quarta-feira, 31 de março de 2010

Compartilhar o destino de Jesus

Mt 26,14-25

Então um dos doze discípulos, chamado Judas Iscariotes, foi falar com os chefes dos sacerdotes. Ele disse:
- Quanto vocês me pagam para eu lhes entregar Jesus?
E eles lhe pagaram trinta moedas de prata.
E daí em diante Judas ficou procurando uma oportunidade para entregar Jesus.
No primeiro dia da Festa dos Pães sem Fermento, os discípulos chegaram perto de Jesus e perguntaram:
- Onde é que o senhor quer que a gente prepare o jantar da Páscoa para o senhor?
Ele respondeu:
- Vão até a cidade, procurem certo homem e digam: "O Mestre manda dizer: A minha hora chegou. Os meus discípulos e eu vamos comemorar a Páscoa na sua casa."
Os discípulos fizeram como Jesus havia mandado e prepararam o jantar da Páscoa.
Quando anoiteceu, Jesus e os doze discípulos sentaram para comer. Durante o jantar Jesus disse:
- Eu afirmo a vocês que isto é verdade: um de vocês vai me trair.
Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a perguntar:
- O senhor não está achando que sou eu; está?
Jesus respondeu:
- Quem vai me trair é aquele que come no mesmo prato que eu. Pois o Filho do Homem vai morrer da maneira como dizem as Escrituras Sagradas; mas ai daquele que está traindo o Filho do Homem! Seria melhor para ele nunca ter nascido!
Então Judas, o traidor, perguntou:
- Mestre, o senhor não está achando que sou eu; está?
Jesus respondeu:
- Quem está dizendo isso é você mesmo.

Comentário do Evangelho

Jesus liberta os sofredores e oprimidos

A liturgia da Semana Santa, com um estilo teatral, faz memória dos últimos dias de Jesus, em Jerusalém, realçando a paixão. Um dos destaques é a traição de Judas. Na tradição da paixão, conforme a religião sacrifical do Judaísmo, o sofrimento é interpretado como parte do plano salvífico de Deus. Atentos à prática de Jesus, vemos que sua vida foi toda dedicada à libertação dos sofredores e oprimidos. Em consequência foi perseguido até a morte. Tanto o sofrimento das multidões de excluídos como o de Jesus resultam do sistema opressor sob controle de minorias, que até cooptam pessoas como Judas. A vida de Jesus revela isso com clareza.

terça-feira, 30 de março de 2010

A traição

Jo 13,21-33.36-38

Depois de dizer isso, Jesus ficou muito aflito e declarou abertamente aos discípulos:
- Eu afirmo a vocês que isto é verdade: um de vocês vai me trair.
Então eles olharam uns para os outros, sem saber de quem ele estava falando. Ao lado de Jesus estava sentado um deles, a quem Jesus amava. Simão Pedro fez um sinal para ele e disse:
- Pergunte de quem o Mestre está falando.
Então aquele discípulo chegou mais perto de Jesus e perguntou:
- Senhor, quem é ele?
- É aquele a quem vou dar um pedaço de pão passado no molho! - respondeu Jesus.
Em seguida pegou um pedaço de pão, passou no molho e deu a Judas, filho de Simão Iscariotes. E assim que Judas recebeu o pão, Satanás entrou nele. Então Jesus disse a Judas:
- O que você vai fazer faça logo!
Nenhum dos que estavam à mesa entendeu por que Jesus disse isso. Como era Judas que tomava conta da bolsa do dinheiro, alguns pensaram que Jesus tinha mandado que ele comprasse alguma coisa para a festa ou desse alguma ajuda aos pobres.
Judas recebeu o pão e saiu logo. E era noite.
O novo mandamento
Quando Judas saiu, Jesus disse:
- Agora a natureza divina do Filho do Homem é revelada, e por meio dele é revelada também a natureza gloriosa de Deus. E, se por meio dele a natureza gloriosa de Deus for revelada, então Deus revelará em si mesmo a natureza divina do Filho do Homem. E Deus fará isso agora mesmo. Meus filhos, não vou ficar com vocês por muito tempo. Vocês vão me procurar, mas eu digo agora o que já disse aos líderes judeus: vocês não podem ir para onde eu vou.
Simão Pedro perguntou a Jesus:
- Senhor, para onde é que o senhor vai?
Jesus respondeu:
- Você não pode ir agora para onde eu vou. Um dia você poderá me seguir!
Pedro tornou a perguntar:
- Senhor, por que eu não posso segui-lo agora? Eu estou pronto para morrer pelo senhor!
- Está mesmo? - perguntou Jesus. - Pois eu afirmo a você que isto é verdade: antes que o galo cante, você dirá três vezes que não me conhece.

Comentário do Evangelho

Jesus anuncia a glorificação do Filho do homem

Na ceia na casa de Lázaro, seis dias antes, a Judas é contraposta a figura amorosa de Maria. Agora, nesta última ceia, é a figura do discípulo que Jesus mais amava. O Evangelho de João acentua a traição de Judas. Contudo, Judas é apenas uma peça secundária na articulação dos chefes religiosos do Templo e das sinagogas, que tem em vista a morte de Jesus. Configurado o ato de traição de Judas, Jesus anuncia a glorificação do Filho do homem. Este tema da glorificação é exclusivo do Evangelho de João. Com a crucifixão está completa a criação da nova criatura. É a
manifestação plena do amor de Jesus, até o fim, sem limites. A glória de Jesus é a sua vida de amor, agora consumada, pela qual nos tornamos eternos.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Amor com a medida de Jesus

Jo 12,1-11

Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi ao povoado de Betânia, onde morava Lázaro, a quem ele tinha ressuscitado. Prepararam ali um jantar para Jesus. Marta ajudava a servir, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Então Maria pegou um frasco cheio de um perfume muito caro, feito de nardo puro. Ela derramou o perfume nos pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos; e toda a casa ficou perfumada. Mas Judas Iscariotes, o discípulo que ia trair Jesus, disse:
- Este perfume vale mais de trezentas moedas de prata. Por que não foi vendido, e o dinheiro, dado aos pobres?
Judas disse isso, não porque tivesse pena dos pobres, mas porque era ladrão. Ele tomava conta da bolsa de dinheiro e costumava tirar do que punham nela.
Então Jesus respondeu:
- Deixe Maria em paz! Que ela guarde isso para o dia do meu sepultamento. Os pobres estarão sempre com vocês, mas eu não estarei sempre com vocês.
O plano para matar Lázaro
Muitas pessoas ficaram sabendo que Jesus estava em Betânia. Então foram até lá não só por causa dele, mas também para ver Lázaro, o homem que Jesus tinha ressuscitado. Então os chefes dos sacerdotes resolveram matar Lázaro também; pois, por causa dele, muitos judeus estavam abandonando os seus líderes e crendo em Jesus.

Comentário do Evangelho

A ceia é sempre ocasião de confraternização e alegria

O início do ministério de Jesus é marcado por uma festa de casamento, em Caná da Galileia, na qual a alegria é partilhada na mesa, com comidas e bebidas. Agora, o fim deste ministério é marcado por duas ceias (deipnon, em Jo 12,2 e Jo 13,2.4): esta em Betânia e outra, a ceia Pascal, em Jerusalém. A ceia é sempre ocasião de confraternização e alegria. Esta ceia em Betânia acontece na casa, ambiente das novas comunidades que se articulam em torno do amor. É a casa dos três irmãos: Maria, Marta e Lázaro. É um ambiente vital, onde a amizade e o amor fluem na espontaneidade da flor que desabrocha. A comunidade celebra a vida que Jesus lhe comunica. Completam-se o serviço de Marta e o amor de Maria. Em contraponto está presente Judas, que se isola diante deste ambiente de comunicação e vida.


sábado, 27 de março de 2010

O plano para matar Jesus


Jo 11,45-56

Muitas pessoas que tinham ido visitar Maria viram o que Jesus tinha feito e creram nele. Mas algumas pessoas voltaram e contaram aos fariseus o que ele havia feito. Então os fariseus e os chefes dos sacerdotes se reuniram com o Conselho Superior e disseram:
- O que é que nós vamos fazer? Esse homem está fazendo muitos milagres! Se deixarmos que ele continue fazendo essas coisas, todos vão crer nele. Aí as autoridades romanas agirão contra nós e destruirão o Templo e o nosso país.
Então Caifás, que naquele ano era o Grande Sacerdote, disse:
- Vocês não sabem nada! Será que não entendem que para vocês é melhor que morra apenas um homem pelo povo do que deixar que o país todo seja destruído?
Naquele momento Caifás não estava falando por si mesmo. Mas, como ele era o Grande Sacerdote naquele ano, estava profetizando que Jesus ia morrer pela nação. E não somente pela nação, mas também para reunir em um só corpo todos os filhos de Deus que estão espalhados por toda parte.
Então, daquele dia em diante, os líderes judeus fizeram planos para matar Jesus. Por isso ele já não andava publicamente na Judéia, mas foi para uma região perto do deserto, a uma cidade chamada Efraim, e ficou ali com os seus discípulos.
Faltava pouco tempo para a Festa da Páscoa. Muitos judeus foram a Jerusalém antes da festa para tomar parte na cerimônia de purificação. Eles procuravam Jesus e, no pátio do Templo, perguntavam uns aos outros:
- O que é que vocês acham? Será que ele vem à festa?

Comentário do Evangelho

Jesus, em casa de Maria, ressuscita Lázaro

Jesus, em casa de Maria, ressuscitara Lázaro. É o sinal abrangente de todos os anteriores, que exprimem o empenho de Jesus em restaurar a vida. Muitos, então, creram em Jesus. No sinédrio, Caifás justifica sua proposta de matar Jesus, pois com ele vivo temiam que Jesus sublevasse o povo, suscitando a repressão dos romanos, que destruiriam o Templo e a nação. Este texto reflete o episódio já acontecido da destruição de Jerusalém, e também do Templo, pelos romanos, quando João escreve seu Evangelho. A festa da Páscoa era a comemoração da fuga do Egito, com a salvação do povo que se considera eleito e com a morte dos primogênitos dos egípcios, que também eram povo oprimido pelo faraó. Agora, nesta festa, para se salvar, o sinédrio decide a morte de Jesus. A doutrina religiosa de eleição divina e prêmio é fonte de violência.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Firmes na proposta de Jesus

Jo 10,31-42

Então eles tornaram a pegar pedras para matar Jesus. E ele disse:
- Eu fiz diante de vocês muitas coisas boas que o Pai me mandou fazer. Por causa de qual delas vocês querem me matar?
Eles responderam:
- Não é por causa de nenhuma coisa boa que queremos matá-lo, mas porque, ao dizer isso, você está blasfemando contra Deus. Pois você, que é apenas um ser humano, está se fazendo de Deus.
Então Jesus afirmou:
- Na Lei de vocês está escrito que Deus disse: "Vocês são deuses." Sabemos que as Escrituras Sagradas sempre dizem a verdade, e sabemos que, de fato, Deus chamou de deuses aqueles que receberam a sua mensagem. Quanto a mim, o Pai me escolheu e me enviou ao mundo. Então por que vocês dizem que blasfemo contra Deus quando afirmo que sou Filho dele? Se não faço o que o meu Pai manda, não creiam em mim. Mas, se eu faço, e vocês não crêem em mim, então creiam pelo menos nas coisas que faço. E isso para que vocês fiquem sabendo de uma vez por todas que o Pai vive em mim e que eu vivo no Pai.
A essa altura tentaram novamente prendê-lo, mas Jesus escapou das mãos deles.
Ele voltou de novo para o lado leste do rio Jordão, foi para o lugar onde João Batista tinha batizado antes e ficou lá. E muita gente ia vê-lo, dizendo:
- João não fez nenhum milagre, mas tudo o que ele disse sobre Jesus é verdade.
E naquele lugar muita gente creu em Jesus.

Comentário do Evangelho

Encerram os embates entre Jesus e os judeus

Este episódio encerra os embates entre Jesus e os judeus, com uma ruptura. Os judeus já não se preocupam mais em condenar Jesus pelas frequentes violações da Lei com suas boas obras. A condenação maior, agora, decorre da declaração de Jesus de ser Filho de Deus. Para eles Jesus merece ser apedrejado. Não está de acordo com sua Lei. É o que acontece com todo aquele que vê Deus como legislador poderoso, com sua elite protegida, e não vê o Deus todo amoroso e misericordioso, acolhedor dos pobres e oprimidos. Jesus dirige-se aos judeus referindo-se à "vossa Lei". Não a reconhece como sua Lei. Então retira-se para o outro lado do Jordão, em território gentílico. Aí muitos passam a crer nele.

quinta-feira, 25 de março de 2010

O espírito de Deus desce sobre Maria para a nova criação

Lc 1,26-38

Quando Isabel estava no sexto mês de gravidez, Deus enviou o anjo Gabriel a uma cidade da Galiléia chamada Nazaré. O anjo levava uma mensagem para uma virgem que tinha casamento contratado com um homem chamado José, descendente do rei Davi. Ela se chamava Maria. O anjo veio e disse:
- Que a paz esteja com você, Maria! Você é muito abençoada. O Senhor está com você.
Porém Maria, quando ouviu o que o anjo disse, ficou sem saber o que pensar. E, admirada, ficou pensando no que ele queria dizer. Então o anjo continuou:
- Não tenha medo, Maria! Deus está contente com você. Você ficará grávida, dará à luz um filho e porá nele o nome de Jesus. Ele será um grande homem e será chamado de Filho do Deus Altíssimo. Deus, o Senhor, vai fazê-lo rei, como foi o antepassado dele, o rei Davi. Ele será para sempre rei dos descendentes de Jacó, e o Reino dele nunca se acabará.
Então Maria disse para o anjo:
- Isso não é possível, pois eu sou virgem!
O anjo respondeu:
- O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Deus Altíssimo a envolverá com a sua sombra. Por isso o menino será chamado de santo e Filho de Deus. Fique sabendo que a sua parenta Isabel está grávida, mesmo sendo tão idosa. Diziam que ela não podia ter filhos, no entanto agora ela já está no sexto mês de gravidez. Porque para Deus nada é impossível.
Maria respondeu:
- Eu sou uma serva de Deus; que aconteça comigo o que o senhor acabou de me dizer!
E o anjo foi embora.

Comentário do Evangelho
Maria dialoga com Deus

Como prólogo de seu Evangelho, Lucas apresenta a história do nascimento de Jesus, mostrando-o como o Filho de Deus, destinado a trazer a salvação ao mundo. Essa narrativa é intercalada com a do nascimento de João Batista (Lc 1,5-25), ao qual Jesus está intimamente vinculado. O Espírito de Deus pairava sobre as águas, na criação. Agora é este Espírito que desce sobre Maria para a nova criação, em Jesus. Jesus é a "salvação de Deus" (yeshû'a). A nova criação é resgatada da opressão que reinava entre os filhos de Adão. E é, também, participante da vida divina nesta criança que é concebida em Maria: Jesus, Filho do Altíssimo, está entre nós na humildade do convívio humano, comunicando amor e vida eterna.

quarta-feira, 24 de março de 2010

A verdade liberta

Jo 8,31-42

Então Jesus disse para os que creram nele:
- Se vocês continuarem a obedecer aos meus ensinamentos, serão, de fato, meus discípulos e conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.
Eles responderam:
- Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como é que você diz que ficaremos livres?
Jesus disse a eles:
- Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem peca é escravo do pecado. O escravo não fica sempre com a família, mas o filho sempre faz parte da família. Se o Filho os libertar, vocês serão, de fato, livres. Eu sei que vocês são descendentes de Abraão; porém estão tentando me matar porque não aceitam os meus ensinamentos. Eu falo das coisas que o meu Pai me mostrou, mas vocês fazem o que aprenderam com o pai de vocês.
- O nosso pai é Abraão! - responderam eles.
Então Jesus disse:
- Se vocês fossem, de fato, filhos de Abraão, fariam o que ele fez. Mas eu lhes tenho dito a verdade que ouvi de Deus, e assim mesmo vocês estão tentando me matar. Abraão nunca fez uma coisa assim! Vocês estão fazendo o que o pai de vocês fez.
Eles responderam:
- Nós não somos filhos ilegítimos; nós temos um Pai, que é Deus!
Jesus disse a eles:
- Se Deus fosse, de fato, o Pai de vocês, então vocês me amariam, pois eu vim de Deus e agora estou aqui. Eu não vim por minha própria conta, mas foi Deus que me enviou.

Comentário do Evangelho

Quem acolhe Jesus encontra a liberdade

O Evangelho de João parece refletir um confronto entre a tradição samaritana, que reivindicava a verdadeira filiação abraâmica, e a tradição do Judaísmo de Jerusalém. São frequentes as denúncias aos judeus e as narrativas de oposição entre eles e Jesus, que havia sido acolhido pelos samaritanos (Jo 4,1-42). Na primeira parte fica em evidência o contraste entre livres e escravos. Quem acolhe Jesus encontra a liberdade, quem o rejeita torna-se escravo. O pecado dos chefes judeus era a sede de poder e de riquezas, e, assim, exploravam a piedade do povo.
Na segunda parte Jesus descarta a paternidade de Abraão e de Deus a estes chefes religiosos, pois eles procuravam matá-lo. A adesão ao projeto vivificante de Jesus e do Pai leva à solidariedade e à experiência da liberdade, proporcionando ao coração a alegria de viver.

terça-feira, 23 de março de 2010

Quem é Jesus para mim?

Jo 8,21-30

Jesus disse outra vez:
- Eu vou embora, e vocês vão me procurar, porém morrerão sem o perdão dos seus pecados. Para onde eu vou vocês não podem ir.
Os líderes judeus disseram:
- Ele diz que nós não podemos ir para onde ele vai! Será que ele vai se matar?
Jesus continuou:
- Vocês são daqui debaixo, e eu sou lá de cima. Vocês são deste mundo, mas eu não sou deste mundo. Por isso eu disse que vocês vão morrer sem o perdão dos seus pecados. De fato, morrerão sem o perdão dos seus pecados se não crerem que "EU SOU QUEM SOU".
- Quem é você? - perguntaram a Jesus.
Ele respondeu:
- Desde o começo eu disse quem sou. Existem muitas coisas a respeito de vocês das quais eu preciso falar e as quais eu preciso julgar. Porém quem me enviou é verdadeiro, e eu digo ao mundo somente o que ele me disse.
Eles não entenderam que ele estava falando a respeito do Pai. Por isso Jesus disse:
- Quando vocês levantarem o Filho do Homem, saberão que "EU SOU QUEM SOU". E saberão também que não faço nada por minha conta, mas falo somente o que o meu Pai me ensinou. Quem me enviou está comigo e não me deixou sozinho, pois faço sempre o que lhe agrada.
Quando Jesus disse isso, muitos creram nele.

Comentário do Evangelho

Jesus falava de Deus como seu Pai

Jesus encontra-se em Jerusalém, por ocasião da festa das Tendas, e, indo ao Templo ensinava as multidões de peregrinos que para aí acorriam, suscitando a ira dos chefes religiosos de Israel, pois Jesus falava de Deus como seu Pai. Nesta fala de Jesus, é repetida por três vezes a afirmação: "morrereis nos vossos pecados". Para os chefes religiosos do Templo e das sinagogas, o pecado era qualquer falta contra as inúmeras observâncias reescritas pela Lei de sua tradição. O povo humilde e trabalhador incorria frequentemente nestas faltas e era qualificado de "pecador". Jesus vem libertar este povo desta discriminação e desta exclusão. Porém, os chefes religiosos que "inventaram" este pecado, fixados na Lei, rejeitam Jesus e a vida que ele vem comunicar a quem nele crê.

segunda-feira, 22 de março de 2010

O testemunho de Jesus é o testemunho do Pai

Jo 8,12-20

De novo Jesus começou a falar com eles e disse:
- Eu sou a luz do mundo; quem me segue nunca andará na escuridão, mas terá a luz da vida.
Os fariseus disseram a Jesus:
- Agora você está falando a favor de você mesmo. Por isso o que você diz não tem valor.
Jesus respondeu:
- Embora eu esteja falando a favor de mim mesmo, o que digo tem valor porque é a verdade. Pois eu sei de onde vim e para onde vou, mas vocês não sabem de onde vim, nem para onde vou. Vocês julgam de modo puramente humano; mas eu não julgo ninguém. E, se eu julgar, o meu julgamento é verdadeiro porque não julgo sozinho, pois o Pai, que me enviou, está comigo. Na Lei de vocês está escrito que, quando duas testemunhas concordam, o que dizem é verdade. Eu dou testemunho a respeito de mim mesmo, e o Pai, que me enviou, também dá testemunho a meu respeito.
- Onde está o seu pai? - perguntaram.
Jesus respondeu:
- Vocês não me conhecem e também não conhecem o meu Pai. Se, de fato, me conhecessem, conheceriam também o meu Pai.
Jesus disse essas coisas quando estava ensinando no pátio do Templo, perto da caixa das ofertas. Ninguém o prendeu porque ainda não tinha chegado a sua hora.

Comentário do Evangelho
"Quem me segue" - "ir atrás de Jesus"

Nesta narrativa, João apresenta o auge do conflito de Jesus com os fariseus, em um diálogo com acentuada agressividade. Nesta festa das Tendas, durante a qual Jesus estava presente, eram acendidas grandes lanternas: a luz simbolizava a era messiânica, na qual não haveria mais distinção entre o dia e a noite (Zc 14,6-8). Jesus identifica-se com esta luz que vem para todo o mundo e não apenas para Israel. O testemunho de Jesus, que é o testemunho do Pai, é contestado pelos fariseus, apegados ao Templo e seu tesouro. Segue-se um diálogo agressivo, com o mesmo tema do diálogo amistoso entre Jesus e Filipe, que ocorrerá após a última ceia (14,8-9): quem conhece Jesus conhece o Pai, o que escandalizava os judeus.

sexta-feira, 19 de março de 2010

ENCERRAMENTO DA ESCOLA BÍBLICA

No último dia 27, em São Luis, aconteceu o encerramento da primeira turma da Escola Bíblica Diocesana. O nosso regional IV teve 25 formandos. De Anicuns foram 10.

Agradecemos a Deus e à Diocese de São Luis de Montes Belos pela formação bíblica destinada aos leigos.


DEPENDE DE NÓS!


Com este tema a catequese está realizando encontro com as crianças para que elas percebam que Deus nos deu um meio de vida sustentável e, pela ação irresponsável das pessoas, corremos o risco de sofrer conseqüências dolorosas.
Porém, somos agentes de transformação e podemos criar uma sociedade solidária e feliz.
Através de maquetes, as crianças tentaram reproduzir a criação de Deus e do homem.
O objetivo do Encontro é olharmos a criação de Deus como a nossa casa, portanto, devemos cuidar bem dela.



Hino a São José

O justo José

Mt 1,16.18-21.24a ou Lc 2,41-51a

Jacó foi pai de José, marido de Maria, e ela foi a mãe de Jesus, chamado Messias. O nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, a sua mãe, ia casar com José. Mas antes do casamento ela ficou grávida pelo Espírito Santo. José, com quem Maria ia casar, era um homem que sempre fazia o que era direito. Ele não queria difamar Maria e por isso resolveu desmanchar o contrato de casamento sem ninguém saber. Enquanto José estava pensando nisso, um anjo do Senhor apareceu a ele num sonho e disse:
- José, descendente de Davi, não tenha medo de receber Maria como sua esposa, pois ela está grávida pelo Espírito Santo. Ela terá um menino, e você porá nele o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos pecados deles. Quando José acordou, fez o que o anjo do Senhor havia mandado e casou com Maria.

Comentário do Evangelho

O nascimento de Jesus

O nascimento de Jesus é precedido do anúncio do anjo em Mateus e em Lucas. Em Lucas o anúncio é feito a Maria. Em Mateus o anjo do Senhor aparece em sonho a José "filho de Davi". Através de José, Mateus tem a intenção teológica de demonstrar a origem davídica de Jesus, e assim elabora a genealogia com a qual abre seu Evangelho. Jesus é o Messias (Cristo) dos judeo-cristãos para quem Mateus escreve. Temos aqui uma tipologia: o justo José é o protótipo dos israelitas sinceros. Em Maria vemos as novas comunidades nas quais Jesus é gerado. Para aqueles israelitas surge a suspeita de infidelidade destas comunidades. A situação é esclarecida pelo anjo do Senhor: o novo que é gerado é obra de Deus. Os israelitas são convidados a aderirem às novas comunidades para receberem Jesus salvador.


quinta-feira, 18 de março de 2010

As obras de Jesus são as obras do Pai

Jo 5,31-47

- Se eu dou testemunho a favor de mim mesmo, então o que digo não tem valor. Mas existe outro que testemunha a meu favor, e eu sei que o que ele diz a respeito de mim é verdade. Vocês mandaram fazer perguntas a João, e o testemunho que ele deu é verdadeiro. Eu não preciso que ninguém dê testemunho a meu favor, mas digo essas coisas para que vocês sejam salvos.
- João era como uma lamparina que estava acesa e brilhava, e por algum tempo vocês se alegraram com a luz dele. Mas eu tenho um testemunho a meu favor ainda mais forte do que o que João deu: são as coisas que eu faço, as quais o meu Pai me mandou fazer. Elas dão testemunho a favor de mim e provam que o Pai me enviou. Também o Pai, que me enviou, testemunha a meu favor. Vocês nunca ouviram a voz dele, nem viram o seu rosto. As palavras dele não estão no coração de vocês porque vocês não crêem naquele que ele enviou. Vocês estudam as Escrituras Sagradas porque pensam que vão encontrar nelas a vida eterna. E são elas mesmas que dão testemunho a meu favor. Mas vocês não querem vir para mim a fim de ter vida.
- Eu não procuro ser elogiado pelas pessoas. Quanto a vocês, eu os conheço e sei que não amam a Deus com sinceridade. Eu vim com a autoridade do meu Pai, e vocês não me recebem. Quando alguém vem com a sua própria autoridade, esse vocês recebem. Como é que vocês podem crer, se aceitam ser elogiados pelos outros e não tentam conseguir os elogios que somente o único Deus pode dar? Não pensem que sou eu que vou acusá-los diante do Pai; quem vai acusá-los é Moisés, que é aquele em quem vocês confiam. Se vocês acreditassem em Moisés, acreditariam também em mim, pois ele escreveu a meu respeito. Mas, se vocês não acreditam no que ele escreveu, como vão acreditar no que eu digo?

Comentário do Evangelho
A partir de Cristo


João Batista deu o testemunho da verdade. Abriu o caminho do batismo da conversão à prática da justiça, a favor da vida. Jesus, movido pelo Espírito, assumiu este caminho e, através de suas próprias obras, proclamou-o como o caminho da perfeição que confere a vida eterna. Os chefes judeus rejeitaram a palavra viva de Deus, fechando-se na letra morta das Escrituras, pensando encontrar ali a vida eterna. A vida eterna é encontrada em Jesus, em sua prática e no seu seguimento. As obras de Jesus, que são as obras do Pai, são a comunicação de vida a todos os homens e mulheres, em todos os povos, promovendo a liberdade e a dignidade, removendo toda e qualquer exclusão. Nesta prática de Jesus e dos discípulos, em todos os tempos, Deus é glorificado.

quarta-feira, 17 de março de 2010

O amor de Deus gera a vida

Leitura orante

Jo 5,17-30

Então Jesus disse a eles:
- O meu Pai trabalha até agora, e eu também trabalho.
E, porque ele disse isso, os líderes judeus ficaram ainda com mais vontade de matá-lo. Pois, além de não obedecer à lei do sábado, ele afirmava que Deus era o seu próprio Pai, fazendo-se assim igual a Deus
Então Jesus disse a eles:
- Eu afirmo a vocês que isto é verdade: o Filho não pode fazer nada por sua própria conta, pois ele só faz o que vê o Pai fazer. Tudo o que o Pai faz o Filho faz também, pois o Pai ama o Filho e lhe mostra tudo o que está fazendo. E vai mostrar a ele coisas ainda maiores do que essas, e vocês vão ficar admirados. Porque, assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida aos que ele quer. O Pai não julga ninguém, mas deu ao Filho todo o poder para julgar a fim de que todos respeitem o Filho, assim como respeitam o Pai. Quem não respeita o Filho também não respeita o Pai, que o enviou.
- Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem ouve as minhas palavras e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não será julgado, mas já passou da morte para a vida. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: vem a hora, e ela já chegou, em que os mortos vão ouvir a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão. Assim como o Pai é a fonte da vida, assim também fez o Filho ser a fonte da vida. E ele deu ao Filho autoridade para julgar, pois ele é o Filho do Homem.
- Não fiquem admirados por causa disso, pois está chegando a hora em que todos os mortos ouvirão a voz do Filho do Homem e sairão das suas sepulturas. Aqueles que fizeram o bem vão ressuscitar e viver, e aqueles que fizeram o mal vão ressuscitar e ser condenados.
Jesus continuou a falar a eles. Ele disse:
- Eu não posso fazer nada por minha própria conta, mas julgo de acordo com o que o Pai me diz. O meu julgamento é justo porque não procuro fazer a minha própria vontade, mas a vontade daquele que me enviou.

Comentário do Evangelho

Jesus responde aos chefes judeus, que procuravam matá-lo, irados por ele não observar as restrições da Lei sobre o sábado, tendo curado um paralítico, o que era considerado um trabalho proibido neste dia.
"Meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho." Os judeus reconheciam que, embora os homens devessem cessar seus trabalhos no sábado, a ação de Deus era contínua. Jesus identificava-se com Deus. A ira dos chefes aumentava mais diante da afirmação de Jesus de que é Filho de Deus. Esta afirmação desestrutura os esquemas religiosos que lhes garantiam status e poder. O amor de Deus, em Jesus, gera a vida e não se deixa tolher por normas e preceitos que a ela se opõem. É este amor que não conhece fronteiras e se manifesta em todos os povos.

terça-feira, 16 de março de 2010

Jesus é fonte do amor e da vida para todos



Leitura Orante

Jo 5,1-16

Depois disso, houve uma festa dos judeus, e Jesus foi até Jerusalém. Ali existe um tanque que tem cinco entradas e que fica perto do Portão das Ovelhas. Em hebraico esse tanque se chama "Betezata". Perto das entradas estavam deitados muitos doentes: cegos, aleijados e paralíticos. [Esperavam o movimento da água, porque de vez em quando um anjo do Senhor descia e agitava a água. O primeiro doente que entrava no tanque depois disso sarava de qualquer doença.] Entre eles havia um homem que era doente fazia trinta e oito anos. Jesus viu o homem deitado e, sabendo que fazia todo esse tempo que ele era doente, perguntou:
- Você quer ficar curado?
Ele respondeu:
- Senhor, eu não tenho ninguém para me pôr no tanque quando a água se mexe. Cada vez que eu tento entrar, outro doente entra antes de mim.
Então Jesus disse:
- Levante-se, pegue a sua cama e ande!
No mesmo instante, o homem ficou curado, pegou a cama e começou a andar. Isso aconteceu no sábado. Por isso os líderes judeus disseram a ele:
- Hoje é sábado, e a nossa Lei não permite que você carregue a sua cama neste dia.
Ele respondeu:
- O homem que me curou me disse: "Pegue a sua cama e ande."
Eles perguntaram:
- Quem é o homem que mandou você fazer isso?
Mas ele não sabia quem tinha sido, pois Jesus havia ido embora por causa da multidão que estava ali.
Mais tarde Jesus encontrou o homem no pátio do Templo e disse a ele:
- Escute! Você agora está curado. Não peque mais, para que não aconteça com você uma coisa ainda pior.
O homem saiu dali e foi dizer aos líderes judeus que quem o havia curado tinha sido Jesus. Então eles começaram a perseguir Jesus porque ele havia feito essa cura no sábado.

Comentário do Evangelho
A cura de um paralítico ( = um povo sem vida)

Nesta narrativa do Evangelho de João é feito um contraste entre a festa religiosa dos judeus no Templo de Jerusalém e o grande número de doentes marginalizados reunidos em um setor de periferia, a Porta das Ovelhas, por ser uma área de acesso de comerciantes estrangeiros à cidade. Jesus, em vez de estar na festa, está entre estes marginalizados que buscam, inclusive, uma cura milagrosa de um ritual pagão (o anjo que agitava as águas da piscina). Concedendo a cura a um paralítico aí presente, Jesus revela ser a fonte do amor e da vida para todos, indiscriminadamente. De maneira contraditória, os judeus promotores de sua festa religiosa perseguem Jesus por sua prática libertadora e amorosa

segunda-feira, 15 de março de 2010

Confiança em Jesus

Jo 4,43-54

Depois de ficar dois dias ali, Jesus foi para a região da Galiléia. Pois, como ele mesmo disse: "Um profeta não é respeitado na sua própria terra." Quando chegou à Galiléia, os moradores dali o receberam bem. É que eles tinham ido à Festa da Páscoa, em Jerusalém, e tinham visto tudo o que Jesus havia feito lá.
Jesus voltou a Caná da Galiléia, onde havia transformado água em vinho. Estava ali um alto funcionário público que morava em Cafarnaum. Ele tinha em casa um filho doente. Quando ouviu dizer que Jesus tinha vindo da Judéia para a Galiléia, foi pedir a ele que fosse a Cafarnaum e curasse o seu filho, que estava morrendo. Jesus disse ao funcionário:
- Vocês só crêem quando vêem grandes milagres!
Ele respondeu:
- Senhor, venha depressa, antes que o meu filho morra!
- Volte para casa! O seu filho vai viver! - disse Jesus.
Ele creu nas palavras de Jesus e foi embora. No caminho encontrou-se com os seus empregados, que disseram:
- O seu filho está vivo!
Então ele perguntou a que horas o filho havia começado a melhorar. Os empregados responderam:
- Ontem, à uma da tarde, a febre passou.
Aí o pai lembrou que havia sido naquela mesma hora que Jesus tinha dito: "O seu filho vai viver." Então ele e toda a família creram em Jesus.
Esse foi o segundo milagre que Jesus fez depois de ter ido da Judéia para a Galiléia.

Comentário do Evangelho
Carência transformada em vida abundante

A Galileia é o espaço central do ministério de Jesus. Aí se misturam gentios e descendentes de colonos e comerciantes judeus. Este segundo sinal se dá estando Jesus em Caná, como nas bodas no primeiro sinal. Caná só é mencionada por João. É a cidade de Natanael, que também só aparece em João. "Sinais" e "prodígios" são censurados por Jesus. O conteúdo da narrativa não é o registro de nenhuma dimensão prodigiosa de Jesus. É o destaque da confiança no seu amor e na sua palavra, o que faz passar da morte para a vida. Jesus não apresenta manifestações externas, prodigiosas e ostensivas de poder, mas age amorosamente, tocando os corações e comunicando-lhes a vida que permanece para sempre.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Quem ama a Deus, ama o próximo e a si mesmo



Leitura Orante

Mc 12,28b-34

Um mestre da Lei que estava ali ouviu a discussão. Viu que Jesus tinha dado uma boa resposta e por isso perguntou:
- Qual é o mais importante de todos os mandamentos da Lei?
Jesus respondeu:
- É este: "Escute, povo de Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças." E o segundo mais importante é este: "Ame os outros como você ama a você mesmo." Não existe outro mandamento mais importante do que esses dois.
Então o mestre da Lei disse a Jesus:
- Muito bem, Mestre! O senhor disse a verdade. Ele é o único Deus, e não existe outro além dele. Devemos amar a Deus com todo o nosso coração, com toda a nossa mente e com todas as nossas forças e também devemos amar os outros como amamos a nós mesmos. Pois é melhor obedecer a estes dois mandamentos do que trazer animais para serem queimados no altar e oferecer outros sacrifícios a Deus.
Jesus viu que o mestre da Lei tinha respondido com sabedoria e disse:
- Você não está longe do Reino de Deus.
Depois disso ninguém tinha coragem de fazer mais perguntas a Jesus.

Comentário do Evangelho

O principal mandamento

Quem se aproxima de Jesus é um escriba que reconheceu que Jesus respondera bem aos saduceus sobre a questão da ressurreição. A partir da pergunta do escriba sobre o primeiro dos mandamentos, é estabelecido um diálogo aparentemente harmonioso entre ambos. Até então os diálogos entre Jesus e os escribas eram conflitivos, marcados por maliciosas perguntas que faziam a Jesus para condená-lo em alguma palavra sua. No diálogo, o escriba e Jesus se complementam na resposta. São dois os maiores mandamentos, inseparáveis: Amar a Deus de todo o coração e amar o próximo como a si mesmo. Jesus reconhece a veracidade do escriba, mas coloca uma sutil restrição ao afirmar que ele não está longe do Reino de Deus. O passo decisivo, conforme Jesus afirma no Evangelho de Lucas, é partilhar as riquezas com os pobres e seguir a Jesus.

quinta-feira, 11 de março de 2010

O poder de Jesus para expulsar demônios



Lc 11,14-23

Jesus estava expulsando de certo homem um demônio que não o deixava falar. Quando o demônio saiu, o homem começou a falar. A multidão ficou admirada, mas alguns disseram:
- É Belzebu, o chefe dos demônios, que dá poder a este homem para expulsar demônios.
Outros, querendo conseguir alguma prova contra Jesus, pediam que ele fizesse um milagre para mostrar que o seu poder vinha de Deus. Mas Jesus, conhecendo os pensamentos deles, disse:
- O país que se divide em grupos que lutam entre si certamente será destruído; a família que se divide em grupos que lutam entre si também será destruída. Se o reino de Satanás tem grupos que lutam entre si, como continuará a existir? Vocês dizem que é Belzebu que me dá poder para expulsar demônios. Mas, se é assim, quem dá aos seguidores de vocês o poder para expulsar demônios? Assim, os seus próprios seguidores provam que vocês estão completamente enganados. Na verdade é pelo poder de Deus que eu expulso demônios, e isso prova que o Reino de Deus já chegou até vocês.
- Quando um homem forte e bem armado guarda a sua própria casa, tudo o que ele tem está seguro. Mas, quando um homem mais forte o ataca e vence, leva todas as armas em que o outro confiava e reparte tudo o que tomou dele.
- Quem não é a meu favor é contra mim; e quem não me ajuda a ajuntar está espalhando.

Comentário do Evangelho

Presença amorosa e libertadora de Deus

Lucas refere-se, de modo indeterminado, a "alguns" que acusam Jesus de expulsar os demônios pelo poder de Belzebu. Em Marcos e em Mateus, estes "alguns" são os escribas e os fariseus. Acusar de possuídos pelo demônio, de terroristas, é próprio do poder opressor quando se sente ameaçado.
São usados três nomes para designar os maus espíritos. Belzebu, alusão à divindade cananeia, considerada maléfica; Demônio, da tradição mesopotâmica, indicando espíritos malignos; Satanás, da tradição judaica, é um tentador. Na realidade, o mau espírito é aquele que rejeita o anúncio de Jesus. É o espírito da ideologia do ter e do poder. A lógica da resposta de Jesus é simples. A sua ação libertadora não pode resultar de um espírito mau. Seria contraditório, pois o espírito mau é aquele que oprime. O agir de Jesus é a presença amorosa e libertadora de
Deus entre os homens e mulheres.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Jesus e a lei: nova justiça

Sentido completo da Lei: o amor

Mt 5,17-19

- Não pensem que eu vim para acabar com a Lei de Moisés ou com os ensinamentos dos Profetas. Não vim para acabar com eles, mas para dar o seu sentido completo. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: enquanto o céu e a terra durarem, nada será tirado da Lei - nem a menor letra, nem qualquer acento. E assim será até o fim de todas as coisas. Portanto, qualquer um que desobedecer ao menor mandamento e ensinar os outros a fazerem o mesmo será considerado o menor no Reino do Céu. Por outro lado, quem obedecer à Lei e ensinar os outros a fazerem o mesmo será considerado grande no Reino do Céu.

Comentário do Evangelho

Mateus escreve para comunidades de judeo-cristãos. Aí se encontravam discípulos oriundos do Judaísmo e do mundo gentílico. Mateus busca a visão conciliadora entre ambos. Os discípulos oriundos do Judaísmo, dominados pela ideologia do messias davídico que haveria de vir, glorioso e poderoso, fizeram uma inculturação de Jesus de Nazaré nos moldes de sua cultura religiosa. Contudo, na comunidade havia aqueles que criam que Jesus viera para "abolir (kataluô, no grego) a Lei e os Profetas". O próprio João Batista já significara uma ruptura com a Lei e o Templo. Nas comunidades circulava a tradição da parábola de Jesus sobre a impossibilidade de colocar remendo novo em pano velho. Eram também guardadas as palavras de Jesus, no fim de seu ministério, sobre a demolição (kataluô) do Templo. Aqui, além do prenúncio histórico, pode-se perceber a alusão à demolição, pedra sobre pedra, da ideologia do Templo arraigada na mente dos discípulos.
A menção da Lei e dos mandamentos do Reino, nesta passagem, é uma introdução às seis antíteses entre a Lei e o Reino de Deus, que se seguirão: "Ouvistes que foi dito aos antigos [.]. Eu porém vos digo [.]"

terça-feira, 9 de março de 2010

Perdoar e construir a paz



Mt 18,21-35

Então Pedro chegou perto de Jesus e perguntou:
- Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim? Sete vezes?
- Não! - respondeu Jesus. - Você não deve perdoar sete vezes, mas setenta e sete vezes. Porque o Reino do Céu é como um rei que resolveu fazer um acerto de contas com os seus empregados. Logo no começo trouxeram um que lhe devia milhões de moedas de prata. Mas o empregado não tinha dinheiro para pagar. Então, para pagar a dívida, o seu patrão, o rei, ordenou que fossem vendidos como escravos o empregado, a sua esposa e os seus filhos e que fosse vendido também tudo o que ele possuía. Mas o empregado se ajoelhou diante do patrão e pediu: "Tenha paciência comigo, e eu pagarei tudo ao senhor."
- O patrão teve pena dele, perdoou a dívida e deixou que ele fosse embora. O empregado saiu e encontrou um dos seus companheiros de trabalho que lhe devia cem moedas de prata. Ele pegou esse companheiro pelo pescoço e começou a sacudi-lo, dizendo: "Pague o que me deve!"
- Então o seu companheiro se ajoelhou e pediu: "Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei tudo."
- Mas ele não concordou. Pelo contrário, mandou pôr o outro na cadeia até que pagasse a dívida. Quando os outros empregados viram o que havia acontecido, ficaram revoltados e foram contar tudo ao patrão. Aí o patrão chamou aquele empregado e disse: "Empregado miserável! Você me pediu, e por isso eu perdoei tudo o que você me devia. Portanto, você deveria ter pena do seu companheiro, como eu tive pena de você."
- O patrão ficou com muita raiva e mandou o empregado para a cadeia a fim de ser castigado até que pagasse toda a dívida.
E Jesus terminou, dizendo:
- É isso o que o meu Pai, que está no céu, vai fazer com vocês se cada um não perdoar sinceramente o seu irmão.

Comentário do Evangelho

O essencial é um coração misericordioso

Esta parábola de Mateus, partindo da própria imagem de "Reino dos Céus", é elaborada com as categorias imperiais de rei e servo, entremeando-se prepotência e condescendência.
A cena é dinâmica, com muitos detalhes dramáticos, que revelam o trabalho redacional de Mateus. Temos aqui uma orientação pastoral para as comunidades, no sentido da prática do perdão para um convívio harmonioso e fraterno. Lucas, neste sentido, apresenta a sua parábola do pai misericordioso. É a bem-aventurança dos misericordiosos e o cumprimento da oração do Pai-Nosso pela prática do perdão.
O essencial é um coração misericordioso que, perdoando, é acolhido e perdoado na comunidade.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Nenhum profeta é bem recebido

Leitura Orante.
Lc 4,24-30

E continuou:
- Eu afirmo a vocês que isto é verdade: nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra. Eu digo a vocês que, de fato, havia muitas viúvas em Israel no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e meio, e houve uma grande fome em toda aquela terra. Porém Deus não enviou Elias a nenhuma das viúvas que viviam em Israel, mas somente a uma viúva que morava em Sarepta, perto de Sidom. Havia também muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi curado. Só Naamã, o sírio, foi curado.
Quando ouviram isso, todos os que estavam na sinagoga ficaram com muita raiva. Então se levantaram, arrastaram Jesus para fora da cidade e o levaram até o alto do monte onde a cidade estava construída, para o jogar dali abaixo. Mas ele passou pelo meio da multidão e foi embora.

Comentário do Evangelho

Deus aí está

Evangelho de hoje dá continuidade à narrativa da ida de Jesus a uma sinagoga, em Nazaré, onde ele se proclama como aquele que vem comunicar a Boa-Nova do amor de Deus aos pobres, libertando os oprimidos e acolhendo e restaurando a dignidade dos pequeninos, excluídos e humilhados. Os fiéis da sinagoga, com sua expectativa de um messias poderoso, desprezam Jesus. Então, citando o dito de que nenhum profeta é bem recebido em sua própria terra, Jesus lembra os profetas Elias e Eliseu, do antigo Israel, que foram enviados a dois gentios: a viúva de Sarepta e o sírio Naamã. Com isto, Jesus referenda seu ministério dirigido aos gentios.
Apesar da multidão furiosa que queria lançá-lo morro abaixo, Jesus continua seu caminho do anúncio do Reino de Deus, que já está presente no mundo novo. Onde se vive a fraternidade, a justiça, a partilha, no amor,
Deus aí está.

sábado, 6 de março de 2010


Teu irmão estava morto e tornou a viver

Naquele tempo, 1os publicanos e pecadores aproximaram-se de Jesus para o escutar. 2Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus: "Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles". 3Então Jesus contou-lhes esta parábola: 11"Um homem tinha dois filhos.
12O filho mais novo disse ao pai: 'Pai, dá-me a parte da herança que me cabe'. E o pai dividiu os bens entre eles. 13Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. 14Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade. 15Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos. 16O rapaz queira matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. 17Então caiu em si e disse: 'Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome'. 18Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: 'Pai, pequei contra Deus e contra ti; 19já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados'. 20Então ele partiu e voltou para seu pai.
Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos. 21O filho, então, lhe disse: 'Pai, pequei conta Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho'. 22Mas o pai disse aos empregados: 'Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. 23Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. 24Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado'. E começaram a festa.
25O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. 26Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. 27O criado respondeu: 'E teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque o recuperou com saúde'.
28Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. 29Ele, porém, respondeu ao pai: 'Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. 30Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado'.
31Então o pai lhe disse: 'Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado"'. Palavra da Salvação!

Comentário do Evangelho

Acolhendo o pecador

A consciência do pecado vem acompanhada do sentimento de vergonha em relação a Deus. A revolta contra o seu amor misericordioso parece não se justificar. Junto com a vergonha vem o sentimento de ingratidão. E o pecador reconhece ser uma loucura o ter-se afastado do Pai.

Sua reação costumeira: duvidar de que possa ser perdoado. Em outros termos, duvidar que Deus esteja disposto a perdoar, devido à magnitude do pecado cometido.

O Evangelho aconselha, firmemente, o pecador a voltar para o Pai, cujo rosto, revelado por Jesus, é um incentivo a essa volta confiante. Deus quer ter junto de si todos os seus filhos. E está sempre disposto a esquecer o passado, pois confia que, no futuro, tudo será melhor. Não coloca limites para o perdão, nem faz distinção entre faltas perdoáveis e faltas imperdoáveis. Tudo pode ser perdoado, quando o pecador se predispõe a voltar. Alegra-se, sobremaneira, com a volta de um filho pecador, pois é como se este estivesse ressuscitando, depois de experimentar a morte. Não considera o pecador como pessoa de segunda categoria, só porque se desviou do bom caminho. Vale a pena confiar no amor misericordioso de Deus Pai.


Para sua reflexão: Eis a “rainha das parábolas”. Nela temos a partida, a curtição despreocupada, a queda humilhante, as privações, a saudade da casa paterna, o retorno à nova vida, o abraço sem recriminações e a festa. O pai não leva o assunto por via legal, mas se deixa levar pelo afeto paternal. O abraço sela a reconciliação, antes que o filho pronuncie a confissão. É recebido como filho, traje e anel serão os sinais externos. Mas nem todos se alegram com o desfecho, pois alguém não aceita nem compreende a fraqueza do pai. O irmão mais velho, que regressa do trabalho no campo, discorre em termos de retribuição comparativa, protesta contra o irmão e o pai. E o pai, no mesmo terreno, o faz ver que está bem pago convivendo com ele. O irmão mais velho deve aceitar a misericórdia do pai e reconciliar-se com seu irmão arrependido. Paternidade gera fraternidade. O irmão mais velho, neste caso, representa o fariseu como tipo. Para os dias atuais, tem sido difícil o cristão aplicar a misericórdia com o próximo? Como ler, entender e não praticar a Palavra do Senhor?

sexta-feira, 5 de março de 2010

Rejeitaram e sacrificaram Jesus


Leitura orante

Mt 21,33-43.45-46

Jesus disse:
- Escutem outra parábola: certo agricultor fez uma plantação de uvas e pôs uma cerca em volta dela. Construiu um tanque para pisar as uvas e fazer vinho e construiu uma torre para o vigia. Em seguida, arrendou a plantação para alguns lavradores e foi viajar. Quando chegou o tempo da colheita, o dono mandou alguns empregados a fim de receber a parte dele. Mas os lavradores agarraram os empregados, bateram num, assassinaram outro e mataram ainda outro a pedradas. Aí o dono mandou mais empregados do que da primeira vez. E os lavradores fizeram a mesma coisa. Depois de tudo isso, ele mandou o seu próprio filho, pensando: "O meu filho eles vão respeitar." Mas, quando os lavradores viram o filho, disseram uns aos outros: "Este é o filho do dono; ele vai herdar a plantação. Vamos matá-lo, e a plantação será nossa."
- Então agarraram o filho, e o jogaram para fora da plantação, e o mataram.
Aí Jesus perguntou:
- E agora, quando o dono da plantação voltar, o que é que ele vai fazer com aqueles lavradores?
Eles responderam:
- Com certeza ele vai matar aqueles lavradores maus e vai arrendar a plantação a outros. E estes lhe darão a parte da colheita no tempo certo.
Jesus então perguntou:
- Vocês não leram o que as Escrituras Sagradas dizem?
"A pedra que os construtores rejeitaram
veio a ser a mais importante de todas.
Isso foi feito pelo Senhor e é uma coisa maravilhosa!"
E Jesus terminou:
- Eu afirmo a vocês que o Reino de Deus será tirado de vocês e será dado para as pessoas que produzem os frutos do Reino.
Os chefes dos sacerdotes e os fariseus ouviram as parábolas que Jesus contou e sabiam que ele estava falando a respeito deles. Por isso queriam prendê-lo, mas tinham medo da multidão porque o povo achava que Jesus era profeta.

Comentário do Evangelho

Os lavradores maus da parábola

Jesus fala no Templo, ao povo e também aos fariseus e sacerdotes aí presentes. A parábola, adaptada por Mateus, é uma crítica dirigida diretamente aos líderes religiosos. A parábola, tirada do ambiente rural em regime de latifúndios, é muito bem entendida por estes líderes, dentre os quais havia muitos latifundiários. Assim como o proprietário teve suas posses apropriadas pelos agricultores violentos, também os líderes religiosos se apropriaram do povo de Deus para explorá-lo, submetendo-o a sacrifícios. E rejeitaram e sacrificaram Jesus, o Filho de Deus.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Uma nova sociedade baseada nos valores do reino

Lc 16,19-31 - Um convite à conversão
Leitura Orante

Jesus continuou:
- Havia um homem rico que vestia roupas muito caras e todos os dias dava uma grande festa. Havia também um homem pobre, chamado Lázaro, que tinha o corpo coberto de feridas, e que costumavam largar perto da casa do rico. Lázaro ficava ali, procurando matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do homem rico. E até os cachorros vinham lamber as suas feridas. O pobre morreu e foi levado pelos anjos para junto de Abraão, na festa do céu. O rico também morreu e foi sepultado. Ele sofria muito no mundo dos mortos. Quando olhou, viu lá longe Abraão e Lázaro ao lado dele. Então gritou: "Pai Abraão, tenha pena de mim! Mande que Lázaro molhe o dedo na água e venha refrescar a minha língua porque estou sofrendo muito neste fogo!"
- Mas Abraão respondeu: "Meu filho, lembre que você recebeu na sua vida todas as coisas boas, porém Lázaro só recebeu o que era mau. E agora ele está feliz aqui, enquanto você está sofrendo. Além disso, há um grande abismo entre nós, de modo que os que querem atravessar daqui até vocês não podem, como também os daí não podem passar para cá."
- O rico disse: "Nesse caso, Pai Abraão, peço que mande Lázaro até a casa do meu pai porque eu tenho cinco irmãos. Deixe que ele vá e os avise para que assim não venham para este lugar de sofrimento."
- Mas Abraão respondeu: "Os seus irmãos têm a Lei de Moisés e os livros dos Profetas para os avisar. Que eles os escutem!"
- "Só isso não basta, Pai Abraão!", respondeu o rico. "Porém, se alguém ressuscitar e for falar com eles, aí eles se arrependerão dos seus pecados."
- Mas Abraão respondeu: "Se eles não escutarem Moisés nem os profetas, não crerão, mesmo que alguém ressuscite."

Comentário do Evangelho

Esta parábola de Lucas retrata com clareza o abismo que divide os ricos dos pobres, em nossa sociedade. De um lado vemos o rico esbanjando, no gozo da vida. De outro lado o pobre carente sofredor.
O Evangelho não pretende esclarecer o pós-morte, mas sim advertir sobre as opções a serem feitas no mundo, hoje. Não se trata de condenação ou salvação escatológica de indivíduos. Trata-se da condenação e proposta de mudança do sistema socioeconômico, que, hoje, garante a riqueza e o poder de uma minoria oportunista e opressora, às custas da exploração da maioria pobre e sofredora. É o apelo à construção de uma nova sociedade.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Servir e dar a vida para salvar a muitos


Leitura Orante

Mt 20,17-28

Quando Jesus estava subindo para Jerusalém, chamou os discípulos para um lado e falou com eles em particular, enquanto caminhavam. Ele disse:
- Escutem! Nós estamos indo para Jerusalém, onde o Filho do Homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e aos mestres da Lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos não-judeus. Estes vão zombar dele, bater nele e crucificá-lo; mas no terceiro dia ele será ressuscitado.
Então a mãe dos filhos de Zebedeu chegou com os seus filhos perto de Jesus, curvou-se e pediu a ele um favor.
- O que é que você quer? - perguntou Jesus.
Ela respondeu:
- Prometa que, quando o senhor se tornar Rei, estes meus dois filhos sentarão à sua direita e à sua esquerda.
Jesus disse aos dois filhos dela:
- Vocês não sabem o que estão pedindo. Por acaso vocês podem beber o cálice que eu vou beber?
- Podemos! - responderam eles.
Então Jesus disse:
- De fato, vocês beberão o cálice que eu vou beber, mas eu não tenho o direito de escolher quem vai sentar à minha direita e à minha esquerda. Pois foi o meu Pai quem preparou esses lugares e ele os dará a quem quiser.
Quando os outros dez discípulos ouviram isso, ficaram zangados com os dois irmãos. Então Jesus chamou todos para perto de si e disse:
- Como vocês sabem, os governadores dos povos pagãos têm autoridade sobre eles, e os poderosos mandam neles. Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva os outros, e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de vocês. Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente.

Comentário do Evangelho

O amor manifesta-se pelo serviço

Mateus, nesta sua narrativa, faz o contraste entre o anúncio da paixão feito por Jesus e a aspiração ao poder manifestada por seus discípulos Tiago e João, representados por sua mãe. Estes viam Jesus como um messias davídico que iria implantar de imediato um reino nacionalista. A revelação, em Jesus, do Deus de amor entre os humildes e frágeis não tem sido compreendida pelos discípulos, apegados à religião do deus que disputa o poder entre as nações. O amor manifesta-se pelo serviço. A compaixão pelos mais fracos, desamparados e excluídos impele à solidariedade e ao empenho de construir a unidade na sociedade de maneira que todos usufruam plenamente a vida.

terça-feira, 2 de março de 2010

No cume de todas as referências, o Mestre!


Leitura Orante

Mt 23,1-12

Então Jesus falou à multidão e aos seus discípulos. Ele disse:
- Os mestres da Lei e os fariseus têm autoridade para explicar a Lei de Moisés. Por isso vocês devem obedecer e seguir tudo o que eles dizem. Porém não imitem as suas ações, pois eles não fazem o que ensinam. Amarram fardos pesados e os põem nas costas dos outros, mas eles mesmos não os ajudam, nem ao menos com um dedo, a carregar esses fardos. Tudo o que eles fazem é para serem vistos pelos outros. Vejam como são grandes os trechos das Escrituras Sagradas que eles copiam e amarram na testa e nos braços! E olhem os pingentes grandes das suas capas! Eles preferem os melhores lugares nos banquetes e os lugares de honra nas sinagogas. Gostam de ser cumprimentados com respeito nas praças e de ser chamados de "mestre". Porém vocês não devem ser chamados de "mestre", pois todos vocês são membros de uma mesma família e têm somente um Mestre. E aqui na terra não chamem ninguém de pai porque vocês têm somente um Pai, que está no céu. Vocês não devem também ser chamados de "líderes" porque vocês têm um líder, o Messias. Entre vocês, o mais importante é aquele que serve os outros. Quem se engrandece será humilhado, mas quem se humilha será engrandecido.

Comentário do Evangelho

Nas comunidades dos discípulos não se disputam méritos

Temos neste texto uma série de denúncias da prática dos escribas e dos fariseus.
Mateus reúne palavras proferidas por Jesus em seu tempo e as aplica ao contexto de suas comunidades na década dos anos oitenta. Na história de Israel vários profetas denunciaram os abusos e a corrupção dos chefes religiosos.
Os fariseus carregam fardos pesados. Jesus oferece o seu jugo suave e leve. Eles agem para serem vistos e querem receber títulos que lhes dão status social. Jesus propõe a discrição, "que sua mão esquerda não saiba o que a direita faz". Nas comunidades dos discípulos não se disputam méritos, mas vive-se a alegria do serviço e da partilha, na humildade.


segunda-feira, 1 de março de 2010

Experimentar o amor misericordioso de Deus

Lc 6,36-38

Tenham misericórdia dos outros, assim como o Pai de vocês tem misericórdia de vocês.
- Não julguem os outros, e Deus não julgará vocês. Não condenem os outros, e Deus não condenará vocês. Perdoem os outros, e Deus perdoará vocês. Dêem aos outros, e Deus dará a vocês. Ele será generoso, e as bênçãos que ele lhes dará serão tantas, que vocês não poderão segurá-las nas suas mãos. A mesma medida que vocês usarem para medir os outros Deus usará para medir vocês.

Comentário do Evangelho

Perdão e reconciliação

Lucas, em seu Evangelho, caracteriza-se pelo destaque que dá à misericórdia de Deus, revelada em Jesus.
No bojo do conjunto de sentenças proclamadas por Jesus após a proclamação das bem-aventuranças, encontramos: "Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso".
É como que uma grande síntese do Evangelho. Primeiramente, temos aí a revelação da face do Pai: a misericórdia. É a expressão mais plena do amor. Amar apenas os amigos não esgota o amor. O amor pleno é misericordioso, envolvendo também os desprezados e os inimigos. Em segundo lugar, temos aí o grandioso compromisso que nos é proposto: buscarmos o nosso modelo de vida no Pai. E o Pai se revela a nós em Jesus. Quem vê Jesus vê o Pai.
O amor misericordioso remove qualquer julgamento de vingança, superioridade, desprezo ou condenação para com qualquer pessoa. O resultado é o ato de perdão e de reconciliação. Ao fazermos nossa oração do "Pai-Nosso", estamos nos comprometendo diante de Deus em perdoar. "Dai e vos será dado" é o oposto da proposta da sociedade de mercado, em que o lema é tirar o que puder dos mais fracos e dos pobres. O amor misericordioso é o perder a vida para os projetos de sucesso e enriquecimento desta sociedade, para encontrá-la na comunhão de vida com todos os amados por Deus.