebendo esta revelação como Palavra de Deus, a boca de Zacarias se abre para bendizer Deus: “Bendito seja o Senhor Deus de Israel…” (1,67).
Carlos Alberto Contieri,sj

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Riquezas no céu

 Mt 6,19-23
 
“Não ajunteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões assaltam e roubam. Ao contrário, ajuntai para vós tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, nem os ladrões assaltam e roubam. Pois onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração. A lâmpada do corpo é o olho: se teu olho for límpido, ficarás todo cheio de luz. Mas se teu olho for ruim, ficarás todo em trevas. Se, pois, a luz em ti é trevas, quão grandes serão as trevas!”

Onde por o coração?
O ser humano é posto diante de uma escolha decisiva e irrenunciável: onde pôr o coração, isto é, em que engajar toda a vida? Não há meio termo: “... onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (v. 21). Trata-se de desapegar-se de tesouros ilusórios. Cada coração, cada pessoa, possui um tesouro. Cada ser humano liga a sua vida a um valor que move sua ação e decisões. Os bens da terra são postos em oposição aos bens celestes (vv. 19.20), mas o que importa é o engajamento do coração. Ao cristão importa juntar tesouros no céu (cf. v. 20). O que é passageiro é só aparência; é preciso pôr a vida naquilo que não passa. Olho é uma fonte de desejo (vv. 22-23). Será luz e, portanto, iluminará a vida do ser humano à medida que o desejo for bom, isto é, por tudo aquilo que for “do céu”. Mas, se o olho desejar o mal, ele conduzirá às trevas, outro nome do pecado: “Olhar altivo, coração orgulhoso, a lâmpada dos ímpios não é senão pecado” (Pr 21,4).
Carlos Albero Contieri, sj

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Oração do Pai nosso

Mt 6,7-15
 
“Quando orardes, não useis de muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. Não sejais como eles, pois o vosso Pai sabe do que precisais, antes de vós o pedirdes. Vós, portanto, orai assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, como no céu, assim também na terra. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos que nos devem. E não nos introduzas em tentação, mas livra-nos do Maligno. De fato, se vós perdoardes aos outros as suas faltas, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. Mas, se vós não perdoardes aos outros, vosso Pai também não perdoará as vossas faltas.”

 A oração ensinada por Jesus permite ao discípulo pôr todo o seu ser diante de Deus.
A recomendação não se restringe a se cuidar da ostentação da oração. O discípulo é posto, também, de alerta contra a prolixidade da oração: “Quando orardes, não useis de muitas palavras, como fazem os pagãos” (v. 7). A repetição de muitas palavras, e de modo compulsivo, é uma forma de pressionar Deus. Ora, Deus nos conhece por inteiro, e sabe tudo o que necessitamos, antes mesmo que as palavras cheguem à nossa boca: “A palavra ainda não chegou à minha língua e tu, Senhor, já a conheces inteira”. A oração do Pai-Nosso, inserida aqui, ensina o discípulo a não multiplicar as palavras e a se situar diante do Deus, ao mesmo tempo, próximo (“Pai nosso”) e distante (“que estás nos céus”), e que dá ao ser humano, que ele trata como filho, o necessário e o indispensável para a sua existência. A oração ensinada por Jesus permite ao discípulo pôr todo o seu ser diante de Deus.
Carlos Alberto Contieri, sj

quarta-feira, 19 de junho de 2013

"Não!" à hipocrisia

Mt 6,1-6.16-18

“Cuidado! Não pratiqueis vossa justiça na frente dos outros, só para serdes notados. De outra forma, não recebereis recompensa do vosso Pai que está nos céus. Quando deres esmola, não mandes tocar a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas [...] para serem elogiados pelos outros. Em verdade vos digo: já receberam sua recompensa. Tu, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita, de modo que tua esmola fique escondida. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa. Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de orar nas sinagogas e nas esquinas das praças, em posição de serem vistos pelos outros. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai que está no escondido. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa. Quando jejuardes, não fiqueis de rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para figurar aos outros que estão jejuando. Em verdade vos digo: já receberam sua recompensa. Tu quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os outros não vejam que estás jejuando, mas somente teu Pai, que está no escondido. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa.”

As boas obras devem ser feitas com discrição
O tema principal do evangelho desta quarta-feira é a discrição com a qual as obras devem ser praticadas: “Cuidado! não pratiqueis vossa justiça na frente dos outros, só para serdes notados” (v. 1). Trata-se de não fazer nada por ostentação. Jesus recomenda não dar esmola, jejuar ou rezar de modo ostensivo, como fazem os hipócritas. No nível em que os hipócritas se situam já obtiveram a recompensa deles, isto é, a aprovação dos homens. Positivamente falando, a esmola, o jejum e a oração devem ser feitos em segredo. A ação em segredo não é o mesmo que ação secreta, mas designa toda ação, mesmo pública, que se faz, de fato, diante do Pai. É a intenção profunda que conta, pois a recompensa se situa neste nível.