segunda-feira, 31 de outubro de 2011

É importante saber interpretar...

Texto retirado Do Portal Diário do Sertão (www.diariodosertao.com.br) 


"O Padre Francisco Batista Neto, que é vigário da Paróquia de São João Bosco enviou ao “Diário do Sertão” uma nota de esclarecimento acerca da idolatria afirmando que a Igreja Católica é contra tal prática. Este tema que vem sendo bastante polemizado, em virtude das declarações do ex-padre Lourival Luiz, que recentemente abandonou a Igreja Católica para ser Protestante na Assembléia de Deus, na cidade de Sousa.

O sacerdote se utiliza de fontes bíblicas para explicar à população, em especial aos fiéis católicos, sobre a má interpretação que ocorreu acerca da idolatria e vem se difundindo na mídia local e regional.

Segundo Padre Neto, os católicos não adoram as imagens, pois “elas são apenas sinais e nada mais". Ele afirma que os católicos esclarecidos só adoram a Deus, e que as imagens nos fazem recordar as boas pessoas que viveram intensamente os ensinamentos de Cristo, sendo caridosos, fraternos e fiéis à palavra.

Confira a seguir, na íntegra


NÃO A IDOLATRIA...


Já no primeiro século São Pedro escreveu aos fiéis, advertindo-os: “Assim como entre o povo (de Israel) houve falsos profetas, do mesmo modo haverá também entre vós falsos doutores, que introduzirão disfarçadamente seitas perniciosas. Eles, renegando assim o Senhor que os resgatou, atrairão sobre si uma ruína repentina. Muitos os seguirão nas suas desordens e serão deste modo a causa de o caminho da verdade ser caluniado....” (II Pd 2, 1-2).

Somos acusados de praticar a idolatria, e muitos usam o texto bíblico de (Ex 20,4)


O mesmo Deus, no mesmo livro do Êxodo, manda Moisés fazer dois querubins de ouro e colocá-los por cima da Arca da Aliança (Ex 25,18-20). Manda-lhe, também, fazer uma serpente de bronze e colocá-la por cima duma haste, para curar os mordidos pelas serpentes venenosas (Num 21,8-9). Manda, ainda, a Salomão enfeitar o templo de Jerusalém com imagens de querubins, palmas, flores, bois e leões (IReis 6,23-35 e 7,29), etc.

Blasfêmia
Seria uma grave blasfêmia desses “crentes” considerar Deus como esclerosado, já que num lugar da Bíblia manda fazer imagens, esquecido que no outro lugar o teria proibido! Ora os primeiros cristãos martirizados aos milhares porque se recusaram a adorar imagens de deuses falsos, estudaram a Bíblia com mais atenção e respeito. Eles não tiravam esses trechos proibitivos de seu contexto e, comparando-os com outros, ficaram convencidos de que Deus proíbe apenas fazer imagens de deuses falsos, e adorá-los, - como faziam os vizinhos pagãos, - mas Ele não proíbe fazer outras imagens.

Além do texto de (Ex 2,2-5). Esta proibição, intencionada por Deus, repete-se em vários lugares da Bíblia, como por ex. “Não adores nenhum outro deus” (Ex 34,14) ou “Não farás para ti deuses fundidos” (Ex 34,17).

Por isso os primeiros cristãos pintaram nas catacumbas muitas imagens das cenas bíblicas do Antigo Testamento, e legaram, para a veneração dos séculos posteriores, as imagens de Cristo-Sofredor, na toalha de Verônica, e no sudário sepulcral, guardado em Turim, na Itália.

“Livro”
Alguns santos dos primeiros séculos afirmavam que as imagens da Bíblia, da Via-Sacra, de Jesus crucificado e dos santos são o único “livro” que também os pobres e analfabetos entendem e aproveitam. Isso vale, ainda hoje, para milhões de pessoas.

O sentido da veneração das imagens, segundo a tradição dos Apóstolos, está resumido nesta bênção de imagens, do Ritual Católico:

“Deus eterno e todo-poderoso, não reprovais a escultura ou a pintura das imagens dos santos, para que à sua vista possamos meditar os seus exemplos e imitar as suas virtudes. Nós vos pedimos que abençoeis e santifiqueis esta(s) imagens(s), feita(s) para recordar e honrar o vosso Filho Unigênito e nosso Senhor Jesus Cristo”.

É importante saber interpretar
Não é certo “pescar” um trecho da Bíblia e fazê-lo dizer o que a gente bem entende, transformando-o em instrumento de guerra. Todo texto bíblico é fruto de uma provocação ou, se quisermos, de um confronto.

Os textos que citamos acima e tantos outros pertencem ao que chamamos de Decálogo e o Decálogo surgiu como resultado de uma provocação ou confronto. O confronto é este: alguns anos antes os hebreus haviam sido libertados da escravidão no Egito. O Egito também tinha sua religião, seus deuses e suas representações de deuses. E o que essa religião, e esses deuses provocavam? Nada mais nada menos do que a escravização e a morte dos hebreus, pois o Faraó era visto e adorado como filho da divindade. Ele, filho de deuses, decreta o fim dos hebreus. E quem tirou os hebreus da escravidão foi Javé.

A Terra prometida, que iria ser conquistada pelos hebreus, era uma terra habitada e ocupada. Aí havia os reis cananeus que se consideravam filhos da divindade, e também aí se faziam representações de deuses que provocavam a morte do povo, dos camponeses.

Muito mais do que uma imagem
Portanto, a idolatria de que fala o Decálogo é muito mais do que uma imagem ou estátua. Idolatria é participar de um projeto de sociedade que provoca sempre mais a escravidão e a morte do povo. O Decálogo é uma proposta de sociedade totalmente diferente do projeto social do Egito e dos reis cananeus. É por isso que o Decálogo proíbe fazer imagens ou representações de Javé, pois facilmente o povo de Deus confundiria Javé com os ídolos dos povos vizinhos.

Tudo aquilo que afastam as pessoas do Deus verdadeiro são ídolos. As imagens não nos afastam, ao contrário ajudam as pessoas a se aproximar Dele. Os ídolos de hoje são outros, basta aprofundar as tentações de Jesus (Mateus 4,1-11 e Lucas 4,1-12).

Sabemos que nenhum cristão é tão ingênuo a ponto de confundir uma imagem de gesso, madeira, metal etc. com a divindade. Menos ainda uma obra de arte, uma pintura. Além disso, os Católicos esclarecidos só adoram a Deus. Os santos não são Deus, mas pessoas que viveram profundamente a vontade de Deus no seu tempo e em suas vidas.

Sinais
Portanto, usar a Bíblia para afirmar que os católicos adoram ídolos é fazer leitura fundamentalista da Bíblia, poderemos até afirmar que Deus permite, sim, fazer imagens.

Não vale a pena usar a Bíblia para brigar uns com os outros. Aliás, essas questões costumam ser resultado de uma leitura desencarnada da Bíblia. E nós devemos desconfiar das propostas religiosas que se baseiam na condenação da fé dos outros. Que valor você dá às religiões ou aos modos de viver a religião que vêem tudo errado nos outros e procuram ganhar pontos em cima disso?

Para os católicos as imagens são apenas sinais, e nada mais. Os santos e as imagens não são o ponto final de nossa fé. São simples indicações.

A idolatria, portanto, é muito mais que um objeto de madeira ou de pedra ou de ferro ou de ouro etc. Idolatria é tudo o que nega ou tira a liberdade e a vida do povo de ontem e de hoje.

Deixemos de briga meus caríssimos e realizemos o desejo de Jesus: “Para que todos sejam um, como Tu, Pai, em Mim e Eu em Ti; para que o mundo creia que Tu Me enviaste” (Jo 17, 21-22) e “que haja um só rebanho e um só Pastor” (Jo 10, 16).

Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13, 34-35).


14 de maio de 2010
Pe. Francisco Neto Batista
Vigário da Paróquia de São João Bosco"


* Postado por: Sérgio Elias de Oliveira

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